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sábado, 6 de janeiro de 2024

A VERDADE SOBRE O CIGARRO ELETRÔNICO!

A verdade sobre o cigarro eletrônico Dr. Neil Skolnik 2 de janeiro de 2024 "Sou o Dr. Neil Skolnik e hoje falarei sobre uma declaração científica publicada pela American Heart Association (AHA) em 2023 sobre o impacto cardiopulmonar dos cigarros eletrônicos. O documento nos pegou de surpresa. A Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos tentou manter a proibição desses dispositivos nos país, com base na lógica de que são ferramentas de administração de medicamentos. Com isso, as fabricantes de produtos relacionados aos cigarros eletrônicos entraram com um processo, que a FDA perdeu no tribunal em 2010. Desde então, o uso dos dispositivos entre os estudantes do ensino médio nos EUA saltou de aproximadamente 1% em 2011 para 10% a 20% nos últimos quatro anos. A grande oferta de produtos de nicotina para uso nos cigarros eletrônicos eclipsou o uso de cigarros comuns entre os jovens (consumidos por cerca de 2% dos alunos do ensino médio). Noções básicas Estou usando o termo para englobar tanto os cigarros eletrônicos como os vaporizadores. O termo usado na literatura científica é “sistemas eletrônicos de liberação de nicotina” (electronic nicotine delivery systems). Nesses sistemas, uma bobina de aquecimento vaporiza o líquido colocado no dispositivo. O líquido geralmente contém um veículo de propilenoglicol e glicerol, além da nicotina. Os aromatizantes são muito comuns e geralmente remetem a frutas, mentol, hortelã e doces em geral. O tetraidrocanabinol (THC) pode ser acrescentado ao líquido, o que costuma ocorrer. O vapor aerossolizado, formado pelo contato do líquido com a bobina de aquecimento, é então inalado. É possível saber mais sobre os sistemas eletrônicos de liberação de nicotina aqui. Efeitos físicos Os componentes dos líquidos usados nos cigarros eletrônicos têm efeitos individuais e combinados. A nicotina se liga aos receptores nicotínicos e seus efeitos são simpaticomiméticos, ou seja, aumentam a frequência, a contratilidade e a carga de trabalho do coração, bem como a pressão arterial; teoricamente, com o tempo isso pode levar ao remodelamento cardíaco, à insuficiência cardíaca e a maior tendência a arritmias. Há evidências de que o propilenoglicol e o glicerol têm efeitos cardiopulmonares diretos em algumas pessoas, como chiado, tosse seca e irritação faríngea. Já os aromatizantes podem ter efeitos variados. Os adoçantes, quando em aerossol, geram aldeídos reativos, considerados os principais responsáveis pelas doenças cardiovasculares induzidas pelo tabagismo e pela doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Outros aromatizantes podem lesar o DNA nos tecidos vasculares e pulmonares. O níquel e o cromo liberados pelo aquecimento também são inalados junto com o aerossol. Foi demonstrado em modelos murinos que eles causam pneumonite e inflamação pulmonar. Além disso, acredita-se que o níquel seja cancerígeno. Tanto os produtos que contêm nicotina como os que não contêm podem aumentar a ativação, a reatividade e a agregação das plaquetas, a rigidez vascular e as espécies reativas de oxigênio, além de diminuir a utilização da glicose no cérebro. As pessoas que usam cigarros eletrônicos têm maior probabilidade de ter tosse crônica, maior produção de catarro e irritação das vias respiratórias altas. Estudos em modelos animais sugeriram que o aerossol pode causar disfunção ciliar nas vias respiratórias e que amostras nasais de pessoas que usam esses dispositivos mostram supressão dos genes de resposta imunitária e inflamatória, sugerindo maior tendência a infecções. Alguns estudos mostram que o cigarro eletrônico induz à obstrução das vias respiratórias. É provável que esse efeito seja maior nas pessoas com predisposição à DPOC. Foram descritos casos de pneumonite eosinofílica, pneumonia por hipersensibilidade e doença pulmonar intersticial. Além dos efeitos adversos comuns, o cigarro eletrônico foi associado a uma nova entidade clínica: a lesão pulmonar associada ao cigarro eletrônico. Até 2020, houve 2.807 hospitalizações e 68 mortes por essa causa nos EUA. Os pacientes apresentam sinais e sintomas inespecíficos, como fadiga e febre, com predomínio de sintomas gastrointestinais, e o desconforto respiratório é um componente importante. A radiografia do tórax costuma mostrar uma aparência em vidro fosco, bilateral, simétrica e difusa. Metade desses casos exigiu internação em unidade de tratamento intensivo. Às vezes nos perguntam se o cigarro eletrônico pode ser usado como auxiliar na cessação do tabagismo. Embora não tenha sido aprovado pela FDA para essa finalidade, a declaração cita uma recente análise da Cochrane mostrando que os produtos com nicotina usado nos dispositivos são cerca de 50% mais eficazes do que o tratamento de reposição de nicotina. Efeitos em longo prazo A maioria dos efeitos adversos conhecidos é de curto prazo, uma vez que os cigarros eletrônicos não existem há tempo suficiente para que sejam conhecidos seus efeitos em longo prazo. Até que esses dados estejam disponíveis, os modelos animais são as melhores ferramentas disponíveis para saber se o cigarro eletrônico aumenta o risco em longo prazo. Esses modelos mostram que os cigarros eletrônicos aumentam o estresse oxidativo, a inflamação e os danos ao DNA, sugerindo que podem aumentar o risco de DPOC e câncer de pulmão. A declaração científica da AHA concluiu que esses efeitos agudos "sugerem que o uso de dispositivos eletrônicos de liberação de nicotina não é benigno e levanta a possibilidade de que os impactos adversos possam se acumular ao longo do tempo". Além disso, o documento observa que os efeitos fisiológicos do cigarro eletrônico são semelhantes aos achados nos estágios iniciais do consumo de cigarros comuns. Meu resumo: fumar cigarros eletrônicos não é uma boa ideia. A nicotina contida nesses produtos os torna viciantes e há efeitos colaterais de curto prazo que variam de leves a muito graves, inclusive internação em unidades de tratamento intensivo. Além disso, a probabilidade de lesão pulmonar, cardíaca e vascular com o passar do tempo é alta." Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape https://portugues.medscape.com/verartigo/6510529?ecd=mkm_ret_240106_mscpmrk-PT_EmAlta_etid6222782&uac=163330CR&impID=6222782#vp_2