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domingo, 30 de janeiro de 2022
INSTITUTO PLURAL: CADEIRA ANFÍBIA
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
GORDURA VISCERAL e RISCO CARDÍACO!
Pesquisadores identificaram que a quantidade de gordura visceral pode contribuir para a estratificação do risco cardiovascular de jovens com obesidade.
Crianças e jovens com sobrepeso importante apresentaram uma discreta associação entre gordura visceral e rigidez das paredes das artérias, independentemente do índice de massa corporal (IMC). Esta associação não ocorreu entre aqueles com peso saudável, possivelmente porque o depósito de gordura visceral era muito pequeno para o efeito ser detectável na saúde cardiovascular, disseram os pesquisadores, que publicaram os achados no periódico Pediatric Obesity .
"As crianças e os jovens com mais gordura visceral tinham artérias mais rígidas, o que pode sobrecarregar o sistema e ter consequências deletérias para a saúde cardiovascular mais adiante", disse ao Medscape o Dr. Joseph M. Kindler, Ph.D., professor assistente de ciências nutricionais da University of Georgia nos Estados Unidos.
Os dados foram obtidos de avaliações transversais de 605 jovens (67% do sexo feminino; 56% não negros) entre 10 e 23 anos de idade realizadas no Cincinnati Children's Hospital Medical Center nos EUA. A amostra foi composta de 236 crianças e jovens com peso saudável, 224 com obesidade e 145 com diabetes tipo 2.
A gordura visceral foi avaliada por densitometria (DXA, sigla do inglês Dual-energy X-ray Absorptiometry), um exame muito utilizado para avaliar a densidade mineral óssea no rastreamento do risco de fratura. Foi usada a velocidade da onda de pulso carotídeo-femoral (VOPcf) para aferir a rigidez arterial, sinal subclínico de doença cardiovascular.
Os pesquisadores constataram que a gordura visceral foi associada à VOPcf nos três grupos (P < 0,05), enquanto a quantidade de gordura subcutânea foi relacionada com a rigidez arterial nos jovens obesos, mas não naqueles cujo peso foi considerado saudável.
A quantidade de gordura foi associada a mais de 1,6% de variação da rigidez arterial nos jovens com obesidade, após considerar o IMC. Contudo, segundo os pesquisadores, a gordura subcutânea parece não influenciar a VOPcf. "Nos jovens com peso saudável, a gordura visceral, a gordura subcutânea, o IMC e a circunferência abdominal não foram associados significativamente à VOPcf em nenhuma análise", escreveram os autores.
Os pesquisadores citaram a escassez de dados sobre a relação entre a gordura visceral e a doença cardiovascular nas crianças e nos jovens com obesidade. Embora o IMC seja um indicador de risco de doença confiável e rapidamente disponível, a densitometria "pode nos dar um pouco mais de informação", disse Dr. Joseph, nutricionista e biólogo especialista em ossos. Quanto ao uso clínico para complementar o IMC e a medida da cintura, o pesquisador disse: "talvez haja espaço para a gordura visceral, mas precisamos de muito mais ciência para embasar essas decisões".
Por exemplo, não sabemos como é o acúmulo normal de gordura visceral durante a infância, disse o nutricionista.
São necessários estudos longitudinais rigorosos para estabelecer a relação de causalidade, porém os novos achados oferecem "uma possível conexão entre a gordura visceral e o risco de doença cardiovascular nos jovens em uma amostra relativamente grande", disse a médica Dra. Wei Shen, diretora associada da unidade de composição do organismo do New York Obesity Nutrition Research Center at Columbia University nos EUA.
Idealmente, disse Dra. Wei, que não participou do último estudo, seria "mais fidedigno usar a medida mais precisa da gordura visceral, a medida do volume da gordura visceral utilizando a ressonância magnética" para estabelecer uma relação causal com o risco cardiovascular. No entanto, a ressonância é mais cara e menos acessível do que a densitometria. Para avaliar a gordura visceral no consultório, "a medida da cintura ainda pode ser uma boa escolha, por ser tão conveniente de usar", acrescentou.
Dr. Joseph e colaboradores destacaram a necessidade de examinar o efeito do excesso de gordura visceral, bem como da gordura intra-hepática nos jovens com diabetes tipo 2 que apresentam complicações cardiovasculares, independentemente de serem obesos. No novo estudo, a existência de uma associação entre a gordura visceral e a rigidez arterial não diferiu entre os jovens com obesidade e glicemia normal e os jovens com obesidade e diabetes tipo 2.
O financiamento do estudo veio de Endocrine Fellows Foundation, the National Institutes of Health e da University of Georgia Obesity Initiative. O Dr. Joseph Kindler e a Dra. Wei Shen informaram não ter conflitos de interesses.
https://portugues.medscape.com/verartigo/6507276?uac=163330CR&faf=1&sso=true&impID=3937921&src=WNL_ptmdpls_220110_mscpedit_gen
INDÚSTRIA DA MORTE CONTINUA ATACANDO!
Médicos preveem epidemia de tabagismo se não houver campanhas para educar jovens e profissionais de saúde
Clarinha Glock
5 de janeiro de 2022
A glamourização dos cigarros eletrônicos promovida por influenciadores digitais, filmes e séries em plataformas de streaming voltadas para o público jovem repete fórmulas antigas de empresas de tabaco para atrair consumidores. Assim como acontecia décadas atrás, quando apareciam fumantes nos filmes de Hollywood e as empresas de cigarros patrocinavam eventos culturais, a nova geração vai pouco a pouco se familiarizando com a adição à nicotina, que parecia superada após o Brasil aderir à Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da Organização Mundial da Saúde (OMS). [1]
Um artigo publicado em 1º de dezembro de 2021 no periódico Global Public Health [2] revela que, em 1976, a indústria do tabaco começou a investir no mercado de jovens brasileiros, buscando atrair consumidores para os cigarros light. A falsa mensagem que chegava aos médicos e à população geral, assim como ocorre hoje em relação aos cigarros eletrônicos, era que o light seria uma alternativa aos cigarros comuns, uma “redução de danos”.
“Cigarro não é um produto inocente. O light surgiu como uma resposta às denúncias de doenças causadas pelo fumo”, afirmou a Dra. Tânia Maria Cavalcante, médica sanitarista e secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. Ela conta que os dados da Convenção mostraram que houve um decréscimo das vendas de cigarros tradicionais mundialmente. “Aí surgiu o mercado do cigarro eletrônico”, informou.
“Algumas estratégias atuais da indústria consistem em voltar a normalizar o uso da nicotina, criar uma falsa distinção entre fumar e vaporizar, e colocar na mídia declarações de cientistas pagos pelas empresas de tabaco para simular controvérsias no meio médico e científico”, disse o Dr. Paulo César Rodrigues Pinto Corrêa, coordenador da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Depois dos vazamentos de documentos internos das empresas nos anos 1980 e, especialmente após 2017, quando o Departamento de Justiça dos Estados Unidos condenou empresas de tabaco a declararem publicamente que haviam enganado a população, ficou claro que havia uma dicotomia entre a face externa de “responsabilidade social” propagada e os prejuízos causados. Na época, as empresas foram condenadas por distorcerem e minimizarem a capacidade da nicotina de causar dependência química; por projetarem os cigarros para criar dependência; por apresentarem de forma falsa cigarros light/com baixo teor de nicotina como menos perigosos; e por negarem o marketing direcionado à juventude e os danos do fumo involuntário. [3]
“A Philip Morris adicionava amônia a uma de suas marcas para liberar mais nicotina, como mostrou o filme The Insider” (em português brasileiro: O Informante), acrescentou o Dr. Paulo, que é coordenador docente no Brasil da iniciativa Education Against Tobacco (EAT). [4] “Os médicos têm obrigação de se informar cientificamente, não aceitar financiamento das indústrias e cobrar a fiscalização”, ressaltou.
A venda de cigarros eletrônicos foi proibida no Brasil pela Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009, [5] mas os produtos são comercializados na internet e há um lobby da indústria pressionando por sua liberação, inclusive no meio político. [6]
“A indústria sabe que a comunicação é essencial para estimular o consumo, e o estudo publicado no Global Public Health mostra como a propaganda captou a necessidade de liberdade do período final da ditadura para atrair a juventude”, explicou o Dr. Paulo. Segundo ele, há uma lacuna em relação ao tema também nos currículos das faculdades, o que torna estudantes de medicina igualmente vulneráveis às divulgações em mídias sociais e à normalização do uso e da disseminação do mito de que é possível usar cigarros eletrônicos para parar de fumar ou reduzir danos.
A frase, que se repete desde os anos 1950, é sempre a mesma: alternativa para quem não pode ou não consegue parar de fumar. “Cigarro eletrônico não é redução de danos: traz danos já conhecidos e outros novos. Portanto, o tratamento consiste em parar de usar cigarro eletrônico ou convencional”, disse o Dr. Paulo.
A doença pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico ou vaping (EVALI, do inglês E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), que levou a mortes nos Estados Unidos, [7] é um novo risco. Segundo o médico, ainda não há estatísticas no Brasil sobre o número de casos. A SBPT divulgou um alerta e solicitou que os profissionais de saúde enviem informações sobre eventuais casos. Pacientes com EVALI podem apresentar sintomas como febre, dor torácica, dispneia, náuseas, diarreia, vômitos e calafrios, bem como alterações na radiografia e tomografia semelhantes às observadas na covid-19. Por isso, o diagnóstico diferencial precisa excluir outras doenças e confirmar se houve exposição ao cigarro eletrônico nos últimos 90 dias.
Há atualmente cigarros eletrônicos com sistema aberto, em que a pessoa manipula o líquido a ser usado; outros com sistema fechado, que incluem refil padronizado; com tabaco aquecido, que utilizam refil de folhas de tabaco. Os que têm sistema fechado “tipo pod”, semelhantes a pendrives, facilitam o uso escondido em escolas. A propaganda os apresenta como produtos tecnológicos, clean. “Tem até vídeos ensinando como aumentar a nicotina do líquido do cigarro eletrônico, alterar os watts, modificar o fluxo de ar e soltar mais fumaça”, observou Dr. Paulo.
A Dra. Tânia, que também é coordenadora da Política Nacional de Controle do Tabaco, enfatizou: todos são prejudiciais à saúde. “O sal de nicotina do JUUL ®, que foi muito usado por jovens norte-americanos, causa até mais dependência que os cigarros tradicionais – não há nível seguro”, salientou. Além disso, os filamentos que fazem a vaporização são cobertos por metais como níquel e cromo, que causam câncer de pulmão e paranasais. “É preciso olhar para o futuro. Está na hora de proibir qualquer veículo de nicotina que encha nossos pulmões de lixo”, afirmou.
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