Pesquisadores identificaram que a quantidade de gordura visceral pode contribuir para a estratificação do risco cardiovascular de jovens com obesidade.
Crianças e jovens com sobrepeso importante apresentaram uma discreta associação entre gordura visceral e rigidez das paredes das artérias, independentemente do índice de massa corporal (IMC). Esta associação não ocorreu entre aqueles com peso saudável, possivelmente porque o depósito de gordura visceral era muito pequeno para o efeito ser detectável na saúde cardiovascular, disseram os pesquisadores, que publicaram os achados no periódico Pediatric Obesity .
"As crianças e os jovens com mais gordura visceral tinham artérias mais rígidas, o que pode sobrecarregar o sistema e ter consequências deletérias para a saúde cardiovascular mais adiante", disse ao Medscape o Dr. Joseph M. Kindler, Ph.D., professor assistente de ciências nutricionais da University of Georgia nos Estados Unidos.
Os dados foram obtidos de avaliações transversais de 605 jovens (67% do sexo feminino; 56% não negros) entre 10 e 23 anos de idade realizadas no Cincinnati Children's Hospital Medical Center nos EUA. A amostra foi composta de 236 crianças e jovens com peso saudável, 224 com obesidade e 145 com diabetes tipo 2.
A gordura visceral foi avaliada por densitometria (DXA, sigla do inglês Dual-energy X-ray Absorptiometry), um exame muito utilizado para avaliar a densidade mineral óssea no rastreamento do risco de fratura. Foi usada a velocidade da onda de pulso carotídeo-femoral (VOPcf) para aferir a rigidez arterial, sinal subclínico de doença cardiovascular.
Os pesquisadores constataram que a gordura visceral foi associada à VOPcf nos três grupos (P < 0,05), enquanto a quantidade de gordura subcutânea foi relacionada com a rigidez arterial nos jovens obesos, mas não naqueles cujo peso foi considerado saudável.
A quantidade de gordura foi associada a mais de 1,6% de variação da rigidez arterial nos jovens com obesidade, após considerar o IMC. Contudo, segundo os pesquisadores, a gordura subcutânea parece não influenciar a VOPcf. "Nos jovens com peso saudável, a gordura visceral, a gordura subcutânea, o IMC e a circunferência abdominal não foram associados significativamente à VOPcf em nenhuma análise", escreveram os autores.
Os pesquisadores citaram a escassez de dados sobre a relação entre a gordura visceral e a doença cardiovascular nas crianças e nos jovens com obesidade. Embora o IMC seja um indicador de risco de doença confiável e rapidamente disponível, a densitometria "pode nos dar um pouco mais de informação", disse Dr. Joseph, nutricionista e biólogo especialista em ossos. Quanto ao uso clínico para complementar o IMC e a medida da cintura, o pesquisador disse: "talvez haja espaço para a gordura visceral, mas precisamos de muito mais ciência para embasar essas decisões".
Por exemplo, não sabemos como é o acúmulo normal de gordura visceral durante a infância, disse o nutricionista.
São necessários estudos longitudinais rigorosos para estabelecer a relação de causalidade, porém os novos achados oferecem "uma possível conexão entre a gordura visceral e o risco de doença cardiovascular nos jovens em uma amostra relativamente grande", disse a médica Dra. Wei Shen, diretora associada da unidade de composição do organismo do New York Obesity Nutrition Research Center at Columbia University nos EUA.
Idealmente, disse Dra. Wei, que não participou do último estudo, seria "mais fidedigno usar a medida mais precisa da gordura visceral, a medida do volume da gordura visceral utilizando a ressonância magnética" para estabelecer uma relação causal com o risco cardiovascular. No entanto, a ressonância é mais cara e menos acessível do que a densitometria. Para avaliar a gordura visceral no consultório, "a medida da cintura ainda pode ser uma boa escolha, por ser tão conveniente de usar", acrescentou.
Dr. Joseph e colaboradores destacaram a necessidade de examinar o efeito do excesso de gordura visceral, bem como da gordura intra-hepática nos jovens com diabetes tipo 2 que apresentam complicações cardiovasculares, independentemente de serem obesos. No novo estudo, a existência de uma associação entre a gordura visceral e a rigidez arterial não diferiu entre os jovens com obesidade e glicemia normal e os jovens com obesidade e diabetes tipo 2.
O financiamento do estudo veio de Endocrine Fellows Foundation, the National Institutes of Health e da University of Georgia Obesity Initiative. O Dr. Joseph Kindler e a Dra. Wei Shen informaram não ter conflitos de interesses.
https://portugues.medscape.com/verartigo/6507276?uac=163330CR&faf=1&sso=true&impID=3937921&src=WNL_ptmdpls_220110_mscpedit_gen
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