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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A MULHER NO ESPELHO!

 

A mulher no espelho: reflexo de uma doença potencialmente fatal

Michelle E. Grady

NOTIFICAÇÃO 

29 de janeiro de 2021

Quando uma mulher de 47 anos com esquizofrenia compensada deu entrada na Smell and Taste Research Clinic, nos Estados Unidos, o Dr. Justin Virk não imaginava que este seria um dos casos mais incomuns de sua carreira.

A paciente disse para o Dr. Justin que toda vez que se olhava no espelho, sua imagem se movia e falava, independentemente do que ela estivesse fazendo. O reflexo lhe dava ordens, dizendo como ela deveria se vestir e arrumar o cabelo.

Além disso, a paciente tinha uma sensação intensa de paranoia ao dirigir, especialmente ao olhar para o retrovisor. Esta paranoia, disse o Dr. Justin ao Medscape, representou um sofrimento importante para a paciente e, por fim, a incapacitou.

Inicialmente, Dr. Justin e seu mentor, o médico Dr. Alan Hirsch, suspeitaram de síndrome de Fregoli, doença na qual os pacientes têm alucinações se vendo à sua frente. Entretanto, uma alucinação autoscópica que só se manifesta no espelho "nunca foi descrita antes", disse Dr. Justin.


O contexto específico das alucinações da paciente sugeria disfunção da rede visual em termos de percepção ou reconhecimento visual. Os Drs. Justin e Alan levantaram a hipótese de que ela poderia ter um distúrbio neurológico comprometendo os lobos parietal ou occipital.

Eles fizeram um exame neurológico completo, bem como de neuroimagem – ambos revelaram alterações.

"O Mini-Mental State Exam (MMSE) beirou o fracasso. Ela não conseguia lembrar quatro de quatro objetos sem reforço e, mesmo com o reforço, só lembrava de dois", disse Dr. Justin.


Sua acuidade visual foi de 20/40 nos dois olhos sem óculos, ela tinha ptose bilateral e seus reflexos diminuíram de + 2 nos membros superiores e inferiores para 0 em apenas algumas semanas, acrescentou.
Os exames de sangue tinham alterações, como baixos níveis de cloreto e altos níveis de proteína, como baixa concentração de ácido fólico nas hemácias. Os resultados do exame de urina também estavam alterados. Nos exames de imagem do sistema nervoso central, os médicos descobriram um glioblastoma de estágio IV.

Curiosamente, o tumor estava no lobo frontal do cérebro, não na região occipital ou parietal, o que explicaria as alucinações. "Se fosse nessas regiões, então poderíamos entender facilmente as alucinações, porque isso atingira as vias visuais", disse Dr. Justin.

Os clínicos pensaram então que, como o tumor estava localizado na região frontal, poderia estar induzindo uma disfunção secundária em outras partes do cérebro – um mecanismo conhecido como diásquise.

"Nossa teoria era que, uma vez que o tumor estava em outro lugar no cérebro, poderia induzir disfunção secundária em outras partes do cérebro", disse Dr. Justin.


Como esse caso era tão raro e havia tão pouca literatura disponível para orientá-los, os médicos tentaram ajustar o antipsicótico da paciente, sem resultados.


"Embora naturalmente a tenhamos encaminhado para um oncologista, também fizemos estes ajustes e a acompanhamos para ver se haveria melhora ou deterioração. Não houve nada. Também nos perguntamos se deveríamos prescrever anticonvulsivantes, porque ela tinha uma lesão cerebral com efeito de massa. Este foi outro grande desafio, mas como tínhamos tão pouco material, nos baseamos no que sabíamos em vez de fazer experimentos com a paciente" disse o médico.


O neurocirurgião da paciente determinou que o tumor era inoperável e recomendou quimioterapia. Entretanto, apesar do tratamento, o tumor permaneceu, e as alucinações autoscópicas continuaram ocorrendo.


"Seu prognóstico é reservado, dada a natureza desse câncer, e continuamos seu tratamento com antipsicóticos, bem como com quimioterapia antineoplásica", disse Dr. Justin.


O Dr. Justin observou que este foi um dos casos mais incomuns da síndrome delirante de identificação incorreta que ele e o Dr. Alan já viram.


"Não temos muita informação sobre essas síndromes", disse, acrescentando que acredita que são mais comuns do que as evidências sugerem. O Dr. Justin suspeita que muitos pacientes não falam dessas síndromes com os seus médicos, o que destaca a importância de ter uma forte relação médico/paciente.


"Se tivéssemos mais pessoas para pesquisar e escrever sobre esses casos, isso certamente nos traria mais opções de tratamento, porque agora estamos restritos aos antipsicóticos, o que é um enorme desafio para nós", disse o médico.


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Citar este artigo: A mulher no espelho: reflexo de uma doença potencialmente fatal - Medscape - 29 de janeiro de 2021.











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