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quarta-feira, 3 de julho de 2013

NO PAÍS DA ROSEMARY: MÉDICOS RESIDENTES e a SÍNDROME DE BURNOUT

Médico residente em pediatria tem prevalência de Burnout
Ressonância definiu áreas estimuladas no cérebro nas situações da síndrome
Mais da metade dos médicos residentes de pediatria participantes de um estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) apresentaram síndrome de Burnout, que é uma condição de sofrimento psíquico ocupacional. A pessoa com Burnout tem cansaço excessivo, desânimo para realizar suas tarefas, sensação de que o que faz não tem propósito e frustração com o trabalho que tem de desempenhar.
Segundo a autora da pesquisa, a médica pediatra Anarella Penha Meirelles de Andrade, do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, a  síndrome pode causar deterioração da relação médico-paciente. “Isso não foi avaliado no meu estudo, mas a relação do médico com o paciente e também com a equipe multidisciplinar pode ficar prejudicada.” Os participantes da pesquisa, que começou em 2009, estavam no 1º e 2º ano de residência.
Anarella escolheu médicos residentes aos quais presta assistência no setor do Departamento de Pediatria da FMUSP. Dentre 40 pessoas contatadas, 32 consentiram a realização da pesquisa por meio de um questionário padronizado para investigação do Burnout. O formulário envolve temas como satisfação com o trabalho, excesso na jornada e influência do trabalho na própria individualidade, entre outros. As pontuações variam numa escala de: nunca, algumas vezes ao ano, algumas vezes ao mês, algumas vezes por semana e diariamente.
Os voluntários também foram submetidos a exames de ressonância magnética funcional, que avalia o padrão de ativação cerebral de áreas específicas do cérebro ante a estímulos. No caso da pesquisa, os voluntários fizeram um teste de atenção chamado Stroop Color Word Test, que apresenta conflitos de informações justamente para verificar a intensidade da reação aos desafios propostos. Nesta etapa, 4 voluntários foram excluídos da pesquisa, pois apresentavam achados anatômicos que impediam comparação com os demais.
Estudo inovador
As imagens da ressonância funcional mostraram que as regiões do cérebro (especificamente no córtex pré-frontal dorso lateral direito) apresentaram maior sinal de estímulo nos voluntários com Burnout do que nos que não apresentavam a síndrome. Essas áreas estão relacionadas à realização de tarefas cognitivas ou que exijam atenção. “Significa que o voluntário gasta mais “energia” para ativar regiões do cérebro, ou seja, quem tem Burnout precisa estimular mais essas áreas de atenção para realizar a mesma tarefa. O estudo é inovador porque não existiam padrões de ressonância funcional para pacientes com Burnout.”

Anarella diz que iniciar sua pesquisa com residentes foi interessante porque ela poderá prosseguir com as avaliações e verificar se há mudança conforme a evolução da carreira desses médicos. Ela aplicou, ainda, um questionário para determinação de estresse, não especificamente relacionado ao Burnout, e também teve prevalência alta como resposta: 56% dos 32 médicos investigados na fase final estavam estressados ou apresentavam sintomas de estresse.
Para a alta prevalência de Burnout, no qual as condições trabalhistas são determinantes, Anarella destaca alguns fatores no cenário estudado: a necessidade e dificuldade em de lidar com os pacientes e a família deles, a carga horária de 60 horas semanais, a necessidade de tempo para estudar e a inabilidade em conciliar a vida profissional e a vida pessoal. Na Pediatria, segundo ela, muitas vezes, lidar com os pais da criança que precisa ser atendida causa tensão aos médicos recém-formados. Anarella disse que essa percepção se constrói com a experiência. “Lidar com isso é um desafio.”
Quanto ao excesso de horas trabalhadas, a médica diz: “53% dos participantes do estudo trabalhavam além da residência.” O problema, segundo Anarella, é que fora da residência esses médicos não são supervisionados e há comprometimento do tempo de aprendizado e descanso.
Um fator interessante é que os resultados apontados mostraram que, nos 14 voluntários sem Burnout, 5 praticavam atividade física. No entanto, nos residentes com a síndrome, nenhum praticava exercícios. Isso leva à compreensão de que a prática de atividades físicas ajuda a evitar o estresse no trabalho.

Para aliviar os efeitos da síndrome e do estresse, algumas iniciativas são sugeridas, como acompanhamento de terapeutas e psicólogos. “No entanto”, diz a médica “poucos residentes procuram, por desconhecimento do serviço ou por acharem que o que estão sentindo é normal.” O mestrado foi orientado pelo professor Claudio Schvartsman, da FMUSP.
Imagens: Cedidas pela pesquisadora

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