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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

ALTA NÃO É SUPERAÇÃO TOTAL!

 Impacto da covid-19 não termina com a alta!

Pacientes com covid-19 que sobrevivem à hospitalização não deixam a doença para trás após serem liberados para casa, visto que um percentual significativo de pessoas morreram dentro de 60 dias após a alta – com o fato de terem sido internadas em uma unidade de terapia intensiva (UTI) tendo aumentado esse risco, de acordo com um estudo observacional realizado em 38 hospitais de Michigan, nos Estados Unidos. E mais, muitos foram impactados por questões emocionais e de saúde, variando desde readmissão hospitalar até perda de emprego e problemas financeiros.


"Esses dados confirmam que a conta da covid-19 se estende bem além da hospitalização, um achado consistente com as sequelas de longo prazo da sepse e de outras doenças respiratórias virais graves", segundo o primeiro autor do estudo, Vineet Chopra, da University of Michigan, Ann Arbor, nos EUA, e colaboradores (Ann Intern Med. 11 de novembro de 2020: doi: 10.7326/M20-5661).


Os pesquisadores constataram que 29,2% de todos os pacientes hospitalizados por covid-19 de 16 de março a 1º de julho morreram. O estudo de coorte observacional incluiu 1.648 pacientes com covid-19 hospitalizados em 38 hospitais de Michigan participantes de uma colaboração estadual.


A maior parte das mortes ocorreram durante a hospitalização: 24,2% dos pacientes (N = 398). Dos 1.250 pacientes que receberam alta, 78% (N = 975) foram para casa e 12,6% (N = 158) foram para um centro de enfermagem especializado; não foram encontrados os dados sobre os demais (117 pacientes). Dentro de 60 dias da alta, 6,7% (N = 84) dos sobreviventes hospitalizados morreram e 15,2% (N = 189) foram readmitidos. Os pesquisadores reuniram os dados de 60 dias após a alta via pesquisa telefônica, contactando 41,8% (N = 488) dos pacientes que receberam alta.
Os desfechos foram ainda piores para pacientes que internados em UTI. A taxa de mortalidade desse grupo foi de 10,4% (17 de 165) após a alta. Isso resultou em uma taxa de mortalidade geral no estudo de 63,5% (N = 257) para os 405 pacientes que estiveram na UTI.Embora os dados do estudo pertençam à primeira onda do novo coronavírus, os achados possuem relevância atual, disse a Dra. Mary Jo Farmer, médica e diretora do serviço de hipertensão pulmonar no Baystate Health, nos EUA.


"Essa é a melhor informação que temos até o momento", ela disse. "Temos que continuar a manter a mente aberta e esperar que essa informação possa mudar, na medida em que o vírus possivelmente sofre mutações enquanto se dissemina, e devemos continuar avaliando esse tipo de desfecho com 90 dias, 120 dias, etc."

A mediana de idade dos pacientes do estudo foi de 62 anos, com uma variação de 50 a 72 anos. As três principais comorbidades entre os pacientes que receberam alta foram hipertensão (N = 800; 64%), diabetes (34,9%; N = 436) e doença cardiovascular (24,1%; N = 301).

Os desfechos negativos após a alta não se restringiram a mortalidade e readmissão. Quase 19% (N = 92) relataram surgimento ou piora de sintomas cardiovasculares, como tosse ou dispneia; 13,3% tiveram anosmia persistente; e 12% (N = 58) referiram maior dificuldade na execução das atividades cotidianas.

Os efeitos tardios não foram exclusivamente físicos. Quase metade dos pacientes que receberam alta (48,7%, N = 238) relataram sequelas emocionais e quase 6% (N = 28) buscaram atendimento psiquiátrico. Dentre os 40% (N = 195) que estavam empregados antes de serem hospitalizados, 36% (N = 78) não puderam retornar ao trabalho por conta de problemas de saúde ou licenças. Sessenta por cento (N = 117) dos pacientes empregados que receberam alta voltaram ao trabalho, mas 25% (N = 30) o fizeram com horas reduzidas ou funções de trabalho diferentes por conta dos problemas de saúde.

Os problemas financeiros também tiveram impacto. Mais de um terço (36,7%; N = 179), relataram algum impacto financeiro associado com a hospitalização. Cerca de 10% (N = 47) disseram que utilizaram a maior parte ou a totalidade de suas economias e 7% (N = 35) disseram que precisaram economizar na compra de comida ou medicamentos.

Os pesquisadores relataram que um em cada cinco pacientes não tiveram um atendimento na atenção primária em dois meses após a alta.

"Coletivamente, esses achados sugerem que precisamos de melhores modelos para atender aos sobreviventes da covid-19", disseram Vineet e colaboradores.

A evolução dos pacientes após a alta contempla dois obstáculos, disse o Dr. Sachin Gupta, médico especialista em pneumologia e terapia intensiva no Alameda Health System, nos EUA: superar a hospitalização em si e a fase de recuperação.

"Quando se observa a mediana de idade dos sobreviventes, os pacientes idosos que sobrevivem a uma internação ainda terão um período de recuperação, e, como em qualquer doença viral que leve a internação, quando se tem um paciente idoso com comorbidades, nem todos superam esse segundo desafio."

O especialista concordou com os autores do estudo sobre um melhor atendimento pós-alta para pacientes com covid-19. "Geralmente existe, embora não em todos os hospitais, um processo de planejamento de alta genérico", disse o Dr. Sachin. "Para pacientes mais idosos, especialmente com comorbidades, o acompanhamento próximo após a alta é importante."

A Dra. Mary observou que um desafio no acompanhamento após a alta pode ser de recursos humanos. "Os profissionais podem estar com medo dos pacientes que tiveram covid-19 – eles permanecem contagiosos? e se os sintomas de covid-19 retornarem, como tosse seca e febre? – e de contraírem a doença", disse ela.

Os achados relacionados com a condição emocional dos pacientes que receberam alta devem ser levados em conta no plano de alta, ela acrescentou. "Os profissionais de atendimento pós-hospitalar precisam ser instruídos sobre o impacto emocional da doença (por exemplo, os pacientes podem se sentir esquecidos ou achar que ninguém quer chegar perto deles) para ajudarem em sua recuperação."

Vineet e Dra. Mary informaram não ter conflitos de interesses. O Dr. Sachin é funcionário e acionista da Genentech.

FONTE: Chopra V et al. Ann Intern Med. Publicado em 11 de novembro de 2020. doi: 10.7326/M20-5661.

Esse conteúdo foi originalmente publicado em Chest Physician.

https://portugues.medscape.com/verartigo/6505693?nlid=138715_4183&src=WNL_ptmdpls_201214_mscpedit_gen&uac=163330CR&impID=2736696&faf=1#vp_2

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