Um dos grandes desafios para tratar a diabetes tipo I é conseguir células capazes de produzir insulina e substituir as células que pararam de produzi-la. Para isso é preciso entender qual é o processo que determina que células-tronco tornem-se células endócrinas – produtoras de hormônios. E em seguida que produzam insulina. Pesquisas anteriores já mostraram que um fator fundamental para que essa primeira diferenciação ocorra é que as células expressem um fator denominado Neurog3+. Entretanto observou-se que células Neurog3+ não são encontradas só no pâncreas, mas também no estômago e intestino. Por que então só produzem insulina no pâncreas? Seria possível ampliar seu raio de ação?
Uma pesquisa recente publicada na revista Nature Genetics (março de 2012) desenvolvida pelos doutores Chutima Talchai e Domenico Accili da Columbia University, nos EUA, mostra que é possível induzir células do intestino a produzir insulina. Pelo menos em camundongos.
Recordando…
A diabetes tipo I é uma doença autoimune onde há destruição das células do pâncreas que produzem insulina. Doenças autoimunes são aquelas onde o sistema imunológico de uma pessoa não reconhece certas células ou tecidos de seu próprio corpo e os destroi como se fossem agentes infecciosos. Por que isso ocorre ainda é uma incógnita para a ciência, mas existem inúmeras doenças, além da diabetes tipo I, que são causadas por esse mecanismo. Entre elas podemos citar a esclerose múltipla, algumas formas de reumatismo, alergias etc…
Células produtoras de insulina
As células progenitoras que irão produzir a insulina originam-se da endoderma (parte interna do embrião). São caracterizadas por expressar o marcador Neurog3+. Elas diferenciam-se em dois tipos de células: as do intestino que vão secretar hormônios necessários às funções intestinais tais como os peptídeos gástricos e as células pancreáticas, que vão produzir insulina. O que determina que as células progenitoras Neurog3+ sigam um caminho ou o outro ainda é uma incógnita. Por outro lado sabe-se que existe um determinado gene, FOXO1, que regula produtos (fatores de transcrição) relacionados com a produção de insulina.
O que os Drs. Talchai e Accili descobriram?
Que algumas das células progenitoras Neurog3+ do intestino têm o potencial de se diferenciar em células produtoras de insulina. Ao analisarem essa células verificaram que nelas o gene FOXO1 estava suprimido ou inativo. Para comprovar que era realmente esse gene ou a sua ausência que determinava se as células iriam ou não produzir insulina fizeram vários experimentos no laboratório e em camundongos. A prova final foi a demonstração que a ablação do gene FOXO1 em camundongos diabéticos permitiu que as células Neurog3+ do intestino passassem a produzir insulina e reverteram os sinais de hiperglicemia.
Quais são as dificuldades e perspectivas?
Embora seja possível diferenciar em laboratório células-tronco embrionárias em células produtoras de insulina, essas células não são apropriadas para transplante porque elas não liberam insulina em resposta a glucose. Portanto se injetadas em um paciente elas poderiam liberar esse hormônio em excesso causando hipoglicemia e até a morte.
Nesse sentido, a recente pesquisa dos cientistas da Universidade de Columbia representa um grande avanço. As células intestinais reprogramadas para produzir insulina teriam a propriedade de produzir insulina em resposta aos níveis sanguíneos de glucose, que é o esperado. Se for possível aplicar essa estratégia em seres humanos será um passo muito importante no tratamento da diabetes.
A torcida, sem dúvida, é grande.
Por Mayana Zatz - http://veja.abril.com.br/blog/genetica/
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