A ciência a favor dos esportes: pesquisa cria protocolo de treinamento para lutas
Danielle Kiffer
Fotos/Divulgação |
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O analisador metabólico avalia o ar
respirado pelo atleta durante esforço físico
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A cada ano que passa, as lutas vêm caindo cada vez mais no gosto dos brasileiros, especialmente o MMA (
Mixed Martial Arts), em português, Artes Marciais Mistas. A procura e adesão de novos adeptos só aumenta na medida em que a modalidade cresce mundialmente, revelando grandes talentos brasileiros. Porém, segundo o pesquisador Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, da Universidade Federal Fluminense (UFF), faltam estudos específicos para estabelecer parâmetros fisiológicos para o treinamento de lutas. Em virtude disso, o projeto “Perfil aeróbico de praticantes de esportes de combate: avaliação do gasto energético de treino e propostas de protocolo específico para avaliação da capacidade aeróbica” foi desenvolvido no Laboratório de Ciências da UFF, coordenado por Antonio Nóbrega. Unindo ciência e esportes, Nóbrega está desenvolvendo um protocolo de avaliação do consumo de oxigênio direcionado às artes marciais – inicialmente para as modalidades de judô, taekwondo e boxe. O estudo tem apoio da FAPERJ por meio do edital de
Apoio ao Desenvolvimento de Inovações no Esporte no Estado do Rio de Janeiro. “O treinamento de luta deve ser personalizado, de acordo com as características individuais de cada atleta. Desta forma pode-se explorar e desenvolver o melhor de cada um. Com isso, estamos estimulando a prática de esportes no estado e possibilitando que nossos lutadores fluminenses tenham mais destaque nas competições esportivas”, afirma Antonio Claudio. O pesquisador explica que lutadores com melhores condições aeróbicas são aqueles cujos músculos têm melhor aproveitamento da energia do oxigênio, o que os torna mais resistentes; outros têm maior capacidade anaeróbica, ou seja, têm mais potência e velocidade durante o combate, sendo capazes de sustentar a força mesmo quando o organismo acumula ácido lático durante o exercício intenso.
Para estabelecer o protocolo, o pesquisador está fazendo testes de avaliação funcional em 30 atletas, com idade entre 18 e 35 anos. Todos eles passaram por avaliações clínicas, que incluem uma anamnese – histórico pessoal, incluindo hábitos, antecedentes familiares, histórico de participação em atividades esportivas, uso de medicação e qualquer queixa física –; exames clínicos, investigando o aparelho cardiorrespiratório e osteomuscular; verificação da pressão arterial; e exames de sangue.
Numa segunda etapa, eles passam por uma avaliação metabólica, em que se avaliam condições cardiopulmonares num exercício de esteira. Nesse teste, o atleta precisa correr durante 10 minutos, dando o máximo de esforço. Por um bocal, que leva o ar respirado para o analisador metabólico, se avalia a quantidade de oxigênio consumido e de gás carbônico expelido. “Nesta etapa, verificamos a capacidade cardiorrespiratória do indivíduo e sua capacidade de ressíntese de adenosina trifosfato (ATP), composto químico que fornece energia necessária para a realização dos exercícios e é armazenado nas células musculares. Na etapa seguinte, o atleta é submetido a uma avaliação mais específica, uma simulação de luta, em que se analisa o ar por ele respirado depois de 20 repetições de golpes básicos, em cada modalidade de luta.
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Para criar o protocolo de treinamento, os atletas foram avaliados durante corrida e treinamento de luta |
Durante atividades físicas, o organismo inicialmente utiliza o oxigênio para ressintetizar o ATP que armazena a energia usado nas contrações. Porém, quando o atleta vai ficando cansado e sua capacidade aeróbica não é mais capaz de fornecer energia para ressintetizar o ATP necessário ao exercício (quando ficamos com aquela sensação de estarmos sem fôlego), o organismo passa a transformar, com urgência, o carboidrato presente no organismo em ácido lático (o responsável pelas dores musculares). Isso acontece como forma de resgatar a energia necessária para ressintetizar a adenosina de trifosfato. "No caso das lutas, é melhor que o atleta demore o maior tempo possível para começar a acumular ácido lático. E que, uma vez que já esteja em metabolismo lático, seja capaz de manter a potência muscular. O protocolo de avaliação que estamos construindo é inédito no mundo e poderá indicar quais são as características que devem ser priorizadas pelo treinador durante a preparação do atleta.", explica Antonio Claudio. "Por isso o desenvolvimento deste protocolo é tão importante. É a partir dele que podemos destacar o melhor e o pior de um atleta e desenvolver suas aptidões em treinamentos individualizados", ressalta. Já foram testados 17 atletas de taekwondo. O pesquisador pretende repetir os mesmos padrões para os desportistas de judô e boxe e explica que deseja contribuir para que o dito legado dos Jogos Olímpicos para o estado se dê também na forma de maior conhecimento sobre a fisiologia do exercício.
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