Inventor de olho biônico tem parceria com pesquisadores brasileiros
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Pesquisadores brasileiros ajudaram a criar o primeiro olho biônico, aprovado
no mês passado nos EUA, e agora colaboram em outro projeto que usa
células-tronco da retina para recuperar a visão.
A revelação é do inventor do olho biônico, o engenheiro biomédico Mark
Humayun, 50, que mantém uma parceria de 15 anos com o departamento de
oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Em entrevista exclusiva à Folha, o professor da Universidade do Sul da
Califórnia afirma que seu maior desafio tem sido administrar a expectativa das
pessoas sobre a nova tecnologia. "Não podemos alimentar falsas esperanças"
O olho biônico Argus II não restaura completamente a visão, mas permite que
pessoas com uma doença rara que leva à cegueira (retinose pigmentar) detecte
faixas de pedestres, presença de pessoas e grandes números e letras.
Ao menos 60 pessoas na Europa e nos EUA já usam o aparelho, a maioria
subsidiada por programas governamentais. A tecnologia aguarda registro da Anvisa
para ser comercializada no Brasil.
Espécie de Professor Pardal, Humayun tem cem patentes registradas em seu
nome, entre elas bombas de insulina para diabéticos e dispositivos cerebrais.
Ze Carlos Barretta/Folhapress | ||
Mark Humayun, pesquisador americano que inventou olho biônico recém aprovado pela FDA |
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Folha - O que o inspirou na criação do olho biônico?
Mark
Humayun - Minha avó ficou cega por complicações da diabetes e, naquela
época, pensei que poderia fazer algo para ajudá-la.
Quando foi isso e quais obstáculos o sr. enfrentou?
Há 25 anos,
quando começamos com essa ideia, colocar um computador dentro dos olhos era
ficção científica. Nos primeiros anos, havia pouco dinheiro, pouco
apoio.
Para mudar isso, passamos a colocar o aparelho por 30, 45 minutos nos
olhos de cegos, com anestesia local, e perguntar o que eles estavam vendo. O
fato é que puderam ver um eletrodo dentro do olho e, então, acreditamos que
poderíamos construir uma retina artificial.
O olho biônico custa US$ 100 mil. O sr. acredita que, com o tempo, ficará
mais acessível?
O aparelho possibilita a visão por ao menos dez anos. São
US$ 10 mil por ano. Por esse prisma, não é tão caro. Mas acredito que, com
melhores técnicas de fabricação, poderemos torná-lo mais barato. Temos que
lembrar que foram investidos US$ 200 milhões para desenvolvê-lo. Então, US$ 10
mil dólares por mês não é muito.
O aparelho não restaura completamente a visão. Ele deve ser
aprimorado?
Ele permite identificar objetos grandes, como portas,
contorno de corpos. Isso é uma grande coisa. Mas os usuários não podem
reconhecer um rosto ou ler como nós lemos. A tecnologia deve melhorar cada vez
mais.
Ele poderá ser usado em pessoas com outras doenças, como a degeneração
macular?
Não temos essa resposta. Teoricamente, só precisamos melhorar a
tecnologia.
Em quanto tempo?
O primeiro modelo do aparelho levou 15 anos para
ser desenvolvido. O segundo, sete. Estamos aprendendo rápido e, em três ou
quatro anos, teremos um novo modelo.
Qual o principal desafio ainda a ser enfrentado?
Administrar a
expectativa das pessoas. Todo mundo ouviu sobre o olho biônico e todo mundo
quer. Precisamos ser muito claros sobre o perfil de pessoas que serão
beneficiadas com ele. Não podemos alimentar falsas esperanças. Ele não pode ser
usado em doenças em que o nervo óptico foi lesionado ou em condições em que não
há mais células viáveis da retina.
O Brasil teve participação neste projeto?
O Brasil tem um grande
papel na pesquisa. Tenho recebido pesquisadores brasileiros no meu laboratório
nos EUA, e eles contribuíram muito desde o início.
O sr. desenvolve outra pesquisa, em parceria com a Unifesp, que envolve
uso de células-tronco. Do que se trata?
O olho biônico tenta restaurar a
visão perdida, já as pesquisas com célula-tronco pretendem recuperar a retina
que está morrendo.
São células-tronco que se diferenciam in vitro em células
do epitélio pigmentar e são colocadas numa membrana. A hipótese é que colocar
essas células debaixo da retina vai dar a nutrição para as outras células se
manterem ou melhorarem. Estamos na fase pré-clínica. Os primeiros pacientes
precisam ser aprovados pelo FDA. Isso deve acontecer em 2014.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Visão 'high-tech' Aparelho ajuda quem tem retinite pigmentosa, que afeta 1 em 4.000 |
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1247395-inventor-de-olho-bionico-tem-parceria-com-pesquisadores-brasileiros.shtml
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