Risco de sufocamento: outra razão para evitar suplementos alimentares
Nos Estados Unidos, as pessoas gastam 30 bilhões de dólares por ano com vitaminas e outros suplementos, mas existem questões de eficácia e segurança. Uma recente "revisão guarda-chuva" de estudos randomizados de vitaminas e suplementos mostrou que o uso destes produtos não tem efeito sobre a mortalidade geral, conforme o artigo publicado em 09 de julho no Medscape . Estudos observacionais, que tendem a mostrar resultados positivos, podem apresentar viés de seleção, com indivíduos mais saudáveis, afirmaram os pesquisadores.
Os resultados da nova pesquisa sugerem que a asfixia por pílulas de suplementos é um risco evitável.
A Food and Drug Administration (FDA) norte-americana fornece orientações sobre o tamanho das cápsulas e comprimidos dos medicamentos genéricos, restringindo-os a até 17 mm em uma única dimensão, ou que não exceda o tamanho do medicamento de marca correspondente. Nenhum produto, genérico ou de marca, pode exceder 22 mm. Mas os suplementos alimentares não estão sujeitos a essa verificação.
Dra. Cecile Punzalan, médica da FDA, e colaboradores pesquisaram problemas de deglutição associados ao uso de suplementos alimentares, considerando fatores como o tamanho da pílula. Eles consultaram uma década de dados de notificações de eventos adversos submetidos ao Center for Food Safety and Applied Nutrition Adverse Event Reporting System (CAERS) da FDA – de 1º de janeiro de 2006 a 31 de dezembro de 2015.
Os pesquisadores mediram as dimensões da pílula, classificaram os produtos de acordo com ingredientes ou razões comuns de uso, e observaram o sexo e a idade das pessoas que apresentavam dificuldade para deglutir. Eles excluíram publicações sobre múltiplos suplementos, pós e líquidos.
Durante a década analisada pelo o estudo, os CAERS receberam notificações de 20.791 eventos adversos causados por comprimidos ou cápsulas de suplementos alimentares e 3.962 (19,1%) para problemas de deglutição. O grupo de estudo foi desproporcionalmente feminino, respondendo por (85,6%) dos relatos de eventos adversos envolvendo deglutição de suplementos, e a dificuldade de engolir foi responsável por 25,4% de todas as notificações ao CAERS entre as mulheres.
A idade também foi um fator de risco para dificuldade de engolir comprimidos ou cápsulas de suplementos. Dos 64,5% dos relatos de problemas de deglutição que incluíram a idade do paciente, 76,8% eram de pessoas com 65 anos ou mais.
A dificuldade de deglutição mais citada foi sufocamento (86,0%) e 14,3% destes relatos descreveram eventos adversos graves, incluindo três mortes decorrentes de obstrução das vias aéreas ou aspiração associada à tentativa de engolir um comprimido grande e duro.
A segunda dificuldade de deglutição mais relatada foi trauma por corpo estranho, com 7,8%.
A pesquisa identificou os produtos com maior probabilidade de causar sufocamento. Multivitamínicos foram os mais perigosos, respondendo por 72,9% (2.889) das notificações, com suplementos de cálcio e produtos de "saúde óssea" em segundo, com 17,3% (687).
Em seguida foram os suplementos para alívio da dor ou artrite com 2,3% (93), saúde cardiovascular com 1,7% (67), "outro especificado" com 1,7% (67), imunidade ou infecção/resfriado com 1,3% (50), vitaminas com ingrediente único ou minerais (não cálcio) com 1,2% (48) e outros não especificados com 1,5% (61).
Os pesquisadores também avaliaram os 10 principais suplementos indicados nas notificações de eventos adversos para problemas de deglutição, que representam 76,4% (3.026). O comprimento médio da pílula, a largura e a altura desses produtos foram: 19,3 mm, 9,8 mm e 7,8 mm, respectivamente.
"Os 10 produtos identificados com mais frequência em relatos de complicações com a deglutição ultrapassam 17 mm de comprimento", concluíram os pesquisadores.
Sete dos 10 principais produtos foram multivitamínicos comercializados para idosos ou suplementos de cálcio. Um multivitamínico para idosas foi implicado em 40,6% das notificações de problemas de deglutição.
Os pesquisadores apontam que até 35% dos idosos tomam multivitamínicos e até 24% tomam suplementos de cálcio, e que a população idosa tem taxas mais altas de disfagia e outras limitações alimentares em comparação com pessoas mais jovens. Eles oferecem sugestões para reduzir os riscos com esses suplementos.
Os fabricantes podem oferecer formas de dosagem menores ou adicionar revestimentos que facilitem a deglutição, e os pacientes podem solicitar aos profissionais de saúde e farmacêuticos alternativas para evitar o problema com suplementos rígidos, como mudar para versões gelatinosas.
As limitações do estudo incluem a ausência de informações sobre a frequência de consumo dos produtos, a contabilização dos pacientes que não relataram problemas de deglutição e a aplicabilidade a outras populações.
"No entanto, esses dados identificam um dano específico – o sufocamento – que pode ser evitável, particularmente em idosos que tomam suplementos alimentares regularmente", concluíram os pesquisadores.
Os pesquisadores informaram não ter relações financeiras relevantes.
Ann Intern Med. Publicado on-line em 19 de agosto de 2019. Abstract
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