Pesquisar este blog

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

NO PAÍS DA ROSEMARY: JUÍZES ACEITAM PRESENTES DA INICIATIVA PRIVADA


MINISTRO FALCÃO














J
Juízes devem ser imparciais. Quando aceitam presentes de cidadãos interessados em
conquistar a sua boa vontade, a imparcialidade é ameaçada.
Essa é uma afirmação aparentemente tão óbvia que deve espantar o leitor a
necessidade de fazê-la. No entanto, é preciso registrar, com esperado aplauso da
plateia, o fato de que só agora o Conselho Nacional de Justiça está agindo para
 impedir ações e situações que criem benefícios de qualquer natureza para magistrados, em óbvias tentativas de conquistar a sua boa vontade.
Há poucos dias, o ministro Francisco Falcão, corregedor do CNJ, propôs ao plenário
que proíba  o patrocínio, por empresas privadas, de congressos e quaisquer outros
eventos de magistrados. É lamentável que essa medida seja necessária, já que a
Constituição já proíbe aos juízes aceitar presentes de quem quer que seja.
E isso tem acontecido. No fim do ano passado, a Associação Paulista de Magistrados,
 numa festinha de confraternização, sorteou brindes aos juízes. E não eram
presentinhos: incluíam passagens para cruzeiros e um automóvel. O leitor pode
decidir se os generosos doadores gastaram seu dinheiro por singela e desinteressada
admiração pela toga, ou se estavam simplesmente fazendo um investimento na boa
vontade dos tribunais. 

É saudável e meritório que a indignação com esse, digamos assim, investimento dos
 doadores tenha partido do próprio Judiciário. A proibição proposta pelo ministro
Falcão, no entanto, não foi ainda aprovada: um pedido de vista do ministro Carlos
Alberto Reis de Paula interrompeu a votação. Além disso, três entidades que
representam juízes reclamaram
 por não terem sido consultadas: defendem o patrocínio e pediram que o assunto seja aberto
a nova discussão. Pode-se desconfiar que seja uma tentativa de atenuar a iniciativa moralizadora de Falcão - ou de colocá-la em banho-maria indefinidamente.
Há um precedente negativo: há pouco tempo, a então corregedora do CNJ, Eliana
Calmon, tentou proibir os patrocínios provados de eventos e festinhas de juízes, mas seus companheiros no conselho derrubaram a sua proposta. A opinião pública gostaria muito de conhecer os argumentos usados para isso.
Falcão pode ter certeza de que a turma da arquibancada torce por ele e por Eliana.


FONTE: LUIZ GARCIA - Jornal: O GLOBO
Editoria: Opinião  - Tamanho: 363 palavras -Edição: 1 Página: 11 Caderno: Primeiro Caderno






Nenhum comentário:

Postar um comentário