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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TABAGISMO: ESCOLHA ou PROBLEMA?

PAULA JOHNS

Tabagismo: uma escolha individual ou um problema de saúde pública?
Você ainda fuma e continua bem de saúde? Então, parabéns! Está sobrevivendo a uma batalha feroz. Mas não se engane: sua sorte pode não durar muito. Por ano, no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de seis milhões de pessoas são vitimadas pelo tabagismo. O hábito de fumar, de uma forma ou de outra, geralmente acaba por vencer quem insiste em se manter nesta trincheira. Se pudéssemos reunir todas as vítimas num único lugar, seria como se a população inteira de uma megametrópole como o Rio de Janeiro sumisse do mapa a cada ano, vencida pelo tabagismo. No Brasil, anualmente, são 130 mil casos, o equivalente a um Maracanã daqueles abarrotados de gente, como nos bons tempos de Fla-Flus com casa cheia.
Os dados, sem dúvida, apontam para uma guerra inglória. No século XX, foram aproximadamente 100 milhões de vítimas do tabagismo, e as estimativas para o XXI, caso as tendências atuais se mantenham, é de um bilhão de mortes. Nem todas as guerras do século XX, somadas, tiraram tantas vidas. Para a comunidade global de saúde pública, o uso do tabaco é considerado uma pandemia – uma epidemia que se espalha por todo o planeta. Porém, com o volume de informações que recebemos hoje, cabe a pergunta: o tabagismo é uma escolha individual ou um problema de saúde pública?
Há quem defenda a liberdade de escolha e considere as campanhas antitabagistas exageradas. Porém, são inquestionáveis os males trazidos pela indústria do tabaco desde que ela surgiu, há menos de cem anos. A partir da expansão de um negócio muito lucrativo, que vende uma droga barata de produzir e com a alta capacidade de deixar o usuário rapidamente dependente. Outro fator determinante foram os investimentos pesados em publicidade: durante décadas, o tabaco foi exaustivamente promovido como passaporte para beleza, felicidade, sucesso e glamour. Portanto, o tema vai muito além da escolha individual. Apenas este triângulo – droga barata, rápida dependência e muita publicidade – parece o suficiente para abandonarmos a ideia de escolha individual.
Mas há ainda outro dado da OMS, que chama atenção para a questão de o tabagismo ser ou não uma escolha consciente: 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos. Nessa idade, quase ninguém costuma colocar na balança os prós e contras desta opção para depois tomar a “decisão inteligente”, como diziam as propagandas de cigarros. Finalmente, embora inegavelmente prazeroso para quem fuma, será que é possível falar em liberdade de escolha quando se trata de uma droga com altíssimo poder de causar dependência química, física e emocional? É comum ouvir os fumantes dizerem que se sentem perseguidos ou marginalizados em função das leis antifumo. No entanto, as medidas regulatórias visam colocar limites na indústria do tabaco e não nos fumantes.
Seja o fumo decisão consciente ou não, a boa notícia é que há luz no fim do túnel. Todos têm direito a ajuda para parar de fumar.  E graças ao conjunto de medidas que vem sendo adotadas pelo Brasil nos últimos anos, foi possível reduzir o consumo de cigarros de 38% em 1989 para 17% em 2008. Mesmo assim, ainda são 25 milhões de fumantes no país, e uma parcela significativa destes gostaria de parar de fumar, mas não consegue.
O fato é que, para os cofres públicos, oferecer tratamento ao fumante é muito mais barato do que tratar as doenças causadas pelo fumo. Segundo pesquisa da Fiocruz, o Brasil gasta aproximadamente R$ 21 bilhões por ano apenas com os custos diretos com o tratamento de doenças causadas pelo fumo. Isso corresponde a aproximadamente um terço do orçamento do Ministério da Saúde (MS), dados de 2011. Por esse motivo, o INCA, órgão do MS responsável pelo Programa Nacional de Tabagismo, tem trabalhado ativamente para melhorar a capacidade de atendimento aos fumantes.
Se você acha que chegou a hora de desativar a bomba-relógio acionada, muitas vezes, lá na adolescência, informe-se. Há cada vez mais caminhos para sanarmos esse problema de saúde pública. Nunca é demais lembrar: o tabagismo é diretamente responsável por 30% dos casos de câncer, 90% dos de câncer de pulmão, 25% das doenças coronarianas, 85% dos casos de doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por doença cerebrovascular.
FONTE: Rede ACT - Revista do SESC - Out/novembro/2012
Texto de Paula Johns, Socióloga - Diretora da ACT – Aliança de Controle do Tabagismo 
Olho: “O tabagismo é uma epidemia de saúde que surgiu na sociedade há menos de cem anos por causa da expansão de um negócio muito lucrativo. O de vender uma droga barata de produzir e que deixa o usuário dependente muito rapidamente”

PAULA JOHNS
Diretora Executiva
(21) 2255-0520, 7864-3971

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