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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

Na próxima semana, 77 estudantes brasileiros e estrangeiros envolvidos com pesquisas relacionadas às imunodeficiências primárias terão oportunidade de interagir, em São Paulo, com alguns dos principais especialistas do mundo na área.
A São Paulo Advanced School on Primary Immunodeficiencies: Unraveling Human Immuno-Physiology será realizada entre os dias 28 de novembro e 4 de dezembro pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em parceria com o Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal.
O evento será organizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio lançada pela FAPESP em 2009 e realizado no Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas.
De acordo com a coordenadora do evento, Magda Carneiro-Sampaio, professora do Departamento de Pediatria da FMUSP, o número de inscrições na ESPCA superou em muito as expectativas. O representante do Instituto Gulbenkian na coordenação é o professor António Coutinho.
“Originalmente seriam oferecidas 50 vagas, sendo metade para estudantes brasileiros e metade para estrangeiros. Mas a demanda foi tão grande que resolvemos aumentar as vagas na medida do possível. Teremos 28 estudantes estrangeiros, 39 da capital paulista e dez de outras cidades”, disse à Magda à Agência FAPESP.
Entre os estudantes de outros países, haverá participantes da Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, Venezuela, Costa Rica, México, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Portugal, Turquia e Finlândia.
Segundo Magda, a ESPCA terá uma parte prática laboratorial relacionada a genômica, na qual haverá demonstração de técnicas usadas no estudo da fisiopatologia do sistema imune humano, destacando-se técnicas de genômica funcional e transcriptoma."Esta parte prática está sob a responsabilidade do professor Carlos Alberto Moreira, da FMUSP, e será ministrada inteiramente com equipamentos cedidos pela FAPESP", afirmou.
Embora as inscrições para a ESPCA estejam encerradas, interessados no tema ainda poderão se inscrever para o Curso Básico sobre Imunodeficiências Primárias, que precederá a programação principal do evento.
O curso, voltado para pediatras, será apresentado em português e ocorrerá no sábado (27/11) e no domingo (28/11), também no Instituto da Criança. “Alguns dos 19 conferencistas da ESPCA já estarão no Brasil e também participarão do curso voltado para os clínicos”, disse a pesquisadora.
Segundo Magda, a autoimunidade – distúrbio que leva as defesas do organismo a uma autoagressão – manifesta-se com frequência nas doenças genéticas que abalam o sistema imune. As imunodeficiências primárias seriam, portanto, “experimentos da natureza” úteis para ajudar a compreender os mecanismos moleculares, celulares e sistêmicos da autoimunidade.
Como as imunodeficiências primárias são em geral monogênicas, elas são estudadas principalmente a partir de modelos animais nos quais são feitos “nocautes”, ou seja, determinados genes são “ligados” e “desligados” a fim de compreender os mecanismos da doença. A proposta da Escola é complementar essas pesquisas a partir do estudo de casos clínicos.
“A Escola tem foco na fisiopatologia: queremos investigar essas doenças a fim de compreender a fisiologia do sistema imune humano. Esses pacientes são ‘nocautes’ naturais, por isso representam uma oportunidade única para entender a imunologia humana”, disse Magda.
A professora explica que, a partir de um levantamento dos prontuários de pacientes do Hospital das Clínicas, foram caracterizados e identificados 910 pacientes com imunodeficiências primárias.
“Unindo o trabalho de pediatras e médicos de adultos, o HC tem uma experiência notável com esses pacientes. Não conheço nenhum centro que possua dados sobre um grupo tão numeroso de doenças: são quase 150 patologias diferentes. Temos aí ‘nocautes’ de todo tipo que se possa imaginar para respostas de doenças imunes”, afirmou.
Poucos diagnósticos
Estudos recentes realizados nos Estados Unidos indicam que as imunodeficiências primárias não são doenças raras. Naquele país, há 250 mil pessoas diagnosticadas com imunodeficiências primárias em uma população de cerca de 310 milhões de pessoas.
“Estima-se que há, portanto, cerca de uma pessoa em cada 1,2 mil com o problema diagnosticado naquele país. No Brasil, não temos estudos populacionais nesse tema, mas é possível que tenhamos de 120 mil a 150 mil pessoas com esse tipo de problema. Os casos diagnosticados aqui, no entanto, não passam de 2 mil”, afirmou.
Segundo ela, esses números indicam que o campo das imunodeficiências primárias tem uma importância crescente. “Hoje, elas já são consideradas doenças importantíssimas em pediatria, exatamente porque constituem as doenças de base de muitas manifestações clínicas pediátricas, como as infecções de repetição”, disse.
Mais informações sobre a ESPCA: www.fapesp.br/espca
(Fonte: Fábio de Castro-FAPESP)

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