Ásia ganha força como novo 'Eldorado' do consumo de cerveja
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Saira Syed
Da BBC em Cingapura
Atualizado em 10 de
setembro, 2012 - 04:54 (Brasília) 07:54 GMT
Fabricada na Ásia há mais de 7 mil anos, a cerveja só se
estabeleceu de vez no paladar dos asiáticos nos últimos anos, quando o
continente ultrapassou a Europa e as Américas como o maior consumidor da bebida
no mundo.
Eleita pelas fabricantes de cerveja como um novo eldorado do
consumo, a região também apresenta o mercado que mais cresce, reflexo de uma
população jovem, ambiciosa e cada vez mais hedonista.
Uma amostra disso pode ser observada em uma visita noturna
aos restaurantes da rua Lau Pa Sat, no distrito financeiro de Cingapura, onde
em pleno meio da semana o clima já é de festa. Parte da rua fica bloqueada,
ocupada por clientes sentados do lado de fora, envoltos na fumaça de vários
espetinhos grelhados.
Executivos, famílias e turistas se deliciam com a comida,
enquanto uma banda toca ao vivo canções pop e garçonetes percorrem as meses
equilibrando cinco copos de cerveja de uma vez nas bandejas.
"É muito bom ter uma cerveja gelada para beber com uma
comida picante", diz Ben, um turista de Hong Kong, enquanto sua esposa e
filhos se divertem com o número de pratos na mesa.
Embora esta parte do mundo não seja particularmente
conhecida por produção de cerveja, sua população bebe cada vez mais.
A Ásia ainda fica atrás da Europa no consumo per capita. A
República Checa lidera a lista, segundo a consultoria Euromonitor, com 174
litros por adulto em 2011 - seguido pela Irlanda e sete outros países europeus.
A África do Sul está na 10ª posição e os EUA, em 11º. O
Japão é o primeiro país asiático a figurar na lista, no número 41, com
"apenas" 64 litros.
Mas, quando se analisam os números absolutos, a Ásia
ultrapassou a Europa e as Américas em 2007.
Em 2011, o continente bebeu 67 bilhões de litros de cerveja,
contra 57 bilhões nas Américas e 51 bilhões na Europa, de acordo com a
Euromonitor.
Além disso, enquanto mercados maduros permanecem estagnados,
a Euromonitor prevê que o consumo de cerveja deverá crescer 4,8% nas regiões da
Ásia-Pacífico a cada ano entre 2011 e 2016.
Cerveja e prosperidade
Especialistas creditam alto consumo de cerveja na Ásia à prosperidade da população. |
Parte da razão para o alto consumo é o crescimento da
população e o grande número de jovens da Ásia.
Mas especialistas também creditam o fenômeno ao aumento da
prosperidade verificado em muitos países asiáticos nos últimos anos.
"Há uma clara correlação entre o consumo de cerveja e o
forte crescimento econômico", diz Nirgunan Tiruchelvam, analista de
consumo da consultoria Standard Chartered.
"As pessoas tendem a beber cerveja em tempos de
crescimento. Mas, em relação aos destilados, verifica-se uma tendência
diferente. Elas tendem a consumi-los tanto nos bons quanto nos maus
momentos", acrescentou Tiruchelvam.
Durante a Grande Depressão dos anos 30, o consumo de cerveja
caiu, explica o especialista, enquanto os destilados não foram afetados
significativamente.
Não é surpresa, portanto, que a cerveja seja comercializada
a nível mundial com slogans como "o rei dos bons tempos", lema da
cervejaria indiana Kingfisher.
"É o fator 'efervescente'", diz Tiruchelvam.
"É o que acontece com os refrigerantes. Quando as pessoas estão se
divertindo procuram uma cerveja.", exemplifica.
"Os destilados, entretanto, não tem a mesma verve
hedonista", diz.
A cerveja Tiger é uma das mais vendidas em Cingapura, no
Sudeste Asiático.
A principal responsável por levar a Ásia à liderança da Liga
Internacional de bebedores de cerveja é a China.
Na maioria dos países, as vendas de cerveja vieram
acompanhadas da prosperidade econômica. Na China, isso aconteceu nos anos 80 e
90. O país ultrapassou os Estados Unidos em 2003.
A China também é hoje o maior produtor de cerveja do mundo,
com 44 bilhões de litros produzidos em 2010, seguida dos EUA (23 bilhões de
litros), Brasil (12 bilhões de litros) e Rússia (10 bilhões de litros).
Snow, uma marca de cerveja chinesa, é a mais vendida do
mundo, segundo os especialistas de varejo da consultoria Plato Logic, mas
praticamente não é consumida fora do país.
Os países com o maior potencial de crescimento na região são
Vietnã, Camboja e Laos, onde, segundo as últimas estimativas da Euromonitor, o
consumo deve crescer 9% ao ano entre 2011 e 2016.
Influência ocidental
Mas nem todo mundo parece assistir com bons olhos o
fenômeno. O crescimento é muitas vezes atribuído à crescente influência
ocidental.
Maiores consumidores de cerveja do mundo (consumo per
capita, em litros)
República Checa (174)
Irlanda (148)
Áustria (123)
Alemanha (123)
Estônia (122)
Polônia (116)
Bélgica (112)
Eslovênia (111)
Lituânia (111)
África do Sul (109)
Fonte: Euromonitor
Em Cingapura, onde existe uma espécie de "imposto
contra o vício", que visa a desencorajar o consumo excessivo de álcool,
quem fica bêbado em público pode ser punido com uma multa de até US$ 1 mil (R$
2 mil) e até um mês de prisão.
Um artigo publicado no Jornal de Medicina de Cingapura em
julho deste ano revelou que o consumo de álcool no país cresceu a níveis
alarmantes, duplicando de 1992 a 2004 e podendo se equiparar ao consumo
americano nos próximos anos.
A publicação argumenta que os excessos alcoólicos, "que
são já uma epidemia em muitos países ocidentais", também estão aumentando.
O estudo recomenda a criação de um órgão nacional para
resolver o problema e limitar a publicidade de álcool, mas nada parece estar
desestimulando os consumidores de Cingapura.
Uma tendência recente no país é um maior interesse em
cervejas mais caras, também chamadas de "premium".
"A população mais rica vai escolher os sabores mais
interessantes e exóticos das cervejas premium", diz Goh Han Peng,
responsável por analisar o consumo para a consultoria DMG and Partner
Securities.
Bares da moda
Apesar de ser a cerveja mais bem vendida da China, a Snow
quase não é conhecida fora do país.
Na área da rua Arab Street, em Cingapura, os icônicos
armazéns de dois andares foram transformados quase todos em restaurantes e
bares.
Ali está localizado o Bier Wit, que vende marcas de cerveja
importadas principalmente da Bélgica, Alemanha e Austrália.
Dennis Chan, um dos proprietários, disse que espera um
crescimento da demanda por cervejas estrangeiras porque as pessoas têm vontade
de provar algo "diferente".
As cervejas artesanais também estão na moda.
Scott Baczek, do bar-restaurante Pump Room, em Cingapura,
produz quatro variedades de cerveja durante todo o ano e uma cerveja sazonal
extra.
Baczek vê o interesse crescente por cerveja pela população
do sudeste da Ásia como uma grande oportunidade.
"Se você está sentado do lado de fora em uma tarde de
domingo quente em Cingapura, você provavelmente vai querer algo para saciar a
sede, levemente encorpada, com um toque seco, provavelmente não uma cerveja
robusta imperial, mas sim uma leve", afirma.
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