ATENÇÃO, SENHORES E SENHORAS!
Misturar álcool e cafeína pode até ser a moda do momento, mas uma série de casos envolvendo estudantes e muitos outros que foram parar no hospital após ingerir bebidas que combinam as duas substâncias numa só latinha tem alarmado faculdades e profissionais de saúde. As bebidas são perigosas, dizem os médicos, porque a cafeína mascara o efeito do álcool, fazendo com que os consumidores não notem o quanto então embriagados.
Uma marca conhecida como Four Loko – bebida maltada artificialmente com 12% de teor alcoólico e nível de cafeína quase equivalente ao de uma xícara de café – tem sido examinada com atenção depois que alunos da Faculdade de Ramapo em Mahwah, Nova Jersey, e da Universidade Central de Washington, em Ellensburg, ingeriram a bebida e foram parar no pronto-socorro, alguns com altíssimo nível de intoxicação alcoólica.
"Essa é uma das misturas de álcool mais perigosas que já vi", afirma Michael Reihart, médico do pronto-socorro do Hospital Geral de Lancaster, na Filadélfia, que disse ter tratado mais de uma dúzia de adolescentes e adultos nos últimos três meses que chegaram ao hospital depois de ter bebido a Four Loko. "É a receita para um desastre, pois a defesa natural do nosso corpo é relaxar e não querer mais beber, mas nesse caso você está enganando seu organismo com a cafeína."
Após a exigência de dezoito procuradores, a Food and Drug Administration (FDA), que nunca comprovou a segurança da mistura de cafeína com álcool, está analisando se as bebidas não trazem danos à saúde. Em julho, o senador democrata Charles Schumer, de Nova York, solicitou que a Comissão Federal do Comércio investigasse se as bebidas, que possuem embalagens coloridas e sabores artificiais de melancia, framboesa e limão, são "explicitamente desenvolvidas para atrair menores de idade". Órgãos legislativos de diversos estados tentam banir as bebidas, mas nenhuma lei foi decretada ainda.
Efeitos mais rápidos
Neste mês, Peter Mercer, reitor da Faculdade Ramapo, proibiu a venda e o consumo da Four Loko e de outras bebidas energéticas que misturam cafeína e álcool depois que seus estudantes foram internados por causa delas. Um deles admitiu ter bebido “três latas de Four Loko e várias doses de tequila num período de uma hora". "Não vejo nenhum motivo para se consumir bebidas como esta", afirma ele. "O alvo é o mercado voltado para o público jovem e inexperiente e tem o único propósito de deixá-los bêbados muito mais rápido."
Chris Hunter, co-fundador e sócio da Phusion Projects, empresa há cinco anos no mercado e dona da Four Loko, disse na semana passada que a bebida, lançada em agosto de 2008, estava sendo injustamente discriminada. A empresa toma precauções para evitar que o produto não seja acessível para menores, disse ele. "A ingestão imprópria e o abuso do álcool e consumo de bebidas por menores de idade são problemas que o mercado enfrenta e todos nós gostaríamos de abordar", disse Hunter. "A discriminação ou proibição da venda de um único produto ou categoria não vai resolver o problema, mas a conscientização, sim."
A Phusion Projects questiona o motivo de uma investigação policial sobre a Four Loko após o incidente ocorrido na Universidade Central de Washington, quando, de acordo com o parecer da polícia, uma série de bebidas alcoólicas, incluindo cerveja, vodca e rum, também foram encontradas na festa onde os alunos estavam. Rob McKenna, procurador em Washington, disse que muitos dos alunos presentes na festa misturaram álcool a outras bebidas. Alguns dos que chegaram a ser hospitalizados haviam ingerido apenas Four Loko. "Você tem um produto que faz com que as pessoas não percebam a quantidade de álcool que ingerem", conta McKenna.
Alunos de várias universidades dizem que a Four Loko e outras bebidas similares estão ficando populares por causa do baixo preço e alto teor alcoólico, embora não tenham gosto de álcool. "Você pode ficar bêbado com cinco dólares," conta Christine Binko, aluna que está no primeiro ano da Universidade de Boston e diz sempre ver latinhas de Four Loko espalhadas pelas ruas próximas ao campus nos fins de semana. "Mas acredito que essas bebidas deixam as pessoas mais agressivas." Christine e muitos outros alunos demonstraram estar precavidos sobre os efeitos das bebidas.
'Gosto horrível'
Na Universidade Xavier em Cincinnati, Adam Stowe, um aluno do segundo ano, disse que sempre havia Four Loko nas festas, mas a maioria das pessoas bebe apenas uma lata para começar a noite tomando algo mais forte, e depois logo mudam para a cerveja. "Já provei uma vez e o gosto é horrível", conta ele. Também sob investigação está a Joose, bebida alcoólica que possui cafeína e é fabricada pela United Brands, de San Diego. Ela vem na mesma embalagem em lata que a Four Loko, mas com teor alcoólico mais baixo (9,9%). De acordo com Michael Michail, presidente da empresa, ela possui menos cafeína. Michail disse que cada latinha de Joose contém 54 miligramas de cafeína; Hunter disse que as latinhas de Four Loko têm 156 miligramas.
"É ridículo dizerem por aí que nosso alvo é o público menor de idade", afirma Michail. "Nós conhecemos as leis e as respeitamos." Tanto Michail como Hunter disseram que suas bebidas vinham em latas de 600 mililitros, pois esse era o padrão das bebidas maltadas. Michail disse estar pensando em mudar para uma embalagem menor; Hunter conta que os consumidores da Four Loko já podem escolher entre a versão com teor alcoólico de 12% ou 6%. A primeira, porém, ainda é a mais popular. A Four Loko e a Joose são comercializadas em 47 estados.
Hunter disse que sua empresa expandiu a venda para dez desses estados em apenas três meses. "Temos várias partes dos rótulos que identificam a bebida como sendo alcoólica", diz ele. "Vamos além das exigências do mercado."
Especialistas dizem que as latinhas da Four Loko lembram as embalagens de chá gelado e de refrigerante e são facilmente confundidas com produtos não-alcoólicos. "Conversei com muitos pais de alunos que ficaram chocados ao saber que as latinhas que estavam na geladeira eram bebidas que continham álcool", disse Reihart. "É muito parecido com os isotônicos comuns."
(Fonte:The New York Times-Site Veja/sis.saude)
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