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domingo, 2 de setembro de 2012

AIDS: EM SILÊNCIO avança entre jovens e mulheres



Ao desconhecer ou ignorar o terror dos primeiros anos da síndrome, parcelas da população assumem comportamentos de risco.
 
Existe uma geração que viu amigos, ídolos e parentes sucumbirem rapidamente à fúria da aids. Outra, de jovens, não chegou a conhecer a face cruel da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, transmitida pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), pois já nasceu após a descoberta dos medicamentos antirretrovirais, poderosos aliados na luta contra o enfraquecimento do sistema imunológico. Com os efeitos devastadores da aids longe dos olhos e com os veículos de comunicação divulgando apenas campanhas pontuais, a população passou a subestimar a importância da prevenção. 

O resultado não podia ser outro: nos últimos anos, tem ocorrido uma mudança no perfil da população infectada pelo HIV ou convivendo com a aids. Jovens e mulheres estão cada vez mais suscetíveis. Em 1989, segundo dados do Ministério da Saúde, o País registrava seis casos de aids em homens para um caso em mulheres. Em 2010, esta proporção passou de 1,7 caso masculino para um feminino. 

Quanto à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade, prevalece a sexual. Nas mulheres, 83,1% dos casos registrados em 2010 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 42,4% dos casos se deram por relações heterossexuais, 22% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical (quando o filho é infectado pela mãe na gestação). 

Em se tratando de adolescentes, as mulheres infectadas, proporcionalmente, já são maioria. O problema, segundo especialistas, não está na falta de informação desta parcela da população, mas na falta de estímulo para aderir ao preservativo, único recurso seguro capaz de evitar a contaminação pelo vírus. 

Maria Helena Vilela, enfermeira da área de saúde pública e diretora executiva do Instituto Kaplan, organização não governamental que trabalha há mais de 20 anos com educação sexual em todo o País, confirma que uma das grandes dificuldades é que a aids, para o jovem de hoje, é uma doença virtual. ''Como ela leva quase 10 anos para se manifestar, é raro um jovem se deparar com outro que esteja doente de aids. Com isso as pessoas não veem, ainda na juventude, o risco concretizado.'' 

Já a gravidez, lembra a educadora sexual, é algo mais presente na vida dos jovens deste início de século. ''Eles se previnem mais por medo de uma gestação do que da aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)'', constata Maria Helena. Com três décadas de experiência na área, ela destaca que o jovem de hoje tem muita informação, mas muitas vezes não consegue usá-la em seu benefício e aplicá-la na sua prática sexual. ''É preciso possibilitar ao jovem que vivencie situações semelhantes àquelas em que ele correria o risco de se infectar com o vírus, como dinâmicas de grupo que permitam a manipulação do preservativo'', defende. 

Tanto que o Instituto Kaplan criou um preservativo gigante, que fez parte da exposição ''Por Dentro da Camisinha'', durante o IX Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e Aids, encerrado na última sexta-feira, em São Paulo. A ideia foi permitir que o público entrasse na estrutura e vivenciasse os maiores mitos e preconceitos que envolvem o uso do preservativo, conhecendo inclusive as bactérias causadoras da sífilis e gonorreia e os vírus causadores da aids, HPV e Herpes. A divertida experiência começava durante uma festa, situação em que é comum os jovens precisarem decidir entre usar ou não o preservativo. 

Para Maria Helena, um grande entrave para conter a disseminação da aids é a ideia reinante de que camisinha é coisa apenas para os jovens. ''Os pais costumam achar que eles próprios, por manterem uma relação estável, não precisam usar. Com isso, os jovens não dão o devido valor à questão da prevenção, há um descrédito quanto à importância do preservativo, mesmo em se tratando da única forma eficaz de evitar a contaminação pelo HIV.'' 

Pesam também, segundo a enfermeira, os valores disseminados em nossa sociedade, entre eles o de que ''quem ama confia''. Neste contexto, quando um dos companheiros, ao usar ou pedir para o outro usar camisinha durante uma relação, é como se estivesse atestando sua falta de confiança. ''E a sociedade, de maneira geral, não quer discutir fidelidade'', lembra a diretora do Instituto Kaplan.
FONTE: Silvana Leão - Folha de Londrina - http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--180-20120902

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