Recentemente, uma série de estudos começou a investigar mais a fundo as possibilidades de certas drogas ilegais serem a chave para tratar uma série de doenças incuráveis, como síndrome do estresse pós-traumático e depressão.
Esse tipo de estudo, claro, é bastante controverso.
Drogas psicodélicas e ilegais como ecstasy (MDMA), LSD e cogumelos alucinógenos como a psilocibina, no passado, eram bastante pesquisadas, recomendadas e usadas por profissionais da saúde.
Com o passar do tempo, no entanto, seus potenciais perigos e efeitos coletais foram aparecendo e tirando as substâncias de circulação. Um forte “preconceito” levantou uma barreira que impediu por muito tempo que cientistas pudessem analisar melhor essas drogas.
Mas isso não quer dizer que elas nunca demonstraram benefícios.
Hoje, o maior problema é que o mercado de drogas se tornou lucrativo demais e em toda a esquina tem alguém querendo vendê-las. O resultado é que as versões de tais substâncias na rua são cheias de impurezas, não reguladas e potencialmente perigosas.
Conforme a ciência evolui, no entanto, os pesquisadores estão tentando passar pelo preconceito contra as drogas psicodélicas para poder estudá-las em um ambiente controlado e seguro: os ensaios clínicos.
O fato de que essas pesquisas estão começando a se tornar mais frequentes e a descobrir vias pelas quais as substâncias podem ser úteis não significa, entretanto, que os cientistas estão encorajando seu uso. Elas continuam proibidas e a recomendação ainda é que você, consumidor, não as use, pois o produto que você vai adquirir hoje ainda não é seguro.
Porém, no futuro, pesquisadores preveem que as drogas em sua forma pura e regulamentadas pela medicina poderão figurar no tratamento de muitas doenças.
Benefícios
Uma das drogas mais bem estudadas (na medida do possível) é o ectasy. A literatura médica diz que a substância MDMA envia ondas que inundam o cérebro de serotonina, um produto químico natural que faz as pessoas se sentirem felizes, sociais e íntimas com os outros.
Notadamente, a droga não é livre de efeitos colaterais. A lista de potenciais efeitos na saúde inclui ranger de dentes, sudorese, aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, ansiedade, visão turva, náuseas, vômitos e convulsões, mesmo em doses baixas. Seu abuso pode levar a vários problemas. Mas estudos recentes notam que o ecstasy deveria ser considerado menos perigoso do que é hoje.
A droga parece poder ajudar a combater doenças como câncer, distúrbios de ansiedade, mal de Parkinson e estresse pós-traumático.
“As pessoas se tornam emocionalmente carinhosas em êxtase, o que as torna mais sensíveis à psicoterapia”, explica o Dr.Robin Carhart-Harris, um dos peritos envolvidos em um estudo sobre ectasy que foi televisionado.
O estudo, através de um scanner cerebral, observou onde exatamente no cérebro essas drogas têm um efeito, e verificou que, nos voluntários que receberam o medicamento correto, a área do cérebro envolvida na memória positiva tornou-se mais ativa, ao passo que uma outra parte que processa memórias negativas foi amortecida. “Isso tornaria mais fácil para os pacientes revisitar uma memória traumática e substituí-la ou controlá-la”, diz Carhart-Harris.
Estudos parecidos descobriram que a psilocibina poderia levar a novos tratamentos para depressão e cefaleia em salvas (dor de cabeça agonizante). Psicoterapia assistida com psilocibina também já foi usada para tratar o vício do cigarro, e os resultados do estudo mostraram uma taxa de 100% de sucesso.
Outro estudo com psilocibina ofereceu material para desvendar porque a substância pode ser benéfica. “Uma das minhas teorias sobre o cérebro é de que a consciência está diretamente ligada ao volume de sangue nos capilares do cérebro, e que as drogas que intensificam experiências mentais, como a psilocibina, aumentam esse volume. No entanto, a evidência mostra uma diminuição no fluxo de sangue. Mais pesquisas devem esclarecer o que está acontecendo. O que é bom é que nós temos aqui uma nova peça no quebra-cabeça da consciência”, disse Amanda Feilding, que investe em estudos com drogas psicodélicas.
Parece que o que os alucinógenos fazem é enfraquecer o nosso controle das experiências e permitir um estado mais livre, menos constrangido, mas também mais caótico da consciência. Também pode ser significativo que os voluntários que relataram as experiências mais vívidas e poderosas também foram os que tiveram a maior redução do fluxo de sangue.
Outra descoberta de uso mais prático imediato foi a constatação de que um dos centros cerebrais “amortecidos” pela psilocibina – conhecido como o “córtex pré-frontal medial” – é conhecido por ser hiperativo em pessoas com depressão.
Agora, um estudo clínico vai investigar se a psilocibina pode ajudar pessoas com depressão grave.
Porque estudar essas drogas?
Em sua maioria, os cientistas afirmam que essas substâncias não são viciantes, e que alguns de seus tão declarados efeitos nocivos são exagerados.
“Essas drogas não parecem produzir dependência”, explica o Dr. Stephen Ross, diretor da Divisão de Alcoolismo e Abuso de Drogas no Hospital Bellevue, em Nova York (EUA). “Sua capacidade de tratar uma série de distúrbios psiquiátricos e existenciais é notável e muito interessante para não ser explorada”, argumenta.
E para as pessoas que criticam as pesquisas médicas com essas substâncias, dizendo que elas incentivam as pessoas a se drogarem, os especialistas são claros: eles não estão incentivando o uso recreativo dessas drogas.
A questão de uma droga ser legalizada para consumo público não controlado é bem diferente da questão de se os médicos devem ser autorizados a prescrever o mesmo produto químico para tratar seus pacientes.
O que os pesquisadores defendem é a prescrição de drogas regulamentadas por um profissional de saúde, e não a venda de ectasy e LSD em festas e raves.
A contracultura psicodélica que se enraizou meio século atrás, dizem os cientistas, não pode ser um impedimento para o estudo dos benefícios médicos dessas drogas.[Telegraph]
FONTE: Natasha Romanzoti - http://hypescience.com/drogas-psicodelicas-podem-ser-a-cura-para-a-depressao/
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