Os resultados indicaram a redução de 44% no risco de infecção em voluntários que se submeteram ao uso do Truvada, nome comercial do medicamento que combina duas drogas antirretrovirais e já é utilizado no tratamento da Aids para inibir a replicação do vírus HIV. No estudo, ele foi prescrito aos participantes em doses diárias, como um dos itens da intervenção profilática.
As outras medidas de prevenção incluíam aconselhamento para o sexo seguro, diagnóstico e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis e distribuição de preservativos. “A prevenção da Aids precisa de múltiplas intervenções”, assegura Valdiléa G. Veloso, coautora do artigo publicado no periódico New England Journal of Medicine, no qual os resultados do estudo foram apresentados.
Veloso, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenou o estudo no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), um dos 11 centros do mundo a participar da pesquisa, que envolveu cerca de 30 cientistas, em seis países. A iniciativa é conhecida entre os pesquisadores como iPrEX (sigla para Iniciativa Profilaxia Pré-Exposição).
O desafio da adesão
O estudo contou com a participação de 2.499 voluntários com risco aumentado de adquirir a infecção pelo HIV – homens, travestis e mulheres transexuais que tinham como parceiros sexuais pessoas do sexo masculino.
Quando o teste sobre a eficácia do medicamento começou, em 2007, os pacientes foram divididos em dois grupos. Um deles recebeu o Truvada e o outro, placebo, um comprimido sem substância ativa.
Desde então, todos os participantes foram orientados a tomar uma dose diária do comprimido recebido – sem saber se estavam tomando os antirretrovirais ou o placebo –, com o alerta de que ele deveria funcionar como um complemento, e não como substituto, das medidas preventivas convencionais.
Os números revelaram que a adesão ao Truvada na etapa da prevenção fez diferença nos resultados, comprovando que o comprimido é eficaz quando usado corretamente – o que ainda é um desafio.
“Como em qualquer tratamento, é muito difícil fazer as pessoas tomarem diariamente uma medicação”, reconhece Veloso. “Mas isso é natural, principalmente nesse caso, em que a eficácia e a segurança da droga para a prevenção ainda estavam sendo testadas.”
Ao analisarem os casos de forma particular, os pesquisadores se depararam com respostas ainda mais precisas do que a redução geral de 44% no risco de infecção. Para os participantes cuja adesão foi superior a 50%, a eficácia da proteção foi também de 50%.
Já para os que relataram assiduidade em mais de 90% dos dias, a taxa de proteção adicional contra a Aids chegou a 73%. No período analisado, foram identificadas ao longo da pesquisa 64 infecções no grupo placebo, contra 36 no grupo medicado com o Truvada.
Mais um passo
“Este estudo é um marco, porque é o primeiro a demonstrar que um medicamento pode prevenir a infecção de HIV em homens e mulheres transexuais que fazem sexo com homens, população mais atingida pela epidemia da Aids em toda a América Latina”, avalia a pesquisadora. “Nossos resultados ainda não dão todas as respostas, mas já fazem avançar o conhecimento.”
Os pesquisadores ponderam que ainda não há dados suficientes para implementar essa medida de prevenção. Antes disso, outras intervenções devem ser melhor estudadas. “Hoje, 20 mil voluntários já participam de outras pesquisas que estudam o uso de medicamentos para a prevenção da infecção pelo HIV, como as conduzidas com a população de mulheres e de casais sorodiscordantes”, explica Veloso. “A ideia é que cada uma dessas medidas adicione um conhecimento novo.”
O principal alerta dos pesquisadores é para o perigo de se medicalizar a prevenção. Atentos a isso, os pesquisadores insistem que o preservativo não deve ser substituído, embora a opção de usar o comprimido represente um grande avanço para a segurança de quem quer se prevenir. “O medicamento, ao contrário do preservativo, depende só da pessoa vulnerável. A autonomia da pessoa vulnerável é fundamental para a prevenção e representa um grande avanço.”
A próxima etapa do estudo é a fase aberta, na qual cada voluntário que participou da primeira fase poderá decidir se deseja ou não tomar o Truvada. Os que não desejarem usar o medicamento poderão continuar participando do estudo. Isso permitirá conhecer mais sobre a disposição das pessoas em tomar o medicamento no contexto da prevenção.
Sobre a colaboração dos voluntários nesse segundo momento, Veloso é otimista: “A expectativa é que aumente a adesão, já que esses primeiros resultados positivos serão agora uma motivação a mais para os voluntários fazerem uso regular do medicamento em teste. (Fonte: Carolina Drago-Ciência Hoje On-line)
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