Atleta com mais de 30 anos pode manter disposição aeróbica e muscular
Quando foi anunciado pelo Botafogo, no início do ano, o meia Seedorf
enfrentou a resistência de comentaristas e torcedores. Afinal, um jogador de 36
anos ainda pode render profissionalmente em um esporte tão competitivo como o
futebol? Pois as atuações decisivas do holandês não são as únicas provas de que
a resposta é positiva. Um estudo da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex),
do Rio, garante que a idade não afeta o desempenho aeróbico de atletas da
modalidade. O trabalho brasileiro foi publicado na última semana pela revista
científica “International Journal of Sports Medicine”, uma das principais da
área.
A pesquisa foi realizada com 162 atletas, divididos em dois grupos. Um entre
17 e 22 anos e outro entre 27 e 36 anos. Todos do time profissional do Botafogo.
O estudo teve início em 2005 e só foi concluído ano passado, por isso o jogador
Seedorf não chegou a participar da pesquisa. Para não cometer injustiças, tanto
jovens quanto veteranos foram avaliados no período de pré-temporada. Durante o
campeonato, diversos fatores poderiam desequilibrar os resultados. A conclusão é
que, apesar de ser normal a perda de desempenho aeróbico com o passar dos anos,
é possível compensar o prejuízo com treinos e controle de hábitos de vida
saudáveis.
— Com o tempo, é normal uma pessoa mais velha ter menos capacidade que uma
mais jovem. Só que o estudo mostra que, no futebol, isso não acontece quando há
uma orientação profissional forte e a pessoa é disciplinada. Quer dizer, o
jogador que tem mais de 30 anos não precisa, necessariamente, ter menos
disposição aeróbica do que os jovens — explica Cláudio Gil, diretor médico da
Clinimex e autor do estudo.
Para o trabalho, foi medido o VO2máx, um termo médico que indica o volume
máximo de oxigênio que o corpo consegue inspirar do ar que está dentro dos
pulmões, levar até os tecidos através do sistema cardiovascular e usar na
produção de energia. No teste, os jogadores caminhavam um minuto a 5,5 km/h.
Após este período, a velocidade era aumentada a 8 km/h e 0,1km/h era acrescido a
cada 7,5 segundos. Imediatamente após a capacidade máxima do atleta ser
atingida, seguiam-se dois minutos de caminhada a 5,5km/h.
— Antigamente, existia a ideia de que um jogador não renderia após os 30 anos
como quando mais jovem. Começamos a ver em outros esportes, porém, atletas que
tinham algumas das maiores conquistas já veteranos. Por que no futebol seria
diferente? — questiona Cláudio Gil.
A opinião é compartilhada pelo presidente da Sociedade de Medicina do
Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro, Paulo César Hamdan:
— Quando envelhecemos, vamos notando que não temos mais a mesma potência,
força, explosão muscular, e isto se dá em função da chamada sarcopenia, que é um
processo natural. Mas se o treinamento for continuado, é possível impedir o
avanço dela. A idade não é limitante.
Ele cita um trabalho da década de 1990 realizado pela Universidade de
Missouri, nos EUA, que já começava a analisar o tema: eles avaliaram ex-atletas
idosos que deixaram sua modalidade esportiva profissional, no caso do estudo o
futebol americano, mas continuaram se exercitando, com a natação. Eles foram
comparados a dois grupos: de jogadores de futebol jovens e de jovens
sedentários.
— A potência e a força não se perderam nos idosos em comparação com os
jovens. E mais ainda, a estrutura das fibras musculares eram melhores no caso
dos idosos se comparados aos sedentários — afirmou.
Hamdan, entretanto, ressalta que fatores como estilo de vida e a
individualidade biológica do atleta devem ser levados em consideração.
— Para citar o próprio Seedorf, o potencial dele foi adaptado ao longo do
tempo com o treino e o que vemos é que ele tem hábitos saudáveis, pratica
exercícios mesmo além do futebol, se alimenta bem, dorme cedo. — destacou
Hamdan. — Ou seja, não é qualquer jogador de futebol que vai ter este desempenho
ao chegar numa certa idade.
FONTE: Leia mais sobre esse assunto
em http://oglobo.globo.com/ciencia/cai-mito-da-idade-para-os-jogadores-de-futebol-6501280#ixzz2AEiPoNK0
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