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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

QUALIDADE DO SONO


Respire bem e bons sonhos


Elena Mandarim
Divulgação/UniRio 
           
      Ao terem seu sono monitorado em laboratório, pacientes
       podem saber se possuem o distúrbio da 'apneia do sono'
 
Nada como uma noite bem dormida para recuperar as energias da vida corrida e estressante. Para uma expressiva parcela da população, contudo, a "boa noite de sono" pode ser interrompida pela síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS), caracterizada por episódios recorrentes de obstrução parcial ou total da respiração, enquanto o indivíduo dorme. Na maioria das vezes, a apneia não é suficiente para despertar a pessoa, mas há uma alteração na qualidade do sono, passando do profundo – conhecido como sono REM, as iniciais, em inglês, de Rapid Eye Movement, ou "movimento rápido dos olhos" – para um sono mais superficial, que não é revigorante. Entre os principais sintomas da SAHOS, estão ronco, sonolência diurna excessiva, mudanças de humor, dor de cabeça pela manhã (cefaleia matutina), déficit de memória e concentração, irritabilidade, queda do rendimento intelectual e alterações cardiológicas e neurológicas.
Maria Helena de Araujo Melo, médica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), vinculado à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), explica que a apneia do sono está muito relacionada ao excesso de peso, mas também pode aparecer por outras causas como, por exemplo, algumas alterações nas estruturas do sistema respiratório, alterações metabólicas ou neurológicas. Contemplada no edital de Apoio à Pesquisa Clínica em Hospitais Universitários do Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, ela está desenvolvendo uma pesquisa para avaliar a relação entre alterações físicas no trato respiratório e a presença da SAHOS. "Para isso, comparamos os resultados de uma polissonografia, que avalia a existência da apneia e sua gravidade, com os resultados de uma endoscopia nasal, oral e laríngea feita para analisar as estruturas das vias aéreas superiores. Com base nesses exames, é possível determinar o tratamento mais adequado a cada paciente. Em alguns casos, já bem estudados e selecionados, quando há alguma alteração física das funções respiratórias, como o desvio do septo nasal ou a hipertrofia dos cornetos do nariz, podemos aconselhar o tratamento cirúrgico", explica Maria Helena.
A pesquisadora conta que os recursos obtidos foram usados para montar um laboratório do sono. Ali, os pacientes atendidos nos ambulatórios de otorrinolaringologia e cardiopulmonar, que apresentam os sintomas característicos, passam uma noite para ser submetidos à polissonografia, exame que registra as amplas variações biofisiológicas que ocorrem durante o sono. Os eletrodos ajustados à cabeça, aos membros inferiores e ao tronco do paciente monitoram, entre outros parâmetros, as atividades cerebrais, o fluxo aéreo nasal e bucal, o comportamento cardiorrespiratório e a quantidade de oxigênio no sangue. "Esses resultados, uma vez reunidos no computador, nos dão uma série de gráficos e avaliações. Segundo uma escala de parâmetros para a doença, conseguimos saber se o paciente sofre de SAHOS e qual a sua gravidade, que pode ser leve, moderada ou grave." O laboratório é equipado ainda com câmeras e sensores que captam os movimentos das pernas para avaliar se as queixas de noites mal dormidas são decorrentes de uma outra síndrome: a das pernas inquietas.
Divulgação/UniRio 
       
Maria Helena (na frente) e os alunos e professores de
graduação e pós-graduação colaboradores da pesquisa
Os mesmos pacientes são também submetidos a uma endoscopia das vias aéreas superiores. Nessa avaliação, uma cânula - nasofibroscópio - da espessura de um espaguete, com uma microcâmera acoplada, é introduzida no nariz e passa por todo o trato respiratório. As imagens, vistas pelo monitor de um computador, permitem ao médico analisar se há ou não alguma alteração das estruturas físicas. Segundo Maria Helena, os pacientes também respondem a um questionário sobre qualidade de vida e hábitos pessoais, como tabagismo, alcoolismo e alimentação. "Todas as informações são importantes, porque a apneia do sono pode ser decorrente de diversos fatores. Um paciente pode não ser obeso, nem apresentar disfunção das estruturas respiratórias, mas ser diagnosticado com uma SAHOS moderada. Quando analisamos todos os parâmetros, podemos descobrir que as apneias do sono são causadas, por exemplo, pelo excesso de consumo de álcool. Nesse caso, o tratamento é psicológico", relata a médica.
Durante o sono REM, segundo Maria Helena, todas as funções metabólicas são reestabelecidas. Então, quando não se atinge essa fase do sono, a pessoa permanece cansada física e mentalmente no dia seguinte. "Por isso, a SAHOS é considerada doença crônica e um caso de saúde pública. A sonolência diurna excessiva, por exemplo, aumenta o risco de acidentes de trânsito e de trabalho", explica a médica. "Em casos severos, o tratamento eficaz é a utilização de um aparelho chamado CPAP, que força a entrada do ar para as vias aéreas superiores e inferiores. É um equipamento caro que não é distribuído gratuitamente. Diante da gravidade da doença, seria necessário montar uma estrutura pública para fornecer o tratamento à população menos favorecida", acrescenta.
Maria Helena destaca que o projeto está sendo desenvolvido com a participação das professoras Denise Duprat Neves e Maria do Carmo Valente de Crasto, também do HUGG/UniRio. Segundo a pesquisadora, um dos objetivos do estudo é promover linhas de pesquisa voltadas aos programas de pós-graduação da UniRio, ampliando a produção e divulgação do conhecimento científico. O programa já conta com dois alunos de pós-graduação em Neurologia (PPGNeuro), o mestrando Felipe Figueiredo e a doutoranda Andrea Bacelar; dois alunos do mestrado profissionalizante do Programa de Pós Graduação em Medicina (PPGMed), Priscila Dias e Manuela Salvador Mosciaro; e quatro alunos de graduação em medicina, que são bolsistas de iniciação científica, Silvia Maria Guimarães Simões, Lucas Vega Martinez Veras Ferreira, Rafael Nigri e Marlos Luiz Villela Moreira.

© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.

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