A idealização de uma vida conjugal pode levar mulheres a decidirem pelo adiamento da maternidade, seja por que não encontram o parceiro que imaginam ser perfeito para iniciar a família ou pela ideia de que filhos podem atrapalhar a vida a dois no início da relação.
Entretanto, uma pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da USP verificou que o adiamento pode ser fonte de diversas angústias para as mulheres, visto que elas não têm total controle de quando conseguirão se tornar mães.
A psicóloga Maria Galrão Rios Lima entrevistou mulheres que, por opção própria, decidiram ter filhos apenas após os 35 anos.
Entre as entrevistadas, quatro tiveram sucesso e outras quatro ainda estão no processo de tentativas.
O sofrimento vivenciado por aquelas que não conseguiram ser mães vem da decepção e do sentimento de fracasso.
"Existe hoje um discurso perigoso de que a mulher pode tudo, e, pior, deve obter sucesso em todos os âmbitos de sua vida", mostra Maria. "Mas ninguém tem controle de quando vai ficar grávida".
Sem controle
Segundo a pesquisadora, apesar de avanços médicos e científicos na área da inseminação artificial, por exemplo, ainda não é simples a tarefa de ter um filho.
"O controle nunca é total", ressalta.
Além disso, os procedimentos que a medicina oferece, normalmente, são muito invasivos. Por este motivo, inclusive, uma das participantes da pesquisa desistiu de tentar por métodos não naturais.
Maria acredita que o principal aspecto de sua pesquisa é a tentativa de quebrar a ideia de onipotência nesse caso. "Não dá para ter filhos a qualquer momento".
Ela diz, ainda, que o adiamento da maternidade não é uma patologia, um problema a ser tratado. Porém, ele carrega um potencial de sofrimento para a mulher.
Estabilidade
Em revisão da literatura acadêmica sobre o tema, a psicóloga encontrou, na grande maioria, visões que falavam sobre o foco na carreira que as mulheres estão tendo.
Porém, em seu trabalho, orientado pela professora Isabel Cristina Gomes, não foi este o discurso que predominou.
Foram mais relatadas as procuras por uma vida conjugal ideal e pela estabilidade financeira.
Segundo Maria, porém, a idade mais avançada não equivale necessariamente a uma maior maturidade da mulher. Os recursos psíquicos de cada participante, bem como a relação com a própria família, é que mostraram-se determinantes na questão do adiamento da maternidade.
Ressentimento
Muitas daquelas que ainda não conseguiram se tornar mães mostram ressentimentos em relação ao adiamento.
A sensação de impotência nessa situação se contrapõe, segundo a psicóloga, a "uma idealização de que a mulher, nos dias atuais, pode e deve conseguir fazer tudo: ter uma carreira, um bom casamento, viajar, comprar carro e apartamento e depois ter um filho".
Em geral, os maridos das mulheres ouvidas na pesquisa são divorciados e mais velhos. Eles abraçam a ideia de adiar a maternidade e "curtir a vida".
Porém, em dois dos casos, foi por pressão do homem que a mulher, antes sem interesse de ser mãe, decidiu ter filhos.
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