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domingo, 31 de outubro de 2010

INCLUSÃO: REALIDADE DISTANTE DO IDEAL

Num processo lento, a inclusão para crianças com necessidades especiais vem se concretizando. Mas, na prática, como isso vem funcionando? Para entender o que realmente acontece, a psicóloga Aliny Lamoglia de Carvalho, professora de Educação Inclusiva do curso de Pedagogia, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), desenvolveu o projeto “Começar do Começo: A Parceria Universidade/Escola Promovendo a Inclusão”.
Diante do cenário que se apresentou, Aliny passou a considerar a necessidade, nas escolas regulares, de um programa de intervenção para que a inclusão atenda individualmente cada um dos alunos incluídos.
Com uma equipe de quatro alunos de graduação em Pedagogia e recursos do programa de Apoio à Construção da Cidadania da Pessoa com Deficiência, da FAPERJ, a pesquisa propôs observar e gravar em vídeo o cotidiano de oito alunos especiais da educação infantil: quatro de uma escola da rede pública e outros quatro de um colégio particular. Os resultados foram bastante significativos.
“Nossa medida é o benefício para cada aluno. O que vimos nos levou a concluir que devemos promover a inclusão sempre que for possível. Mas também admitir que, em certos casos de comprometimento mais severo, nem sempre a educação inclusiva é o melhor caminho. Não defendo a inclusão a qualquer custo, mas um caminho que atenda as necessidades da criança. Acho que, em alguns casos, temos que adotar o meio termo”, pondera.
Apesar da enorme distância que costuma separar escolas particulares de públicas, nada garante que o resultado signifique grandes diferenças práticas. Pelo que pôde observar no colégio particular analisado, por exemplo, há infraestrutura adequada, com a presença de mediadores individuais que acompanham todos os momentos da criança incluída. “Isso é considerado como uma adaptação de grande porte. Mesmo assim, o que percebemos é que nem sempre esse mediador está preparado (a) para lidar com as situações que se apresentam em sala de aula ou atuar em benefício daquele aluno”, fala.
Nos vídeos gravados, há várias situações em que Aliny e sua equipe puderam perceber que, além da falta de um preparo específico, há também a impossibilidade da criança em corresponder ao aprendizado num dado contexto de interação pedagógica. É o caso de situações em que essa criança pode se limitar a repetir um comportamento mecânico, sem qualquer significado para ela.
“Numa aula de inglês, por exemplo, uma criança com sério comprometimento mental, com dificuldades de fala, não conseguirá acompanhar, mesmo com a atuação do mediador. Nesse caso, acho que seria bem mais proveitoso para aquele aluno se esse tempo for empregado para que, num espaço separado, ele realize, com seu mediador, exercícios de estimulação de linguagem”, fala. Para Aliny, essa é uma avaliação que deve ser feita caso a caso.
Na escola pública analisada, considerada como referência também pelo projeto que garantiu ao prédio sua total acessibilidade, as coisas não foram muito diferentes. “Dada a falta de condições financeiras e de informação dos pais, muitas vezes as crianças chegam sem qualquer tipo de diagnóstico sobre o tipo de necessidade especial que apresentam. Com exceção da síndrome de Down, que é muito visível pelo aspecto físico, a professora só saberá identificar o aluno especial pelo comportamento ou por suas dificuldades no aprendizado.”
Como, ao contrário da escola particular, não há mediadores nem outros profissionais para ajudar em sala de aula, é a professora que terá que dar conta da classe sozinha. “Caberá a ela lidar com turmas de 20 a 25 crianças, em que pode haver uma ou outra especial. Isso certamente dificultará dar qualquer atenção diferenciada a um determinado aluno, com necessidade especial ou não”, diz Aliny.
Mas também foi neste contexto que ela percebeu o que há de melhor. “Vimos que, com um aluno hiperativo na turma, uma das professoras dedicava um período de tempo depois das aulas a repassar com ele o que fora ensinado. Mesmo com formação igual à da maioria, essa professora demonstrava maior disponibilidade interna, maior esforço pessoal”, elogia.
No caso de crianças surdas ou cegas, a professora é taxativa: “Costumamos encarar a surdez como uma deficiência menor, que não provocaria muitos danos à vida de alguém. Mas para os que nascem surdos, ou perdem a audição nos primeiros anos de vida, sem chegar a aprender a língua oral, isso é determinante para os rumos de seu desenvolvimento.” Especialmente para os casos de uma surdez severa, Aliny propõe uma escola especializada, um ambiente em que essa criança possa aprender a linguagem dos sinais, que lhe propicie melhores condições de aprendizado. O mesmo vale para os casos de cegueira.
Para Aliny, é preciso dar continuidade ao trabalho. O que para ela significa voltar às escolas e fazer interferências, sugerindo mudanças para que a inclusão aconteça de fato. “Queremos, por exemplo, mostrar o que foi visto e propor uma preparação específica para ajudar professores e mediadores a lidar com esses alunos. Mesmo que seja em alguns momentos comuns, todos se beneficiam. O que queremos é que as crianças incluídas sejam, de fato, beneficiadas.”
(Fonte: Vilma Homero- FAPERJ)

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