Projeto da Uerj investiga a saúde de pessoas obesas com compulsão alimentar
Débora Motta
Divulgação |
Compulsão alimentar: distúrbio que gera obesidade é
tratado com acompanhamento psicológico, na Uerj
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Comer e comer, mesmo sem fome, e não conseguir parar. Às vezes, chegando a ponto de ingerir alimentos crus ou congelados, não por prazer, mas por descontrole. E depois de comer fora de hora, muitas vezes escondido, passar mal, sentir culpa e remorso. Essa é a rotina das pessoas que sofrem de transtornos de compulsão alimentar periódicos (TCAP), distúrbios investigados pela médica e nutricionista Henyse Gomes Valente da Silva, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que vem avaliando como a compulsão afeta a saúde dos obesos. O estudo vem sendo contemplado pela FAPERJ, com o Auxílio à Pesquisa (APQ 1), em 2010 e 2012.
De acordo com Henyse, o padrão irregular na ingestão de alimentos em pessoas que sofrem de compulsão está associado, entre outros fatores, às alterações hormonais e inflamatórias envolvidas no processo de fome e saciedade. “Um dos objetivos da pesquisa é comparar o perfil metabólico e inflamatório de obesos que sofrem e de obesos que não sofrem com esse problema”, resume a pesquisadora. “Nossa hipótese é que indivíduos obesos com TCAP têm pior perfil metabólico e inflamatório, além de menor resposta ao tratamento dietoterápico”, conta Henyse.
Para verificar essa hipótese, cerca de 80 pacientes obesos – metade deles com compulsão alimentar e a outra metade sem esse distúrbio – estão sendo monitorados com uma série de exames para detectar seu perfil metabólico e inflamatório, antes e seis meses depois de iniciarem um tratamento nutricional e psicológico regular, na Policlínica Piquet Carneiro, da Uerj. “Os pacientes, todos voluntários, são submetidos a uma dieta hipocalórica e reavaliados mensalmente durante seis meses, quando é feita uma nova análise de composição corporal, por bioimpedância elétrica – considerada um método de alta precisão para avaliar a massa corpórea”, diz Henyse.
O projeto, que teve início em 2011, está em andamento. “Vamos fazer dosagens hormonais da adiponectina, insulina e cortisol, além de avaliar, no primeiro semestre de 2013, o perfil inflamatório dos pacientes examinados, pela proteína C-reativa, conhecida como CRP (do inglês C-reactive protein), que é produzida pelo fígado”, explica Henyse. “Ainda avaliando o perfil metabólico, temos acompanhado o lipidograma e a glicemia, e já é possível dizer que houve uma melhora considerável antes e depois dos seis meses de tratamento em vários pacientes”, diz.
O atendimento aos pacientes que participam do projeto – a maioria de baixa renda – vem sendo realizado no Núcleo de Assistência e Pesquisa em Transtornos Alimentares (Napta), da Policlínica Piquet Carneiro. Coordenado por Henyse, o núcleo foi criado no final de 2011 e oferece atendimento gratuito a obesos com compulsão alimentar, que devem ter indicação de tratamento por médicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Até o momento, são cerca de 110 pessoas atendidas, que também recebem a recomendação de praticar pelo menos 150 minutos de exercícios físicos semanais, o que pode equivaler a meia hora por dia. Pacientes com outros tipos de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, também são atendidos no núcleo.
Segundo Henyse, um diferencial do projeto é o cuidado em oferecer aos obesos com compulsão alimentar um atendimento psicológico. “Os pacientes com TCAP devem ser entendidos como pacientes que precisam de acompanhamento psicológico intensivo”, diz a pesquisadora. “Durante os seis primeiros meses de atendimento, eles participam de sessões semanais de psicoterapia de grupo. Depois desse período, eles continuam a receber um acompanhamento mensal, porque a compulsão não tem cura, mas pode ser controlada”, destaca.
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A médica e nutricionista Henyse Valente, coordenadora do projeto: pesquisa e tratamento da compulsão alimentar |
A obesidade é considerada uma doença endócrino-metabólica crônica, com alterações da regulação hormonal, que resultam em diferentes graus de intolerância à glicose e no consequente risco de desenvolver o diabetes mellitus. A mudança no comportamento alimentar, além de estar associada à mudança na regulação da fome e saciedade, também apresenta relação com os distúrbios do sono, que desempenham um papel essencial na regulação endócrina e no metabolismo glicídico. Noites de sono de curta duração estão associadas a um pior controle glicêmico e ao ganho de peso.
Por essas razões, o projeto também tem como objetivos estudar a associação entre a resistência à insulina e a duração do sono em adultos obesos com TCAP. Os distúrbios do sono são avaliados pela escala de sonolência diurna de Epworth e pelo índice de qualidade do sono de Pittsburgh, que são métodos utilizados para identificar os hábitos dos pacientes durante o repouso. “A hipótese é que a compulsão alimentar se associa com maiores índices de massa corporal, a uma pior qualidade e duração do sono e a um pior controle glicêmico”, diz Henyse. “Normalmente, os pacientes obesos com compulsão alimentar têm uma qualidade de sono ruim. Eles dormem poucas horas e, muitas vezes, têm o sono interrompido, chegando a acordar várias vezes para comer, o que, aliás, é uma das características da compulsão”, completa.
Além da professora Henyse Valente, participam da equipe do Napta as psicólogas Eliane Falcone e Juliana D’Augustin; as nutricionistas Annie Bello e Carolina Coutinho; e as psiquiatras Sandra Fortes e Isabela Melta.
Pacientes obesos com recomendação médica, e interessados em receber tratamento por transtornos de compulsão alimentar, podem entrar em contato com o Núcleo de Assistência e Pesquisa em Transtornos Alimentares (Napta), da Policlínica Piquet Carneiro, da Uerj, pelo telefone: (21) 2334-2361. Pessoas com anorexia e bulimia também podem agendar tratamento neste número.
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FONTE: http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=8726
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