Quase 10% dos jovens já experimentaram drogas ilícitas
Pesquisa aponta que aumento do consumo é maior entre as meninas
Londrina – João, nome fictício de um morador da zona sul de Londrina, começou a fumar maconha aos 12 anos. "Fui pega de surpresa. Ele conheceu alguns meninos da escola e passou a usar por influência", lamentou a mãe, uma doméstica, cuja identidade foi mantida em sigilo. Ela sempre trabalhou fora e diz que tentou criar os filhos da melhor forma possível. "Vim de uma família muito rígida, procurei passar toda educação às minhas quatro crianças, mas esse meu filho é meu carma", observou.
João não ouviu os conselhos da mãe, tornou-se viciado. O tempo passou, do uso de drogas e bebidas alcoólicas ele passou a cometer pequenos delitos. "Cheguei a interná-lo, mas não teve jeito. Uma vez ele chegou a roubar minha vizinha. Fiquei extremamente envergonhada, foi a gota d'água, chamei a polícia para prendê-lo", relembrou.
A mãe não vê o filho, hoje com 19 anos, há quatro meses – ele está detido no 4º Distrito Policial (DP). "Falei para ele, embora ame muito meu filho, mas não vou visitá-lo nessa situação. Que sirva de tratamento."
Esse é apenas uma caso entre tantos outros que envolvem drogadição juvenil, situação que vem crescendo no País.
O Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou ontem a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE).
O levantamento, feito em 2012 com mais de 109 mil adolescentes das capitais, aponta que 9,9% já experimentaram drogas ilícitas, o que equivale a pouco mais de 312 mil jovens. Proporcionalmente cerca de 15 mil já experimentaram crack, que tem maior potencial de dependência. Em 2009, quando foi feita a primeira edição da PeNSE, o porcentual foi de 8,7%.
"A apreensão de crack lidera toda e qualquer estatística da Polícia Militar. É a droga mais disseminada no meio e que lutamos para apreender", afirmou o porta-voz do 5º Batalhão (BPM), capitão Nelson Villa.
Nas capitais, em 2009, 6,9% das meninas disseram ter usado alguma droga, índice que subiu para 9,2% em 2012. O consumo entre os meninos ficou praticamente estável, oscilando de 10,6% para 10,7%.
Embora a pesquisa tenha sido feita nas capitais, esses números são observados por entidades que atendem preventivamente crianças e adolescentes em Londrina.
O coordenador da Rede Paranaense de Redução de Danos (Repare), Edson Facundo, salienta que a prática adotada por muitas garotas que usam drogas é bastante arriscada. "Temos muitos casos de moeda de troca, sexo por droga. Muitas mantêm relação desprotegidas, criando outro problema como o risco de infecção, gravidez indesejada e até abandono (do recém-nascido)", explicou.
"Os danos são gritantes, já que o cérebro está em formação até os 18 anos e as questões neurais são afetadas de alguma forma. Quanto mais cedo o uso, seja da droga ou álcool, mais difícil o tratamento. O efeito a longo prazo é grande e causa transtornos até o fim da vida", destacou a gerente de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Silvana Valentim.
No caso das drogas lícitas, sete em cada dez adolescentes já experimentaram alguma bebida alcoólica, proporção que teve pequena redução em relação a 2009, passando de 71,4% para 70,5%.
Os números mais recentes mostram que aumentou a proporção de jovens que já ficaram bêbados, de 22,1% para 24,3%.(Com Agência Estado)
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