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sexta-feira, 28 de junho de 2013

ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA e o ANTIOXIDANTE TEMPOL

Tempol tem leve efeito neuroprotetor em modelo animal de ELA
As amostras obtidas no Instituto de Química foram analisadas por meio da estereologia
Estudos realizados no Instituto de Química (IQ) em colaboração com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), ambos da USP, mostram que o nitróxido cíclico tempol — um radical livre artificial — apresentou uma atividade protetora moderada ao ser testado em um modelo animal de ratos geneticamente modificados para desenvolverem a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Os resultados foram publicados no último mês de fevereiro na revista científica PLos One.
“O trabalho abriu para nós uma série de vias para entender o mecanismo patogênico da esclerose lateral amiotrófica, doença que continua desafiando muitos pesquisadores ao redor do mundo”, destaca a professora Ohara Augusto, do IQ que coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), onde a pesquisa foi realizada.
A professora Ohara explica que a esclerose lateral amiotrófica é uma doença fatal que provoca neurodegeneração progressiva. É caracterizada pela disfunção progressiva e morte de neurônios no córtex motor, tronco cerebral e medula. Segundo a literatura científica, uma das causas mais frequentes para o aparecimento da doença de origem familiar são mutações na enzima superóxido dismutase humana (hSOD1), proteina existente no organismo e que atua como antioxidante em mamíferos. “Esta enzima é essencial e sua ausência pode acarretar problemas ao organismo”, conta. “Mutações na enzima provocam a agregação de proteínas no cérebro que impedem processos celulares. Dependendo da proteína envolvida, esses agregados podem levar ao surgimento de doenças como Alzheimer, Parkinson ou a esclerose lateral amiotrófica, entre outras”, completa.
As amostras de tecidos de um modelo animal da esclerose lateral amiotrófica (ratos que expressam a mutante G93A da superóxido dismutase humana) obtidas no IQ foram analisadas no Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da FMVZ por meio de técnicas estereológicas. Essas técnicas permitem medir as células por meio de cálculos estatísticos e matemáticos espaciais levando-se em conta altura, largura e profundidade (3D), além da quarta dimensão, o fator tempo (4 D). Por isso, a estereologia apresenta grande acurácia em estimar o número total e o volume das células nos tecidos, entre outras características. Na análise em duas dimensões (morfometria), leva-se em conta apenas altura e largura, o que a leva a medir apenas os contornos (perfis) das partículas.
O professor Antonio Augusto Coppi, estereologista responsável pelo LSSCA, afirma que nas análises realizadas no laboratório, foi constatado que a administração de tempol antes do início da doença prolongou, moderadamente, a sobrevida dos animais e protegeu a estrutura celular e molecular contra os danos causados pela doença. “Os resultados indicam a possibilidade de antioxidantes como o tempol poderem ser uma alternativa para tratar a esclerose lateral amiotrófica”, aponta.
Para a professora Ohara, além de ter mostrado que o tempol consegue proteger moderadamente a evolução da doença em animais, o trabalho também “abre perspectivas para testar compostos parecidos em outros modelos animais e, talvez, algum dia, testá-lo em humanos”.
À esquerda, neurônios motores dos animais sadios. À direita, neurônios dos ratos doentes tratados com tempol
Experimentos
Os pesquisadores do IQ trabalharam com 30 animais. Os ratos receberam dois tipos de tratamento: solução de tempol oferecida na água de beber e injeção intraperitonial 3 vezes por semana. “Os efeitos desse tratamento foram moderados: aumentou em 9 dias a sobrevida de animais doentes que receberam tempol pela água, e em 17 dias de sobrevida daqueles que receberam injeções intraperitoniais”, relata a professora Ohara.

Já os trabalhos estereológicos envolveram amostras celulares de 15 desses animais, sendo 5 doentes tratados com tempol administrado na água de beber; 5 doentes não tratados; e 5 sadios sem doença (grupo controle). Os pesquisadores quantificaram os neurônios motores da região lombar (L1-L6) da médula espinhal.
Nos animais tratados com tempol, o número total de neurônios motores foi mantido. Esse número é igual, estatisticamente, ao grupo normal (sem doença). Já no grupo doente não tratado, houve redução de 60% no número total de neurônios motores e atrofia de 50% no volume destas células neuronais. Nos animais tratados com tempol, a redução do número de neurônios motores foi revertida, mas a atrofia das células não. “Uma interpretação estereológica possível para isso é que o aumento do número de neurônios motores nos animais doentes tratados com tempol teria gerado novas células, porém menores do que o normal. Ou seja, o tratamento com tempol protegeu contra a perda de neurônios motores, mas não contra a atrofia destas células”, finaliza Coppi.
O artigo Tempol Moderately Extends Survival in a hSOD1G93A ALS Rat Model by Inhibiting Neuronal Cell Loss, Oxidative Damage and Levels of Non-Native hSOD1G93A Forms está disponível para consulta na revista PlosOne por meio deste link.
Pelo LSSCA, participaram deste estudo, além do professor Coppi, os pesquisadores Fernando Ladd e a doutoranda Aliny Ladd.
Imagem 1 – Marcos Santos / USP Imagens
Imagem 2 – Cedida pelo professor Antonio Augusto Coppi
Mais informações: emails oaugusto@iq.usp.br, com a professora Ohara Augusto e guto@usp.br, com o professor Antonio Augusto Coppi

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