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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CAMINHOS POSSÍVEIS

"Desde 1997, quando iniciei o mestrado em gerontologia, até hoje, percebo que sempre tenho de retornar a questões básicas, ou seja, o velho se reveste de novo pelo desconhecimento. Em todos os lugares em que ministro palestras, entrevistas para revistas, rádio e TV, participação de bancas de monografias, workshops de consultoria para empresas, aulas de gerontologia em faculdades, sempre tenho de partir dos mesmos pontos:
- Ser velho é questão de perspectiva temporal. Isso significa que todos nós somos velhos porque o tempo não para;
- Velhice e envelhecimento não são sinônimos. Costumo usar uma analogia que me facilita a explicação: a velhice é a estação ferroviária, o envelhecimento é o trem em movimento;
- Não existe receita de equilíbrio porque a evolução é inerente aos seres humanos. Por isso, toda receita antienvelhecimento é ilusória. Podemos envelhecer com mais saúde, mas não podemos impedir o processo de passagem;
- A morte é natural como a vida. Morremos aos poucos até terminarmos de morrer. Gosto de pensar que estarei morto ao completar este texto. Assim posso renascer, renovar, recriar;
- Velhice não é doença. Saúde e doença são estados de flutuação de um processo integral. A saúde é como a felicidade, difícil de ser definida. Como a felicidade, percebemos nossa saúde quando algo melhora de repente, e nos rejubilamos com o deleite do acontecimento. Vivemos em um mundo doente, e se somos parte dele, nós só podemos alcançar estados momentâneos de saúde.
Envelhecer é continuar e mudar. Nenhum dia é como o outro. A crença na repetição está na falta de consciência de si mesmo. Quando somos conscientes de nossa presença no presente vemos o nosso cotidiano sempre com um novo olhar.
Sem dúvida, pensar o envelhecimento é pensar a complexidade de fatores que nos faz ser quem somos. Nunca seremos capazes de deslumbrar o todo pelo pensamento partido. Ainda temos muito para aprender e ensinar. A meu ver, o aprendizado do envelhecer tem de partir do aprendizado da vida, pois envelhecer e viver são processos indissociáveis.
Não podemos compreender o envelhecimento por uma perspectiva externa. Sem a reflexão acerca de nosso próprio estado de passagem não deslumbraremos o que significa a vida. Para compreender o que é ser velho é preciso também compreender o que não é ser velho. Se conseguirmos atingir pelo menos parte dessa compreensão nós alcançaremos o despertar. Assim, teremos a oportunidade de descobrir que vemos mais com as nossas crenças do que com os nossos olhos".
(Fonte: - Pedro Paulo Monteiro, fisioterapeuta e terapeuta corporal, gerontólogo, escritor, autor de Envelhecer: histórias, encontros e transformações, Quem somos nós? - O enigma do corpo e As cores da vida/  http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2.asp?conteudo_id=6381)

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