Problemas de sono entre as crianças não são raros: estima-se que estejam presentes em 25% a 40% das crianças com idades entre 1 e 5 anos. As queixas mais comuns são a resistência em ir para a cama, dificuldade em induzir o sono e frequentes despertares noturnos, ou seja, problemas na quantidade, qualidade e no horário em que se dorme. Muitas vezes essas dificuldades podem ser decorrentes de maus hábitos de sono, e a educação dos pais é a estratégia central de prevenção e tratamento.
Recomenda-se que crianças de 1 a 3 anos de idade devem ter entre 12 e 14 horas de sono por dia, 11 e 12 horas para os pré-escolares de 3 a 5 anos e 10 e 11 horas para as crianças escolares de 6 a 12 anos. Dormir mal nessas fases precoces da vida pode ter forte influência sobre o comportamento e desenvolvimento intelectual, favorecendo o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, e pode até mesmo aumentar o risco de acidentes nas brincadeiras. Há evidências também de que as relações familiares e o equilíbrio psíquico da mãe são afetados quando a criança não dorme bem.
Atitudes para uma boa higiene de sono das crianças:
1- A cama dos pais não é lugar para as crianças dormirem; 2- Deve-se criar uma rotina consistente de ir para a cama, ou seja, no mesmo horário e com as mesmas ações. As crianças mais novas já devem ser preparadas para ir para a cama 30 minutos antes e as mais velhas de 30 a 60 minutos antes; 3- Leitura deve fazer parte da rotina do sono das crianças em qualquer idade. Uma das importantes causas de sono difícil entre as crianças, e frequentemente relatada por elas, é o medo do escuro. Histórias que abordam de forma positiva questões relacionadas à noite e à escuridão têm grande potencial de ajudar, iniciativa que é chamada de biblioterapia; 4- O ambiente do quarto deve ser silencioso, escuro e com temperatura adequada, preferencialmente em torno de 24 graus. Muitas crianças não conseguem dormir com as luzes totalmente apagadas e, nesses casos, dispositivos do tipo dimers para o controle da iluminação podem resolver o problema; 5- A rotina do sono deve também incluir a fixação de um horário para acordar. Quando os pais permitem que os filhos acordem mais tarde com certa frequência, eles podem estar dificultando o processo de ir para a cama à noite, criando um círculo vicioso; 6- A alimentação pode ajudar ou atrapalhar. Alimentos com cafeína devem ser evitados por, no mínimo, seis horas antes de ir para a cama. Alimentos ricos no aminoácido triptofano podem ajudar, se ingeridos cerca de uma hora antes de ir para a cama, já que este aminoácido é precursor de substâncias indutoras do sono, como a serotonina e a melatonina. Entretanto, as evidências científicas da eficácia desses alimentos para uma boa noite de sono não são muito robustas. De qualquer forma, vale lembrar que leite, soja e banana são alimentos ricos em triptofano e que dormir com fome é muito mais difícil. Portanto, um leitinho antes de dormir pode ser realmente um bom negócio;
7- Atividade física diária deve fazer parte desse pacote de higiene do sono, no mínimo três horas antes de ir para a cama. Independentemente do sono, 45 a 60 minutos de atividade física por dia são recomendados para as crianças. Esportes organizados são muito bem-vindos, mas esse tempo pode também ser alcançado em múltiplas sessões de curta duração, quando a criança anda de bicicleta, brinca de pega-pega, leva o cachorro para passear, etc.; 8- Banho quente antes de dormir é uma medida que vários pais adotam. Não existem estudos científicos que aprovam essa prática, mas também não há estudos que a desaprovam.
Quando a higiene do sono não foi suficiente
Reforçar o sucesso de a criança ter conseguido seguir a rotina de horário é uma medida fortemente recomendada. Quando as crianças continuam com dificuldades para dormir, outras medidas podem ser necessárias.
Uma delas é a redução progressiva ou não de atenção dos pais quando as crianças choram no quarto sem conseguir dormir, técnica chamada de extinção. Podem fazer visitas ao quarto da criança a cada cinco minutos, progredindo para visitas a cada dez minutos, e assim por diante. Crianças menores de seis meses e com algum problema de saúde não devem ser submetidas a essas técnicas de extinção.
Uma variação da extinção é o chamado passe do horário de dormir. A criança recebe um cartão que serve como um passe, que garante a presença dos pais em seu quarto uma única vez ou uma breve saída do quarto. A criança é orientada que após gastar o passe, a extinção será completa, ou seja, os pais não entrarão mais em seu quarto nem ela poderá sair. Os resultados preliminares dessa técnica têm sido animadores.
(Fonte: Ricardo Teixeira - Doutor em neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília e é o autor do Blog “ConsCiência no Dia-a-Dia”./ http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2011/02/15/dicas-para-que-as-criancas-tenham-uma-boa-noite-de-sono/
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