Do raiar do dia ao anoitecer, a vida é feita de decisões. Basta haver
alternativas. Algumas decisões são simples, pois envolvem poucos fatores a
considerar, e são resolvidas facilmente com um pouco de atenção e memória de
trabalho, essa capacidade do cérebro de manter girando, para acesso imediato,
umas três ou quatro informações, como bolas de malabarismo no ar. Por exemplo,
ao decidir o que vestir para sair de casa, você leva em conta algumas questões:
está calor? Há algum encontro importante previsto? Vai andar muito ou passará o
dia na frente de um computador? Ao considerar essas informações, uma consulta
rápida dos itens disponíveis no armário leva a uma decisão racional e,
geralmente, acertada.
Quando há mais fatores envolvidos, contudo, tomar
uma decisão ponderando conscientemente todas as alternativas pode ser um
problema. Se você vai comprar um carro, por exemplo: você quer um novo ou usado?
De qual marca? Qual cor? Por qual preço? Movido a álcool, gasolina, ou os dois?
Motor 1.0, 1.2, 1.4, 1.6, 1.8 ou 2.0? Com ar-condicionado e direção hidráulica?
Freios ABS? Com dezenas de informações a considerar atentamente, a memória de
trabalho pede socorro: malabarista-mor das habilidades mentais, ela somente
consegue lidar atentamente com até umas sete ou oito informações de cada vez. As
demais escapam à atenção. Se você tentar decidir conscientemente nessa hora,
julgando todas as combinações de todos os itens de todos os carros disponíveis e
sua conta bancária, a chance de a melhor delas escapar à sua atenção e você se
tornar mais um consumidor insatisfeito é muito grande.
O que fazer,
então? Segundo psicólogos da Universidade de Amsterdã, na Holanda, tudo muda se,
antes de tomar uma decisão complexa (mas depois de se informar a respeito!),
você for passear, se ocupar com outra coisa; talvez dormir, como recomendam os
americanos (“Sleep on it!”). Até para resolver problemas de matemática funciona:
fazer antes qualquer coisa que desvie sua atenção da escolha a ser feita. Após a
distração, as chances de uma boa opção, e de ficar contente com ela, são muito
maiores do que se você tivesse ficado repassando conscientemente todas as
alternativas.
Se isso soa irresponsável, lembre que deixar seu cérebro se
virar sozinho, sem tentar prestar atenção em seus processos, é bem diferente de
tomar decisões impulsivas. Deliberar sem prestar atenção consiste em deixar o
cérebro rodar todas as informações adquiridas previamente sobre as alternativas,
mas sem a limitação da supervisão atenta. O resultado da
deliberação-sem-atenção, assim, é uma resposta não apenas de um raciocínio sobre
quatro ou cinco informações, mas de todo um cérebro com acesso a todas as
informações disponíveis, novas e antigas, suas preferências inatas e aprendidas,
e até mesmo aquela lista enorme de itens sobre carros e contas bancárias. Se tem
mais areia do que o caminhãozinho cerebral da atenção dá conta, melhor deixar o
cérebro resolver o assunto escondido da supervisão atencional.
Para tomar
decisões complexas, que envolvem muitos fatores, fica a dica da neurociência:
informe-se bem para alimentar seus processos deliberativos e, depois... vá ao
cinema, durma, passeie com os amigos: dedique sua atenção limitada a outras
coisas menos complexas enquanto seu cérebro delibera, livre de supervisão.
Quando ele chegar a um veredicto, você saberá – porque a resposta à pergunta “E
aí, qual carro você vai comprar?” sairá naturalmente, como que por
mágica.
FONTE: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/quando_pensar_demais_atrapalha.html
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domingo, 3 de junho de 2012
"SLEEP ON IT!"
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