Anvisa deve aprovar redução de iodo no sal
Embora o iodo ajude a prevenir problemas de saúde como o bócio, em excesso pode levar ao hipotireoidismo e, consequentemente, ao ganho de peso
Anvisa quer diminuir quantidade de iodo presente no sal: Substância foi adicionada no sal para evitar problemas de saúde, como o bócio (Thinkstock)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve aprovar nesta terça-feira uma regra que reduz os níveis de iodo adicionado ao sal. Para a agência, a mudança, discutida desde 2011, é necessária devido a alta quantidade de sal presente na dieta da população brasileira. “Em excesso, o iodo faz mal à saúde. Por isso temos de rever os padrões”, diz o diretor da Anvisa José Agenor Álvares da Silva.
Opinião do especialista
João Eduardo Nunes
Endocrinologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e diretor da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP)
“Nós, médicos, realmente estávamos observando nos exames de urina dos pacientes uma concentração muito elevada de iodo no organismo deles, e isso estava chamando muito a nossa atenção.
Logo, essa decisão da Anvisa é acertada, tendo em vista que, realmente, a quantidade estava fora dos padrões.
A decisão não trará prejuízos à saúde porque agora o iodo se adequará à quantidade necessária. Antigamente, quando não havia iodo no sal, as pessoas tinham um crescimento anormal da tireoide, mas hoje em dia não há mais isso.
Então sim, existe um risco da falta de iodo, mas estamos falando de uma adequação à quantidade correta, e não de uma retirada que vá gerar problemas.
O importante agora é que a Anvisa fiscalize para se certificar de que o sal estará com a dose de iodo correta: nem mais, nem menos."
O consumo excessivo de iodo pode levar à tireoidite de Hashimoto. Provocada por uma falha no sistema imunológico, a doença faz com que o organismo não reconheça e passe a atacar a tireoide, provocando o hipotireoidismo. Pessoas com tireoidite têm fadiga crônica e ganho de peso.
Por outro lado, o iodo pode evitar alguns problemas de saúde. A adição do iodo no sal foi adotada no país para prevenir dois problemas: o cretinismo e o bócio. O primeiro é provocado pela deficiência do nutriente na gravidez — estudos mostram que um terço das crianças que não recebem a quantia adequada do iodo durante a gestação apresenta problemas no sistema nervoso central, e outro terço, deficiência cognitiva. O bócio, por sua vez, é provocado pela falta do iodo em adolescentes e adultos.
Níveis elevados — Pela estimativa do governo, o brasileiro consome, em média, 8,2 gramas de sal diariamente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que, para esse padrão de consumo, a faixa de iodação fique entre 20 a 40 miligramas para cada quilo de sal. Atualmente, essa taxa é de 20 a 60 miligramas de iodo por quilo de sal, e a proposta em estudo na Anvisa prevê uma faixa de adição de 15 a 45 miligramas a cada quilo de sal.
Segundo a Anvisa, a faixa agora proposta tem o aval de representantes do setor produtivo. A mudança, porém, não seria imediata. A resolução, se aprovada, prevê um cronograma para a redução nos níveis.
O alerta sobre a necessidade de mudança foi dado em 2007 com base em pesquisas feitas pela OMS que mostravam que o país era um dos maiores consumidores de iodo no mundo, numa proporção acima do que é considerado adequado. De acordo com Álvares da Silva, a discussão na Anvisa foi proposta pelo Ministério da Saúde. Um grupo de trabalho, com representantes do governo e especialistas, foi formado para avaliar a mudança.
(Com Estadão Conteúdo)
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