Na busca por um corpo mais forte e mais musculoso em curto prazo, há quem faça uso de substâncias conhecidas como esteroides anabolizantes e, para tentar amenizar os efeitos prejudiciais dessas drogas no fígado, apelam aos remédios conhecidos como hepatoprotetores, alguns até fitoterápicos, mas “o dano hepático dos anabolizantes é superior ao potencial benefício dos hepatoprotetores”, alerta do fisiologista do E. C. Pinheiros e professor da Unifesp, dr. Turibio Leite de Barros (drturibio.com).
O que é, o que é?
Barros conta que, essencialmente, o que chamamos de esteroides anabolizantes são substâncias usadas, com indicação terapêutica, na reposição hormonal. Quem faz essa indicação, em sua grande maioria, é um médico endocrinologista que diagnostica a necessidade de repor um hormônio que é produzido pelo próprio organismo e que, por algum distúrbio, não está sendo feito na quantidade adequada. “E esse uso passa a ser totalmente deturpado quando utilizado com o objetivo de ganho de massa muscular ou força”, orienta o fisiologista.
A endocrinologista Claudia Chang, de São Paulo (SP), diz que síndromes metabólicas, como a obesidade, por exemplo, têm levado a uma andropausa precoce e, diferente da menopausa feminina, que apresenta diversos sintomas bem específicos, nos homens a deficiência hormonal pode demorar a ser diagnosticada, já que os principais indícios são cansaço e sono não restaurador, que podem acometer também os jovens. “Esse paciente com deficiência de testosterona precisa se tratar e a via mais usada para a reposição é a injetável”, conta.
A orientação médica é essencial para determinar não apenas a dosagem adequada ao organismo como, também, para garantir que a reposição hormonal não vá causar danos a outros órgãos, como o fígado. “Quando falamos em reposição, estamos restaurando um nível normal. Quando esse nível normal já existe, levamos uma sobrecarga ao organismo que, geralmente, vai acometer a caixa metabólica do processamento das substâncias que estão em excesso, que é o fígado. Obviamente, nos casos em que o indivíduo usa a superdosagem, vai sobrecarregar o fígado para metabolizar essa sobrecarga hormonal e aí surgem as lesões”, ensina Barros. Dessa forma, quando não usado com indicação médica, o esteroide anabolizante vai acabar afetando o funcionamento hepático e os sintomas de que algo não vai bem são bastante individualizados e podem demorar a aparecer, levando em consideração variáveis como dosagem, frequência e estado de saúde.
Claudia diz que os anabolizantes de consumo via oral são os que mais causam problemas no fígado, mas aqueles que são injetáveis também não são isentos de riscos: “eles não afetam o fígado, mas podem levar a uma hiperestimulação prostática, que pode fazer a próstata aumentar de tamanho, causar anospermia (falta de produção de esperma), alterações no nível cardíaco, agressividade etc”. E esses problemas não cessam apenas com a suspensão da medicação, o que requer orientação e acompanhamento de médicos como endocrinologista e urologista, às vezes em conjunto.
Dessa forma, uma das formas de diagnosticar problemas causados pelo uso dos esteroides é por meio de exames constantes que vão verificar como estão os hormônios, a próstata, a função hepática e suas enzimas, entre outros.
Protetores hepáticos
Na tentativa de prevenir ou minimizar problemas no fígado, muitos usuários de anabolizantes lançam mão do uso de substâncias hepatoprotetoras, algumas até usadas na fitoterapia, como silimarina, alcachofra, óleo de prímula, boldo-do-Chile, dente-de-leão, entre outras.
“Essa é uma questão do âmbito de entendimento dos hepatologistas, mas o que a gente sabe é que tem muita substância que é pretensamente protetora hepática, mas que não funciona. Tem que avaliar a eficácia, porque o que existe realmente como ideia corrente é que eles não têm eficiência comprovada. Depende muito da circunstância”, destaca dr. Turibio Leite de Barros.
“Não sei dizer sobre a eficiência dos protetores hepáticos porque hoje, a única forma de uso dos anabolizantes orais é para estimular a procriação, mas ressalto que o profissional de Educação Física tem papel importante para alertar os usuários dos riscos do uso desses medicamentos sem orientação. Como geralmente o uso não é prescrito pelo médico, o aluno acaba contando ao treinador, que deve encaminhá-lo para atendimento”, orienta Claudia Chang.
Assim, mesmo que o usuário resolva fazer uso do esteroide concomitantemente ao hepato protetor, não há garantias de que o fígado realmente será preservado dos efeitos nocivos do anabolizante e também não há como preservar sua fertilidade sem passar pelo acompanhamento de um médico. Tanto que o fisiologista da Unifesp indica que, caso o indivíduo já faça uso do esteroide há algum tempo, procure um hepatologista para verificar se não há nenhum estrago instalado e, caso tenha a intenção de começar a usar a substância, que consulte um endocrinologista para se orientar sobre os riscos e saber qual a melhor conduta a ser adotada.
Atenção especial
Dr. Turibio Leite de Barros destaca que tem sido bastante frequente ouvir as pessoas dizerem que estão ingerindo “anabolizantes naturais” ou um estimulante da produção de “esteroides naturais”, e que isso não existe.
“Nenhuma dessas situações foge ao fato de que há uma substância esteroide envolvida e aí há implica todas as consequências já citadas do seu uso indevido ou é um placebo. Não existe anabolizante natural, aminoácido ou o que for que estimule a produção de esteroide. São situações frequentemente abordadas e que não ocorrem.”
Consultoria Técnica: Márcio Santos
Por Jornalismo Portal EF
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