Uma terapia experimental feita com um tipo de proteína conhecido como lectina foi capaz de e
stimular o sistema imunológico e aumentar a resistência contra doenças como leishmaniose, toxoplasmose e paracoccidioidomicose.
Os pesquisadores acreditam que, se funcionar igualmente em humanos, o método possa ser usado no combate a outras doenças infecciosas e a tumores.
O estudo está sendo conduzido na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, sob coordenação da professora Maria Cristina Roque Antunes Barreira.
As lectinas são proteínas capazes de decodificar as informações contidas na camada de açúcares que reveste as células. Elas são alvo de várias pesquisas porque operam em vários processos do corpo humano, como acúmulo de gordura e as infecções gastrointestinais.
"Moléculas de lectinas possuem uma região especializada para se ligar a um tipo específico de açúcar e, com isso, desencadear certas respostas na célula, que podem ser de proliferação, migração, morte celular ou produção de mediadores químicos", explicou a pesquisadora.
O grupo coordenado por Maria Cristina dedica-se a estudar lectinas capazes de induzir as células de defesa a produzir citocinas, para reforçar a resposta imunitária contra determinados microrganismos.
Todas as células animais e vegetais possuem uma camada de açúcares com estrutura bastante diversa chamada glicocálice. Além de proteger a célula, o glicocálice participa da ativação de uma série de sinais intracelulares.
Semente de jaca
Para desvendar os mecanismos de reconhecimento de açúcar na superfície das células de defesa, os pesquisadores testaram uma lectina extraída da semente de jaca - chamada ArtinM - em uma linhagem de células do sistema imunológico humano.
"A lectina de jaca, assim como de outras plantas, vem sendo usada como ferramenta em muitos laboratórios por sua capacidade de induzir a proliferação de células em cultura. Mas isso sempre foi feito de maneira empírica, não se sabia qual era exatamente a interação que ocorria", disse Maria Cristina.
Os pesquisadores observaram que a ação de ArtinM sobre células do sistema imunológico estava relacionada com o estímulo à produção de interleucina 12, uma citocina capaz de ativar um tipo de célula de defesa chamado linfócito Thelper 1 (TH1).
Os pesquisadores então testaram o efeito da proteína em dois modelos animais. No primeiro, os camundongos foram infectados com o protozoárioLeishmania major, causador da leishmaniose cutânea.
"Usamos uma linhagem de camundongos altamente suscetível ao L. major. Nesses animais, a ArtinM induziu a produção de interleucina 12, deixando-os mais resistentes à infecção", contou Maria Cristina.
No segundo modelo de estudo, os camundongos foram infectados com o fungoParacoccidiodes brasiliensis, causador da paracoccidioidomicose - doença endêmica no estado de São Paulo que causa fibrose pulmonar e pode atacar outros órgãos.
Também neste caso, a administração de ArtinM também tornou os animais mais resistentes à infecção.
Foram encontradas, em média, 300 mil colônias de fungos no pulmão dos animais não tratados. Naqueles que receberam a lectina, o número caiu para 50 mil.
"A ativação da resposta imunológica do tipo TH1 pode ser benéfica não só contra doenças infecciosas como também contra câncer. No fígado, por exemplo, temos evidências de que a administração de lectinas previne a carcinogênese", disse.
Em linhagens de células leucêmicas, os cientistas mostraram que a ArtinM foi capaz de induzir a morte das células tumorais.
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