Daniel Meyer, 13, em sua casa no Tennessee (EUA), que foi operado ainda no útero para corrigir um problema na medula (Donn Jones/AP) |
A cirurgia de correção de uma malformação na medula espinhal do feto deve ser feita ainda no útero, segundo uma pesquisa publicada nesta semana no "New England Journal of Medicine".
O estudo defende que a operação fetal tem mais sucesso no tratamento da espinha bífida (aberta) do que a feita nos bebês após o parto.
O problema surge entre a 6ª e a 10ª semana de gestação, segundo a obstetra Rita de Cássia Sanchez Oliveira, coordenadora da equipe de medicina fetal do hospital Albert Einstein.
Quando o feto é malformado, há uma falha no processo de fechamento da coluna, e a medula espinhal fica exposta ao líquido amniótico. Isso causa danos nos nervos.
"Se a medula fica exposta na gestação inteira, há consequências, como paraplegia e problemas na bexiga."
O procedimento-padrão é fechar a coluna logo após o parto. Mas essa cirurgia pode causar problemas de cicatrização. A consequência é o acúmulo de líquor (líquido que circula na medula espinhal) no cérebro. "Isso causa uma compressão que leva a retardo mental."
Para evitar a malformação, os obstetras recomendam que as grávidas tomem uma suplementação de ácido fólico, substância necessária para a divisão celular mais rápida que acontece no embrião no início da gestação.
A PESQUISA
Os resultados publicados nesta semana têm informações sobre 158 bebês que sofreram a cirurgia ou dentro do útero ou dias após o parto.
A cirurgia fetal foi feita entre a 19ª e a 25ª semana de gestação, na Universidade Vanderbilt, no Hospital Infantil da Filadélfia e na Universidade da Califórnia.
Os bebês operados no útero tiveram resultados melhores em testes de desenvolvimento mental e motor aos dois anos e meio.
Desse grupo, 42% das crianças puderam andar sem muletas ou suportes, contra 21% do segundo grupo.
A primeira cirurgia fetal feita na Universidade Vanderbilt foi em 1997. Daniel Meyer, hoje com 13 anos, usa cadeira de rodas e tem uma vida ativa: joga tênis, basquete e pesca, como conta sua mãe, Cory Meyer. "Estou feliz com a decisão que tomamos de fazer a cirurgia fetal", disse o pai, Scott Meyer.
PROBLEMAS
Os nascimentos prematuros foram mais comuns entre bebês que receberam cirurgia no útero. Foram 80% de partos prematuros, contra 15% no grupo-controle.
A operação, que corta o útero para chegar ao feto, pode impedir futuras gestações, afirma a obstetra do Einstein. "Por isso, o Conselho Federal de Medicina proibiu essa cirurgia aqui."
Em sua tese de doutorado, Oliveira fez cirurgias experimentais em ovelhas para desenvolver uma técnica que dispense o corte do útero.
O procedimento é laparoscópico e requer só dois furos no útero. "Agora, estamos buscando autorização para testes em humanos."
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