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sábado, 12 de fevereiro de 2011

MACONHA e ESQUIZOFRENIA

Fumar maconha pode adiantar em quase três anos o aparecimento de esquizofrenia e de outros quadros psicóticos.
A conclusão é de uma revisão de 83 estudos científicos já publicados sobre a relação entre o consumo dessa erva e o transtorno.
Os resultados, divulgados no periódico médico "Archives of General Psychiatry", dão mais munição a pesquisadores que se opõem à liberação da substância ilícita.
No total, os pesquisadores das universidades de New South Wales, Austrália, e Emory, EUA, avaliaram dados de mais de 22 mil portadores de distúrbios psicóticos _sendo 8.167 deles usuários de maconha.
A doença aparecia em média 2,7 anos (cerca de 32 meses) antes entre quem consumia a erva do que nos membros do grupo-controle.
"Acredito que essa relação seja de causa e consequência, e a maconha tem um papel importante [no aparecimento precoce do transtorno] em certas pessoas", disse à Folha o psiquiatra australiano Matthew Large, um dos autores do estudo.
Uma hipótese é que pessoas com predisposição genética para esquizofrenia são mais suscetíveis à influência da maconha.
Nelas, os quadros psicóticos poderiam ser desencadeados pela alteração na concentração de neurotransmissores como dopamina e serotonina, causada pela droga, o que desregularia o funcionamento cerebral.
"Pessoas com histórico familiar de esquizofrenia devem ser instruídas a jamais usar essa droga. Não dá pra arriscar", diz Hélio Elkis, coordenador do Projeto Esquizofrenia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Segundo o psiquiatra, quanto mais cedo aparece a doença, pior o prognóstico. "Se surge na adolescência, o cérebro não teve tempo de se desenvolver completamente." Isso piora o deficit cognitivo, próprio do transtorno.
Mas para Marcelo Niel, psiquiatra do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, deve-se ter cuidado ao fazer a relação direta entre esquizofrenia e uso da cânabis.
"Em alguns pacientes com vulnerabilidade, isso pode acontecer, mas há fatores que devem ser considerados", ressalva.
Niel afirma que, como a esquizofrenia geralmente começa quando os indivíduos são adolescentes ou adultos jovens, pode ser que o consumo da substância esteja mais relacionado a um hábito do grupo social naquela idade do que a uma causalidade.
"E muitos pacientes esquizofrênicos começam a fumar maconha para aliviar os sintomas do estágio inicial da doença, como ansiedade e depressão", diz.
Matthew Large, o autor do estudo, sugere: "Jovens deveriam evitar o uso de maconha ou, mais precisamente, deveriam se conscientizar sobre os seus riscos. Como informá-los disso já é outra história", completa.

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