Tatiana Amato |
Disciplina e determinação podem afastar os jovens do risco de envolvimento com drogas. É o que aponta pesquisa realizada pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo mostra que o álcool é a como a droga mais consumida entre os adolescentes - experimentada por 50,2% dos pesquisados. Tabaco (14,1%) e outras drogas (11,6%) também foram citados pelos estudantes, de um universo de 2.691 alunos do ensino médio, a maioria com idade entre 15 e 16 anos.
O objetivo da pesquisa, de acordo com a coordenadora Tatiana Amato, é ir contra a corrente: em vez de mostrar o que leva os adolescentes a recorrerem a entorpecentes, indica os fatores que os afastam do vício.
Os pesquisados foram divididos em quatro grupos; aqueles que não usam drogas, os que se utilizam de álcool algumas vezes por mês, os que consomem a bebida em maior quantidade, além de consumir tabaco e jovens que tiveram contato com outras drogas, além do álcool e do tabaco.
Os resultados, segundo Tatiana, mostraram que as principais características que diferenciam quem faz uso esporádico dos que consomem drogas com frequência são justamente a disciplina e a determinação.
- Qual foi a principal motivação para elaborar um estudo sobre o que afasta os jovens das drogas? Existem estudos que tratam das possiblidades que levam os adolescentes a consumir drogas e começamos a sentir falta de identificar o que afasta os jovens desse uso abusivo ou diminui as chances de uso. Essa falta de dados foi a principal motivação e nos deu algumas respostas sobre o que podemos fazer para prevenir o uso de drogas. Entrevistamos mais de 2,6 mil estudantes da rede de ensino particular em São Paulo - a maioria com idade entre 15 e 16 anos - e identificamos quatro grupos que têm padrões de consumo de drogas diferentes. Foi constatado que existem características que os diferenciam. As pessoas que não usam drogas são mais disciplinadas e têm maior determinação.
- Como fazer para que o jovem desenvolva essas características? Na literatura científica, encontramos estudos em que essas características estão associadas à prática esportiva e ao bom desempenho escolar, o que as torna ainda mais preciosas, já que, além de menor chance de uso de drogas, disciplina e determinação são responsáveis por outros comportamentos saudáveis. Com isso podemos pensar que, talvez, desenvolvendo outras características saudáveis nos adolescentes, a disciplina e a determinação acabem aparecendo.
- Qual o papel da família nesse processo? Quando falamos em drogas, precisamos pensar em um campo maior de fatores que influenciam o uso. Hoje em dia entende-se que o baixo monitoramento dos pais, a baixa percepção de riscos dos adolescentes e o uso precoce podem ocasionar um uso abusivo. A questão do consumo envolve a família, a escola, os amigos e os outros ambientes que o jovem frequenta. Não podemos fazer uma análise dessas como se fosse uma vacina, em que a pessoa esteja ou não imune. Um parelelo seria, por exemplo, o fato de que nem todo mundo que pratica exercícios físicos tem saúde boa, porque isso não depende também de fatores genéticos e do tipo de alimentação do indivíduo.
- Qual conselho a senhora pode dar aos pais? A disciplina e a determinação fazem parte da educação tanto dos pais quanto da escola. A forma como o adolescente é ensinado e lida com os prazos e as responsabilidades que assume é importante. Você precisa dar autonomia de uma forma que ele consiga perceber o que gosta e o que quer fazer, mas ao mesmo tempo isso implica no desenvolvimento da noção de responsabilidade.
- O que muda no comportamento do jovem quando ele começa a se relacionar com as drogas? O uso de substâncias costuma iniciar aos 12 anos de idade e geralmente o primeiro contato é com o álcool e ocorre na maioria das vezes dentro da família. Agora, focar apenas no comportamento ou no uso não traria todas as respostas. É preciso ter um olhar mais complexo sobre o assunto. Por exemplo, sobre como anda a relação com os pais, com quem os filhos andam.
- A droga ainda é tabu ou está presente nos diálogos entre pais e filhos? Existem muitos preconceitos. Você conhece uma pessoa que usa drogas e começa a depreciá-la por esse fato. Isso fecha os canais de comunicação. Então é preciso deixar o preconceito de lado para que se possa conversar sobre o assunto.
- E qual é o papel da escola nesse processo? Nos Estados Unidos alguns programas nas escolas tentam estabelecer a autonomia dos adolescente com responsabilidade e noções de autocontrole e têm se mostrado bastante eficientes. No Brasil ainda não se vê isso, mas entende-se que quando o ambiente escolar possibilita o desenvolvimento saudável, ele pode ser bastante interessante para o adolescente, talvez até mesmo aproveitando a própria pedagogia existente. Não vejo uma solução a curto prazo.
A ideia é que os estudantes tenham controle sobre suas ações, porém sabe-se que na adolescência, por sua vulnerabilidade, o indivíduo se envolve em comportamentos de risco. Esse trabalho precisa ser feito em conjunto e ser revisto constantemente.
(Fonte: Vinícius Fonseca - http://www.bonde.com.br/folhadelondrina/folha_form.php?oper=imprima&id=3421&dt=20110210)
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