Empresa quer dados confidenciais sobre jovens fumantes
A maior empresa de tabaco do mundo está tentando conseguir acesso a informações confidenciais sobre hábitos de jovens fumantes britânicos. A Philip Morris quer forçar uma universidade inglesa a revelar todos os detalhes de sua pesquisa envolvendo entrevistas confidenciais com milhares de crianças e adolescentes sobre suas atitudes quanto ao fumo e a embalagens de cigarros.
As exigências da fabricante de cigarros, feitas com base na Lei de Liberdade de Informação britânica, coincidem com uma campanha de difamação contra pesquisadores envolvidos em estudos sobre o vício de fumar – numa possível triste repetição do arsenal de truques sujos usados pelo setor para fazer crer que fumar não faz mal à saúde.
Uma das acadêmicas recebeu telefones ameaçadores em su a casa durante a noite, e acredita que elas fazem parte de uma campanha organizada pelos fabricantes para desacreditar seu trabalho, embora não haja evidência de que eles estejam diretamente envolvidos. A Philip Morris diz que tem um "interesse legítimo" nas informações, mas pesquisadores da Universidade Stirling afirmam que estariam entregando dados sensíveis no que seria uma violação de sigilo que pode comprometer estudos futuros.
Os pesquisadores também acreditam que as exigências da Philip Morris estejam tendo um efeito intimidatório na cooperação com outros acadêmicos, temerosos de partilhar seus dados não publicados, que poderiam ser entregues à indústria de cigarros.
A Philip Morris International fez seu primeiro pedido de liberação dos dados anonimamente, através de uma empresa de advocacia, em setembro de 2009. Mas o pedido foi rejeitado – as autoridades disseram que os advogados teriam de revelar o nome de seu cliente. A empresa voltou à carga agora, querendo todos os dados do Instituto de Mercado Social da universidade, sobre atitudes e comportamento de crianças e adultos fumantes. "Eles querem todo o trabalho que fizemos", disse Gerard Hastings, diretor do instituto. "São dados confidenciais sobre como jovens respondem ao marketing do tabaco. As pessoas foram asseguradas que apenas pesquisadores de boa fé teriam acesso a eles. E não vejo como a Philip Morris se encaixa neste perfil".
As informações são arquivadas como anônimas e não podem levar a seus autores. A Philip Morris disse ao Independent que não quer informações privadas sobre pessoas identificadas. Sua diretora de comunicações, Anne Edwards, afirmou que sua empresa "quer entender mais sobre um projeto de pesquisa feito pela universidade" a respeito de embalagens de cigarros.
A Stirling faz parte do Centro e Estudos de Controle do Tabaco da Grá-Bretanha, uma re de de nove universidades, e seu instituto é considerado como o mais importante em pesquisa de comportamento de fumantes do país. O instituto recebe fundos do Ministério da Saúde e de ONGs humanitárias, e suas descobertas foram usadas como evidência para apoiar leis anti-fumo.
A Cancer Research UK financiou o estudo da Stirling sobre o comportamento de fumantes adolescentes para saber porque 85% dos fumantes adultos britânicos começaram a fumar quando eram crianças.
A base de dados da universidade tem entrevistas com 5500 adolescentes para analisar suas atitudes com relação a marketing, embalagens de cigarros e displays de lojas. Perguntado sobre o que aconteceria se perdesse a luta contra a Philip Morris, Hastings disse: "Seria catastrófico. Não acho que esta seria uma coisa que eu gostaria de contemplar. É moralmente repugnante fornecer dados fornecidos a nós confidencialmente, para uma indústria que é tão voraz".
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