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segunda-feira, 23 de julho de 2012

TOXOPLASMA: a ligação entre parasita e suicídio

Toxoplasma gondii no fluido ascítico de ratos.
Biblioteca de Imagens de Saúde Pública do CDC

Protozoário unicelular pode alterar comportamento de humanos e levar hospedeiros a atentar 
contra a própria vida.
O Toxoplasma gondii é provavelmente o parasita mais interessante do planeta. 

Esse Protozoário unicelular vive e se reproduz no organismo de gatos, produzindo células ovais que
se movem com os movimentos intestinais dos felinos e são eliminadas nas fezes, prontas para
 infectar outros animais que entrarem em contato com os dejetos do animal. Uma vez em seu 
novo hospedeiro, o parasita adquire forma de cisto e se aloja em vários tecidos, incluindo os 
cerebrais. Mas o Toxoplasma só pode continuar seu ciclo de vida e atingir a fase adulta se 
conseguir entrar no organismo do gato. E o parasita evoluiu de modo a garantir que isso 
aconteça: a infecção por Toxoplasma altera o comportamento de ratos, por exemplo, 
fazendo-os perder o medo de cheiro de gatos (alguns chegam até a sentir atração
 sexual com o odor) ao sequestrar as rotas neuroquímicas no cérebro dos roedores.  

Os ratos, porém, não são as únicas vítimas do Toxoplasma: cerca de 1/3 da população
 mundial carrega esses parasitas na cabeça. E já que o Toxoplasma não tem problemas
 para afetar ratos, que têm cérebro semelhante ao nosso, cientistas querem saber como o
 parasita afeta o nosso órgão, que é grande e complexo. Por mais de uma década 
 pesquisadores investigaram de que maneira essa criatura unicelular afeta a
 forma como pensamos e descobriram que, como previsto, o Toxoplasma altera o 
 comportamento humano e pode ter influência sobre diferenças culturais entre nações.
A ideia de que esse pequeno parasita possa influencia nossa mente é antiga, mas acreditava-se 
que os efeitos colaterais da infecção fossem relativamente inofensivos. Agora, porém, há cada vez
 mais evidências de que as consequências psicológicas da infecção são muito mais sombrias
 do que pensávamos.
Em 2003, E. Fuller Torrey, do Instituto de Pesquisas Médicas Stanley, em Maryland,
e seus colegas perceberam que mulheres infectadas com quantidades altas de Toxoplasma 
apresentavam maior tendência a ter filhos esquizofrênicos. A hipótese levantada para esse
 fenômeno é que ainda que na maioria das pessoas infectadas o Toxoplasma tenha 
efeitos reduzidos, em algumas as mudanças são mais pronunciadas. E a ideia ganhou força:
 outro artigo descobriu, por exemplo, que antipsicóticos funcionavam tão bem 
quanto medicamentos antiparasíticos para restaurar o comportamento normal de ratos
 infectados, confirmando as similaridades entre problemas psicológicos e infecção por toxoplasma.
Seguindo as pesquisas com pacientes psiquiátricos, cientistas descobriram uma ligação entre 
suicídio de pessoas que já apresentavam transtornos mentais e infecção parasítica. De
 maneira semelhante, um estudo descobriu que países com altas taxas de infecção
 por Toxoplasma apresentavam também altas taxas de suicídio – mas a conexão entre os
 dois era fraca e não havia evidência direta de que mulheres que cometeram suicídio estavam
 infectadas.
O que os cientistas realmente queriam entender era se o Toxoplasma afetava pessoas
 sem predisposição a problemas psicológicos. Para isso, os níveis de anticorpos séricos
 para Toxoplasma gondii foram coletados dos filhos de mais de 45 mil mulheres, na Dinamarca, 
como parte de um estudo de triagem pré-natal – já que crianças não produzem anticorpos
 até três meses após o nascimento, os níveis de anticorpos presentes refletem a resposta 
imune da mãe. Dessa maneira os cientistas foram capazes de examinar não apenas se as
 mulheres estavam com o parasita, mas também avaliar o nível de infecção, já que altos 
 níveis de anticorpos são indicadores de infecções piores. Em seguida, eles consultaram 
o Registro de Causa Mortis da Dinamarca, o Registro do Hospital Nacional da Dinamarca 
e o Registro Central de Pesquisas Psiquiátricas da Dinamarca e investigaram a correlação
 entre infecção e violência autodirigida, incluindo suicídio.
Os resultados foram claros: mulheres com infecções por Toxoplasma tinham tendência 54% 
maior de tentar acabar com a própria vida – e uma tendência duas vezes maior de conseguir. 
Essas mulheres, em geral, tentavam suicídios violentos (usando facas ou armas, por exemplo, 
em vez de uma overdose de remédios). O mais preocupante, no entanto, é que o risco de 
tentar o suicídio foi positivamente relacionado com o grau de infecção: mulheres com 
níveis mais altos de anticorpos tinham uma tendência 91% maior de tentar suicídio, comparadas 
com as não-infectadas. A conexão entre parasitas e suicidas se manteve até mesmo para 
as participantes sem histórico de doenças mentais: entre elas, mulheres infectadas tinham
uma tendência 56% maior de cometer violência autodirigida. 
Apesar de parecerem assustadores, esses resultados fazem sentido quando pensamos
 sobre como o Toxoplasma afeta nossa personalidade. Em 2006, pesquisadores ligaram 
a infecção ao neuroticismo em homens e mulheres. O neuroticismo, como definido pela 
 psicologia, é “uma tendência contínua de experimentar estados emocionais negativos”,
 incluindo depressão, culpa e insegurança. A ligação entre neuroticismo e suicídio está bem
 estabelecida. Dessa forma, se o parasita deixa as pessoas mais neuróticas, não é surpresa
 que influencie as taxas de autoviolência.
Os autores sugerem que nosso sistema imune pode ser o culpado pelas alterações: quando 
somos infectados com um parasita como o Toxoplasma gondii, nosso sistema imune vai ao
 ataque, produzindo um grupo de moléculas chamadas citocinas, que ativam vários tipos de
 células imunes. O problema é que pesquisas recentes ligam altos níveis de citocinas à depressão 
e a tentativas de suicídio violento. O mecanismo exato por meio do qual as citocinas provocam 
depressão e outras doenças mentais ainda é pouco compreendido, mas sabemos que elas são
 capazes de atravessar a barreira sangue-cérebro e alterar neurotransmissores cerebrais como 
serotonina e dopamina.
Os autores alertam que, contudo, que correlação não é causa. “A tentativa de suicídio é um
 efeito direto do parasita sobre o funcionamento do cérebro ou uma resposta imune exagerada
 induzida pelo parasita? Não sabemos”, reforça Teodor T. Postolache, autor sênior, 
professor associado de psiquiatria e diretor do Programa de Humor e Ansiedade da 
Escola de Medicina da University of Maryland. “Não podemos dizer com certeza que o 
T. gondii provocou as tentativas de suicídios dessas mulheres”.
“Na verdade não excluímos a causalidade reversa, já que pode haver fatores de risco para
 o comportamento suicida que também tornam as pessoas mais suscetíveis à infecção por 
T. gondii”, explicou Postolache. Mas, dada a forte ligação entre os dois, há um 
potencial real para a intervenção terapêutica. “Se pudermos identificar uma relação, podemos 
ser capazes de prever quem corre risco de tentar suicídio e oferecer tratamento”. 
O próximo passo será cientistas determinarem se (e como) esses parasitas provocam
 pensamentos negativos. O dado mais preciso e preocupante é que a prevalência 
do Toxoplasma está aumentando, devido ao nosso modo de vida e à mudança climática.
FONTE:  por Christie Wilcox  http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/o_lado_negro_do_toxoplasma_a_ligacao_entre_parasita_
e_suicidio.html

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