A estimativa é que uma em cada 88 crianças tem o transtorno
do espectro autista (TEA), segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças
dos Estados Unidos (CDCs, na sigla em inglês).
O termo “espectro” significa que
há vários graus do distúrbio, mas todos compreendem, em menor ou maior
intensidade, os seguintes sintomas: profunda ausência de habilidades sociais,
baixa capacidade de comunicação e comportamentos repetitivos, apatia, aparente
surdez, ausência de expressões faciais de afeto. Independentemente da gravidade
da manifestação, há problemas de interação social.
Humanos têm disposição
inata para relacionamentos e comunicação: somos sensíveis às expressões faciais,
reagimos a elas. Nas crianças autistas, no entanto, algo falha nesse contato
inicial.
Para a psicanálise, os sintomas podem se manifestar como um refúgio
defensivo, desencadeado por experiências emocionais traumáticas. O psicanalista
Alfredo Jerusalinsky, especialista em autismo, considera que o transtorno é uma
interação entre causas neurobiológicas e experiências traumático-psicológicas
nas relações primordiais entre mãe e bebê. Em outras palavras, a manifestação
inicial de algum sintoma de origem orgânica afasta o bebê do ideal dos pais. Se
desistem de estimular a criança, o quadro se agrava.
A boa notícia é que
as chances de melhora dos sintomas são significativas quando o diagnóstico é
feito até os primeiros dois anos de vida. Nesta fase, considerada por muitos
especialistas em desenvolvimento infantil um divisor de águas, ocorre uma
mudança considerável nas habilidades de intuição social e na aquisição de
linguagem. Psicanalistas especializados em crianças e adolescentes têm estudado
formas de estimular o autista de forma adequada. Estudos recentes têm mostrado
que abordagens que utilizam o “manhês” – linguagem caracterizada por entonações
de voz e ritmos específicos que adultos usam instintivamente ao se dirigir aos
filhos pequenos – e expressões faciais exageradas podem ser eficazes para tentar
inserir a criança no universo da expressão verbal.
Mesmo em casos em que
os sintomas são mais intensos, possivelmente associados a causas
neurobiológicas, o atendimento psicanalítico precoce e contínuo pode contribuir
para o desenvolvimento psíquico – o profissional pode ajudar os pais a entender
o transtorno, apontando caminhos para lidarem com as culpas, frustração das
expectativas, angústias e dores. Enfim, mostrar-lhes a real possibilidade de se
tornarem aliados no desenvolvimento da criança.
FONTE: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/de_costas_para_o_mundo.html
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