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sábado, 12 de março de 2011

Jornal Zero Hora traz caderno sobre tabaco patrocinado pela Souza Cruz. Jornalismo?

Segundo a Organização Mundial de Saúde, são 5,4 milhões de mortes por ano no mundo causadas pelo cigarro, uma morte a cada seis segundos. Duzentas mil mortes por ano no Brasil. Nenhum desses dados está no caderno Campo & Lavoura desta sexta-feira, em Zero Hora.. E o caderno é especial sobre tabaco, com grande destaque na capa do jornal.
São 12 páginas, e a quase totalidade dos textos trata de tabaco, sempre pelo viés econômico. “Os desafios do tabaco”, “Para resgatar a competitividade”, “Pesquisa mostra impacto do tabaco no ICMS”, “As oportunidades de renda”, “À espera de uma safra farta”. Esses são os títulos. Estímulo à produção e à aceitação social da cultura do tabaco. “Gera dinheiro para o governo, através do ICMS, gera emprego e renda para a população”. Essas são as ideias gerais defendidas ao longo do caderno.
Há um texto entitulado “Conferência define novas restrições”. Se alguém achou que aí estariam comentários negativos – ou ao menos neutros – a respeito do uso indiscriminado e da comercialização do tabaco a todo custo, passou longe do que na verdade aconteceu. A linha de apoio já dá uma pista: “A proibição da adição de açúcares afetaria toda (sic) o setor produtivo”. As fontes da matéria são o vice-presidente da Afubra e o presidente do Sinditabaco, além de uma integrante da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O texto lamenta as restrições que poderão passar a ser aplicadas, que visam impedir que o cigarro se torne mais atrativo ao consumo.
Em um comentário à matéria principal, na página 3, o repórter Irineu Guarnier Filho lamenta: “A política cambial brasileira está conseguindo o que nenhuma campanha antitabagista conseguiu até agora: nocautear a indústria de tabaco instalada no país. O setor resistiu bem às mais agressivas campanhas contra o fumo. Mas começa a perder a luta para um adversário ainda mais poderoso: o dólar abaixo de R$ 1,70”.
Achas que poderia ser diferente? Que a Zero Hora poderia fazer um caderno de interesse público sobre o tabaco? Ora, convenhamos. É só dar uma olhada nos patrocinadores do tal caderno. Meia página para um anúncio da Souza Cruz, outra meia página para anúncio da Philip Morris Brasil. 5,4 milhões de mortes por ano no mundo, duzentas mil mortes por ano no Brasil? Não importa. Em uma empresa que visa apenas o lucro, o patrocinador é o verdadeiro dono do jornal, é para seus interesses que o veículo trabalha.
A relação de Zero Hora com alguns de seus anunciantes já foi comentada em outros posts do Jornalismo B, como ESTE e ESTE.
Construtoras, revendedoras de automóveis, indústria do tabaco. São esses alguns dos principais financiadores do jornal.
A Souza Cruz, pasmem, patrocina o caderno de meio-ambiente, o “Nosso Mundo Sustentável”. Agora é um caderno especial sobre tabaco que não fala dos malefícios do fumo. Por ano, o cigarro mata, no mundo, quase cinco vezes mais do que os acidentes de trânsito, segundo a OMS. Hipocritamente, Zero Hora faz campanhas pelo fim da violência no trânsito, pelo fim do crack, enquanto estimula a produção e o comércio de um assassino em serie muito mais atuante.
Postado por Alexandre Haubrich, no Jornalismo B, em 28/01/2011

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