Dor crônica afeta quase 30% de idosos e prejudica mobilidade
Aproximadamente 30% das pessoas com mais de 60 anos sente pelo menos uma dor contínua há mais de seis meses. Além disso, segundo a enfermeira Mara Solange Gomes Dellaroza, os locais de queixa mais frequentes são as costas e os membros inferiores. Sob orientação da professora Cibele Andruccioli de Mattos Pimenta, Mara realizou uma pesquisa na Escola de Enfermagem (EE) da USP onde avaliou e caracterizou os idosos que sofrem de dor crônica na cidade de São Paulo.
A enfermeira analisou os resultados do estudo Saúde, Bem Estar e Envelhecimento (SABE) relativos ao município de São Paulo, coletado no ano de 2006. O SABE é um estudo epidemiológico de base populacional, conduzido pela Faculdade de Saúde Pública (FSP), também da USP.
Na pesquisa, foram entrevistados 1.271 idosos, uma amostra representativa e aleatória correspondente aos 969.560 que viviam no município de São Paulo no ano de 2006 (dados do SABE), já que o estudo sorteou habitantes de todos os distritos da cidade. A porcentagem deles que apresentam dor crônica foi de 29,7%, o que representa em torno de 300 mil idosos em São Paulo. O estudo considerou idosos aqueles com mais de 60 anos e dor crônica aquela que persistia por mais de seis meses.
Outros resultados encontrados caracterizam esta população idosa com dor crônica. A maioria dos casos (66,5%) ocorre em mulheres e os afetados têm maior dependência nas atividades da vida diária e menos mobilidade. Isso também é explicado devido os lugares mais frequentes de dor serem a região lombar das costas e os membros inferiores ou as pernas. “Quem tem dor se movimenta menos, sai pouco de casa e consegue fazer o autocuidado com mais dificuldade”, ressalta Cibele. Isso mostra que há impacto financeiro na vida dos idosos com dor, já que, além da procura por serviços de saúde, recorrem mais à ajuda dos familiares.
Além disto, Mara percebeu que a renda do idoso relacionou-se com as dores que ele sente. Quase 43% dos pesquisados que apresentavam dor intensa há mais de 6 meses recebiam até 1 salário mínimo mensal. Entre os entrevistados quer ecebiam mais de três salários mínimos a dor intensa ocorreu em apenas 17%.
Não houve diferença estatística no uso dos serviços de saúde entre idosos com e sem dor. Isso é explicado devido à alta incidência de outras comorbidades em idosos, como hipertensão e diabetes, pois estes problemas já os levam a internações médicas. Os entrevistados com dor há mais de dois anos apresentaram chance 33% menor de recorrer ao serviço de saúde do que aqueles que sofrem com a dor crônica entre um e dois anos. Ou seja, quanto mais tempo o idoso sofre com a dor menos ele procura ajuda nos serviços de saúde. A pesquisa considerou usar os serviços de saúde ter tido mais de quatro consultas e/ou no mínimo uma internação no último ano.
Quedas
Aproximadamente um terço dos idosos com dor crônica (31,6%) havia sofrido queda no último ano, tendo, em sua maioria (58,9%), caído uma vez neste período. Uma parcela significativa (27,6%) caiu três vezes ou mais. O risco de queda se mostrou 50% maior naqueles que apresentavam dor associada à osteoporose e 48% maior nos que tinham também incontinência urinária. Cibele adverte que, “quando um idoso cai, o risco de fratura de cabeça de fêmur, de bacia, quadril, é muito alto e isto significa ficar acamado, passar por cirurgias como a colocação de pinos e isto muitas vezes acaba resultando a morte do idoso”.
A pesquisa confirma que o envelhecimento ainda não é um processo saudável, afirma a orientadora. Para mudar esta realidade, os dados analisados no estudo podem orientar o poder público na elaboração de programas de saúde para o município de São Paulo direcionado a população idosa com dores crônicas. A pesquisa resultou na tese de doutorado Idosos com dor crônica, relato de queda e utilização de serviços de saúde: estudo SABE, defendida em junho de 2012 na EE.
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
FONTE: http://www.usp.br/agen/?p=136727Mais informações: email maradellaroza@usp.br, com Mara Dellaroza
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