Elena Mandarim
Fotos: Vinicius Zepeda |
Estudantes da Escola Municipal Paulo Freire preparam-se para jogar rugby com as cadeiras de rodas adaptadas |
Embora pouco conhecido dos brasileiros, o rugby é o segundo esporte coletivo mais praticado e assistido em todo o mundo, com cerca de três milhões de jogadores inscritos em ligas associadas à International Rugby Board – o IRB, órgão máximo do esporte. É, inclusive, uma excelente opção para ser praticada por deficientes físicos em cadeiras de rodas. Tanto que nesta terça-feira, dia 3 de abril, dez cadeiras de rodas infantis para a prática de rugby foram entregues à Escola Municipal Paulo Freire, em Niterói. A solenidade, que ocorreu na própria escola, consolidou o projeto "Desenvolvimento de equipamentos para massificação dorugby a partir da inclusão do esporte na rede pública de ensino", desenvolvido por pesquisadores/empreendedores do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), sob a coordenação de Maria Carolina Santos, e financiado pela FAPERJ, no edital Apoio à Inovação em Esportes. Conhecido como "Eu jogo rugby. E você?", o projeto contou, ainda, com a parceria das secretarias municipais de Educação e de Esportes de Niterói, da Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas (ABRC), do Niterói Rugby Football Clube e da empresa Alphamix.
Presentes à mesa de abertura do evento, a secretária municipal de Educação do município de Niterói, Maria Inês Azevedo de Oliveira, e o secretário municipal de Esporte, Carlos Eduardo Caminha, destacaram que a prática de qualquer esporte é uma ferramenta de inclusão social, que ajuda a criança desenvolver o espírito de coletividade e o respeito ao próximo e às regras. Maria Inês ressaltou, ainda, que a prefeitura de Niterói está atenta às questões de inclusão social de deficientes físicos, tanto que criou a Secretaria Municipal de Acessibilidade e Cidadania. "Acreditamos que a semente plantada na escola Paulo Freire pode se espalhar por outras escolas municipais. E aproveito a ocasião para firmar um novo compromisso: assim como apoiamos esse projeto do INT, estaremos abertos a novas ideias", conclui.
Citando o trecho do hino nacional brasileiro, "Verás que um filho teu não foge à luta", o vice-presidente do, agora chamado, Comitê Paralímpico Brasileiro, Luiz Claudio Pereira, falou como a equipe do INT aceitou o desafio de desenvolver cadeiras de roda para a prática de rugby. "A luta não era fácil, mas durante dois anos de projeto, observamos a equipe trabalhar de forma incansável para hoje oferecer cadeiras de rodas infantis dentro das normas internacionais de qualidade e segurança. Esse, com certeza, é um passo importante para a popularização desse esporte", entusiasma-se Luiz Claudio.
A coordenadora Maria Carolina Santos destaca que o rugby ajuda na inclusão de alunos deficientes |
Maria Carolina destacou que a campanha "Eu jogo rugby. E você?", que tem como piloto o município de Niterói, promove a inovação tecnológica para massificação tanto do rugby convencional quanto do quad-rugby, que é a modalidade praticada por deficientes físicos. "Além da escola Paulo Freire, que servirá como polo para a prática do jogo em cadeira de rodas, cinco outras escolas já têm o rugbyconvencional incluído entre suas práticas de educação física, entre elas a Escola Municipal Ayrton Senna", conta a pesquisadora.
Desenvolvidas por profissionais da área de Desenho Industrial do INT, as cadeiras específicas para crianças de sete a 14 anos são inéditas no mundo e levam em conta as dimensões e as necessidades específicas desse grupo. Embora o quad-rugby só possa ser competido a partir dos 16 anos, Maria Carolina ressaltou que popularizar o esporte, principalmente entre o público infanto-juvenil, significa dar o pontapé inicial para a formação de novos atletas. "Temos duas meninas com chances reais de se tornarem atletas paraolímpicas. A Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), por exemplo, já mostrou interesse em treinar uma delas. É Ana Julia Querne, que quando nasceu foi diagnosticada com paralisia cerebral e tem sequelas tanto na fala e na visão quanto dificuldades de movimentação nos quatro membros", exemplificou Maria Carolina, lembrando que, desde 2000, o quad-rugby é uma modalidade paraolímpica e nas olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro, o esporte voltará a ser incluído entre as modalidades olímpicas.
A solenidade de entrega das dez cadeiras de rodas infantis para a prática de rugby terminou com um ‘bate-bola’ informal entre alunos da escola Paulo Freire e para-atletas da seleção brasileira e de outros times de quad-rugby. Estiveram também presentes a coordenadora de Articulação e Representação Institucional do INT, Andréa Lessa, o professor José Antônio Barroco, representando a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia de Niterói, e a diretora da escola Paulo Freire, Livia da Silva Soares Busquet.
Um projeto inovador
À esquerda, a cadeira de rodas com o parachoque preto, usada para defesa; à direita, a dos jogadores de ataque |
A proposta básica do projeto foi buscar desenvolver ou melhorar equipamentos usados na prática de rugby, com o objetivo de massificar o esporte, primeiramente, no município de Niterói e depois expandir para todo o estado do Rio de Janeiro ou, quem sabe, para todo o Brasil. Como resultados, também já foram apresentados os protótipos de outros dois equipamentos: a baliza "H", utilizada para a marcação dostries (que correspondem ao gol do futebol), aprimorada para melhor transporte e adaptação aos campos; e o contact pad, escudo de proteção almofadado, usado nos treinos, que recebeu melhorias.
Para alcançar essas metas, foi preciso investir em outros dois pontos. O primeiro foi a capacitação dos professores de Educação Física da rede pública de ensino, que aprenderam com atletas de rugby tradicional e em cadeira de rodas as regras do jogo e sua importância no cenário mundial. A partir daí, os professores passaram a atuar como multiplicadores dentro de seu ambiente de trabalho.
O segundo foi difundir o esporte entre os alunos, com a realização de atividades lúdicas com as crianças, realizadas pelos mesmos atletas em diversos workshops promovidos pelo projeto. Nesse ponto, a participação dos pais foi essencial para incentivar a prática do esporte, principalmente entre crianças com deficiência física. Uma questão bastante abordada foi que o rugby em cadeira de rodas é mais inclusivo do que outros esportes, como basquete, futebol e vôlei, por permitir que até mesmo pessoas com tetraplegia, paralisia cerebral e amputados possam jogar.
No quad-rugby, podem jogar, ao mesmo tempo, atletas do sexo masculino e feminino. A partida é disputada por dois times de quatro jogadores, que recebem uma pontuação de acordo com seu grau de deficiência, variando de 0.5 (maior deficiência) a 3.5 pontos (menor deficiência). Essa regra serve para equilibrar as equipes, que não podem ultrapassar os oito pontos. As cadeiras são diferentes para o ataque e para a defesa, que, por exemplo, apresenta um parachoque na frente e é utilizada para interceptar o jogador adversário. O objetivo do jogo é ultrapassar, com a posse da bola, a linha de fundo do outro time.
Segunda a coordenadora do projeto, a fase atual é consolidar a prática do rugby com os alunos durante as aulas regulares de Educação Física, nas escolas públicas de Niterói. "Mas o projeto não para por aí. Nosso objetivo é continuar o desenvolvimento de outros equipamentos no INT", explica Maria Carolina Santos, que conclui: "Nossa maior gratificação é observar a integração das crianças por meio do esporte. A felicidade delas é o motor para continuarmos."
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