ALIMENTAÇÃO INADEQUADA
Abrindo a palestra “Atualização da epidemia global de obesidade”, a professora Mary Schmidl, do Departamento de Nutrição e Ciência dos Alimentos da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos forneceu alguns números: estima-se que um quinto da população mundial esteja com excesso de peso. Entre estes, há 300 milhões que são considerados obesos e com aumento substancial nas últimas décadas.
A pesquisadora , que participou do 8º Simpósio Latino-Americano de Ciências de Alimentos, recentemente realizado na UNICAMP, levantou eventuais motivos para explicar o crescimento da epidemia em todo o mundo e quem seriam os responsáveis.
“Inicialmente considerada um mal de países desenvolvidos, hoje a obesidade tem sido encontrada também nas nações em desenvolvimento, paradoxalmente ao lado da subnutrição; é uma doença que está em todas as faixas etárias, grupos étnicos, classes sociais, tanto homens quanto mulheres. Essa espécie de onipresença motivou a criação do termo ‘globesidade’ (globesity, em inglês)”, contou.
Segundo Mary não há um vilão único para a epidemia. A escalada da obesidade teria muitos responsáveis, como a indústria alimentícia, políticas públicas, escolas, restaurantes, comunidades, pais e os próprios indivíduos.
A pesquisadora apontou exemplos. A indústria e os comerciantes de alimentos estariam habituando os consumidores a porções cada vez maiores. Garrafas de refrigerante, hambúrgueres, pacotes de salgadinhos, caixas de cereais, entre outros produtos industrializados, têm aumentado de tamanho nos Estados Unidos desde a década de 1970. “A porção recomendada de batatas fritas por pessoa é de cerca de seis unidades (palito) por dia e a porção que estamos nos servindo tem cerca de 500 gramas".
Os países em desenvolvimento, como o Brasil, não ficam de fora. Segundo a professora da Universidade de Minnesota, os países emergentes representam os mercados mais promissores para as indústrias de refrigerantes, por exemplo, cujas vendas se encontram estabilizadas nos países mais ricos.
Os governos também têm a sua parte de culpa. As políticas públicas teriam muito ainda a avançar. Uma ideia é sobretaxar alimentos menos saudáveis e estimular o consumo de vegetais. “Se o governo estipulasse um imposto de US$ 0,01 para cada onça (28,3 gramas) de refrigerante vendido, só na cidade de Nova York seriam arrecadados US$ 1,2 bilhão por ano”, disse.
A pesquisadora também coloca parte da responsabilidade nos próprios consumidores. Segundo ela, cada um teria que ter um compromisso com a sua saúde, não só procurando melhorar a qualidade e adequar a quantidade dos alimentos consumidos como também criar hábitos de fazer exercícios físicos.
“Precisamos dar cerca de 10 mil passos por dia. Parece muito, mas não é”, disse. Pelos mesmos motivos, as comunidades também são culpadas pelo sobrepeso de seus integrantes. Bairros, clubes, igrejas e outras associações deveriam estimular a prática de exercícios físicos de modo a auxiliar na criação de uma cultura saudável.
Os resultados das pesquisas feitas pela cientista também sugerem outras soluções, como fazer campanhas focadas nas crianças, que têm alto grau de influência sobre os pais.
Mary também propõe a rotulagem de alimentos explicitando a sua caloria e composição nutricional (o que já ocorre no Brasil) e a proibição das máquinas automáticas de guloseimas, que são mais comuns nos Estados Unidos. Para ela, essas máquinas deveriam vender somente água mineral, um produto cujo consumo, segundo ela, deveria ser mais incentivado de maneira geral. (Fonte: FAPESP)
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