Alexandre Borges: “Comecei a fumar”
O ator Alexandre Borges diz que se arrepende de ter começado a fumar e fala da dificuldade de largar o vício
"Meu
maior erro foi ter fumado o primeiro cigarro, aos 24 anos. É um erro do qual me
arrependo, mas não consertei. Ainda não consegui parar.
Venho
de uma geração que não era completamente informada sobre os perigos do cigarro.
Fumar era charmoso, principalmente no meio do teatro e do cinema. Comecei quando
fui morar um ano e meio em Portugal, no início dos anos 1990. Fazia parte de um
grupo de teatro chamado Boi Voador. O diretor foi convidado para levar a
peça Gota
d’água, de Chico Buarque, para o país. Fui como assistente de direção e
acabei ficando por lá. Morei no Porto. Ao contrário do Brasil, alegre e
tropical, Portugal tem um clima de melancolia, uma coisa bem Fernando Pessoa.
Fado, bar, café, vinho e cigarro. Naquela época, era um lugar em que se fumava
muito. Tinha uma ideia romântica do cigarro. Como se ele estivesse ligado à
criação, ao pensamento, à poesia. Essa boemia me fascina tanto que hoje estou
fazendo um projeto chamado Poema Bar, em que recito Fernando Pessoa e Vinícius
de Moraes, acompanhado por um pianista que toca fado e clássicos.
Não
estou enaltecendo o cigarro. Quero parar mesmo. Já consegui ficar sem ele
durante um ano. Logo depois, em 1998, fiz uma peça – mais uma vez em Portugal! –
e tive de fumar no palco. Comprei um cigarro de ginseng, mais natural. Só que
fedia. Comprei um normal e não larguei mais. Hoje fumo um maço por dia. Minha
vida de fumante não é escancarada. Nunca fumo dentro de casa. Vou sempre para o
terraço ou para a janela. Também não me desespero por ficar sem fumar num avião,
durante 12 horas. Aguento bem.
Sou
o único fumante de casa. A cobrança para parar vem de todo lugar. Na rua, as
pessoas me falam “o cigarro vai te matar” ou “fumei durante 50 anos, não faça
isso!”. Ando sempre com um chicletinho. Escovo o dente depois ou bochecho. Não
estou em processo de parar de fumar ainda, mas não quero ser um velhinho
tossindo o tempo todo. Acho legal assumir esse erro, porque não é saudável e
traz consequências terríveis. Para me manter saudável, ando sempre na Lagoa e
faço caratê há sete anos. Sou faixa roxa. Minha mulher, Júlia (Lemmertz),
se preocupa com a comida aqui de casa. Tem sempre legumes por causa do meu filho
Miguel. Comemos castanha e granola, essas coisas saudáveis. Eu me cuido em tudo
o que é possível e um dia vou parar com o cigarro.
O
melhor é não começar, não fumar o primeiro maço. É muito difícil largar. E
sempre tem um gatilho para voltar. Um cigarrinho na hora de ler o texto e
decorar. Mais um para espantar um pouco o tédio, a solidão e a carência. Acho
ótimo que hoje os jovens tenham consciência sobre os males do cigarro e que seja
proibido fumar em lugares fechados. Concordo com tudo. O problema é a facilidade
para comprar. Até menores de idade conseguem. Acho importante dar esse
depoimento para os jovens e também para os fumantes. Taí um erro que vale
superar."
FONTE: REvista Época, 28/08/2012
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