Câncer de próstata: novo medicamento pode ajudar
quem tem a doença em estágios avançados (Creatas
Images/Thinkstock)
A fase final de testes clínicos feitos com a Enzalutamida, uma nova droga
para tratar câncer de próstata, mostrou que o medicamento promove uma maior
sobrevida entre pacientes com a doença em estágio avançado em comparação com a
quimioterapia tradicional. O tempo médio em que a expectativa de vida desses
homens se estendeu foi de cinco meses e a substância surtiu efeitos colaterais
'muito mais baixos' do que as já existentes. Os resultados, publicados nesta
quinta-feira no periódico The New England Journal of Medicine, se
aplicaram a pacientes que já haviam passado tanto pelos tratamentos hormonais
(que são usados como primeira opção) quanto pela quimioterapia.
"Esse é um grande avanço, pois não somente houve aumento da
sobrevivência, mas também a qualidade de vida desses pacientes, com menos
efeitos colaterais, foi melhorada", diz Thomas Flaig, diretor do Centro de
Investigação Clínica em Câncer da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.
Flaig foi um dos autores desse estudo, que ficou conhecido pela sigla
AFFIRM.
A terceira fase dos testes clínicos envolveu 1.199 pacientes
que haviam sido diagnosticados com câncer de próstata e cuja doença havia
progredido mesmo com tratamentos hormonais e quimioterapia. Dois terços desses
homens receberam a droga estudada, a Enzalutamida, e o restante, doses de
placebo. A expectativa de vida média dos participantes que tomaram o medicamento
foi de 18,4 meses, enquanto a do dos pacientes que receberam placebo foi de 13,6
meses. Além disso, os homens que tomaram a droga apresentaram uma melhora em
aspectos como retardamento da progressão da doença e melhores resultados nos
exames de PSA.
Mecanismo — De acordo com os autores da
pesquisa, quando tomada uma vez ao dia, via oral, essa droga bloqueia a
capacidade de as células cancerígenas se ligarem aos andrógenos, hormônios como
a testosterona, que ajudam no crescimento do câncer de próstata. Isso acontece
pois a própria substância se liga aos receptores de andrógenos das células
cancerígenas, tornando-se uma 'concorrente' dos hormônios na disputa por esses
receptores. "Estamos em um período de renascimento no tratamento médico de
câncer de próstata. Mesmo nessa fase inicial, a Enzalutamida é um divisor de
águas”, diz Flaig.
Cesar Câmara, urologista do Hospital Sírio-Libanês, explica
que, atualmente, o tratamento que tem como alvo a ação dos hormônios busca
bloquear a ação da testosterona. Ou seja, é outro tipo de mecanismo. "No
entanto, quando os pacientes passam a ser resistentes a essas drogas, eles
recebem a quimioterapia", diz. "Esse medicamento pode, quem sabe, ser uma
ferramente aplicada antes da quimioterapia, adiando a adoção desse procedimento
que é tão agressivo." Para Câmara, embora uma expectativa de vida cinco meses
mais pareça pouco, representa um grande avanço no tratamento da doença,
especialmente pelo fato de promover esse aumento com qualidade de vida aos
pacientes.
Opinião do especialista
Wilson Bachega Junior
Cirurgião oncologista do Hospital A. C. Camargo
Cirurgião oncologista do Hospital A. C. Camargo
"Nós já
estávamos de olho para sabermos os resultados dos testes finais dessa droga. É
um grande avanço, pois agora sabemos o quanto ela prolonga a expectativa de vida
desses pacientes, os seus efeitos colaterais e a sua dosagem. Além disso, os
testes foram feitos com um número considerável de participantes.
Novos
estudos devem mostrar as outras formas pelas quais o medicamento poderá ser
aplicado. Ou seja, se ele é eficaz antes da quimioterapia ser feita ou até mesmo
se ele pode ser utilizado como primeira opção de tratamento, inclusive em casos
de cânceres localizados (que não tiveram metástase).
Isso
representaria um grande avanço, já que seria possível tratar um tumor em fase
inicial com um comprimido, e não com um procedimento cirúrgico, que é invasivo.
E sem efeitos colaterais. O doente nem sentiria fisicamente o tratamento. É o
tratamento que os médicos estavam esperando.
Novas
pesquisas também poderiam mostrar se a droga poderia melhorar os efeitos de
outros tratamentos, como a própria quimioterapia ou a radioterapia, garantindo
uma maior chance de cura entre pacientes.”
Saiba mais
PSA é a sigla em inglês para antígeno prostático específico, uma proteína produzida pelas células da próstata e considerada um importante marcador biológico para determinar quais homens precisam de biópsia e quais deles têm menor risco de desenvolver o câncer de próstata. O exame de PSA sozinho, no entanto, não é capaz de fornecer informações suficientes para determinar se o paciente tem ou não a doença.
FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/novo-medicamento-para-cancer-de-prostata-aumenta-sobrevida-de-pacientes-com-doenca-em-estagio-avancado
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