Tratamento pioneiro com célula-tronco para silicose pulmonar é eficaz
Primeiro resultado conclusivo de pesquisa da UFRJ mostrou melhora de 5% no funcionamento pulmonar
Aretha Yarak, de Águas de Lindóia
A silicose pulmonar, quando em estágio avançado,
reduz drasticamente a capacidade respiratória do paciente, fazendo necessário o
uso de respiradores artificiais (Thinkstock)
O uso de células-tronco para o tratamento de pacientes com silicose pulmonar
se mostrou eficiente em barrar a progressão da doença em um ano de
acompanhamento. A inserção dessas células por broncoscopia consegue ainda
melhorar em 5% o funcionamento das áreas do órgão que não foram afetadas pela
sílica. O resultado do estudo foi apresentado durante a Reunião Anual da
Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), que terminou neste
sábado em Águas de Lindóia, interior de São Paulo.
Saiba mais:
CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, podem se
transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo humano e dar origens a
outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue. Dada essa versatilidade,
vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos de pessoas
doentes
A silicose pulmonar é uma doença causada pela inalação da poeira de sílica. O
problema afeta principalmente funcionários da construção civil e pessoas que
trabalham com lapidação de jóias e com jateamento de cascos de navio com jato de
areia. Ao entrar nas vias respiratórias, essa poeira se deposita nos alvéolos
pulmonares e fica ali para sempre. Como o organismo não consegue destruir a
sílica, um processo inflamatório lento e contínuo é instalado no local. O
resultado é a formação de um tecido de cicatrização que vai tomando todo o
pulmão – que acaba por perder sua função. Assim, o paciente desenvolve
insuficiência respiratória. Estima-se que cerca de 6 milhões de brasileiros
foram expostos à poeira de sílica.
Uma técnica criada pelo pesquisador Marcelo Morales, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), é pioneira no mundo. “As células-tronco modularam o
processo inflamatório e acabaram por impedir a evolução desse processo”, diz. O
tratamento consiste na ingestão, via broncoscopia, de células-tronco adultas
derivadas da medula óssea do próprio paciente, e se mostrou eficaz em barrar o
crescimento da fibrose. Ele não regenerou, no entanto, aquelas células que já
haviam se tornado tecido cicatrizado. “Nos modelos animais, percebemos ainda que
será necessário a aplicação de mais de uma dose, porque a doença volta a crescer
depois de um tempo.”
Teste em humanos – Os testes para conferir a segurança do
procedimento começaram há mais de um ano, mas só chegaram a resultados
conclusivos agora. Eles foram realizados em cinco voluntários. “No dia seguinte
após a broncoscopia, os pacientes já estavam em casa”, diz Morales. Depois de um
ano de acompanhamento, não foram registrados reações ou quaisquer tipos de
efeitos adversos. Nenhum dos pacientes teve ainda uma piora do quadro
respiratório. Agora, com o fim da fase de pesquisas de segurança, o próximo
passo é dar início à fase de eficácia. Segundo Morales, a ideia é que cerca de
30 pacientes participem dos testes.
Pacientes com caso muito avançado da doença, no entanto, não poderão se
beneficiar da nova técnica – quando aprovada. Isso porque, como não tem a
capacidade de regenerar o pulmão, mas sim barrar a evolução da doença, as
células-tronco não reestabelecem a função respiratória gravemente prejudicada.
Para esses pacientes, a chance de tratamento está apenas em um transplante
pulmonar. “Em um estágio intermediário, o paciente já poderá vir a se beneficiar
da terapia”, diz Morales.
Grupos de pesquisa da UFRJ têm estudado ainda o uso de células-tronco em
outras doenças respiratórias, como asma e lesão pulmonar aguda. Os resultados
obtidos até o momento foram positivos.
FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/tratamento-pioneiro-com-celula-tronco-para-silicose-pulmonar-se-mostrou-eficaz
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