Quais são os aditivos presentes nos cigarros vendidos no país? O nível de
nicotina é o informado pelo fabricante?
Essas questões começarão a ser respondidas por um laboratório-piloto de
fiscalização do cigarro, que será inaugurado na segunda-feira, no Rio, pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pelo INT (Instituto Nacional
de Tecnologia).
Usando duas "máquinas de fumar", que produzem a fumaça a ser analisada, o
laboratório vai adaptar para a realidade local metodologias internacionais de
análise do cigarro e capacitar os futuros fiscais da Anvisa.
Editoria de arte/folhapress | ||
Paralelamente, o laboratório deve desenvolver um ramo de pesquisa pouco
explorado hoje no mundo, que permita identificar e quantificar os aditivos (como
sabores e aromas, banidos pela Anvisa neste ano) do cigarro, diz Simone
Chiapetta, do INT.
As pesquisas sobre aditivos podem dar suporte a novas regulações pela Anvisa
e pela OMS (Organização Mundial da Saúde), diz ela.
Segundo Chiapetta, os resultados do piloto devem sair até o fim do ano.
Haverá uma troca de informações com o laboratório americano de análises --a
cooperação será assinada na segunda.
O laboratório do Rio é o sexto público do mundo e o primeiro da América
Latina com foco único na análise do fumo.
A ideia é que ele atenda a toda a região. O projeto custou R$ 4 milhões aos
cofres públicos.
Agenor Álvares, um dos diretores da agência, classifica o laboratório de
"joia da coroa", já que vai permitir verificar se a indústria do tabaco é
transparente nas informações que presta --principalmente em 2013, quando os
aditivos serão banidos.
"O grande temor é constatatarmos que as informações do registro na Anvisa não
são verdadeiras."
BUROCRACIA
Mas essa confirmação só poderá ser feita quando a Anvisa fechar uma licitação
que se arrasta há anos e construir o laboratório definitivo --o piloto não tem
condição de atender à demanda de fiscalização do mercado.
"Depois de oito anos, não conseguimos vencer o processo de licitação para
construir esse laboratório. Perdemos a oportunidade de usar R$ 8,3 milhões
previstos nos orçamentos dos últimos anos", afirma Álvares.
O "plano B", continua, é uma parceria que está sendo costurada com a
Aeronáutica. "Estamos negociando usar um espaço no laboratório de medicamentos
deles."
Paula Johns, diretora-executiva da ONG ACT (Aliança de Controle do
Tabagismo), diz que é válida a proposta de pesquisar o cigarro e seus aditivos,
mas pondera o investimento no projeto frente a desafios urgentes, como o fim da
publicidade nos pontos de venda e a regulamentação dos ambientes livres de fumo
--já atrasada.
Ela diz que análises como essa são "um terreno espinhoso" e que é menos
importante constatar os níveis das substâncias do cigarro. O melhor seria evitar
o uso desses teores na publicidade.
"O impacto [na saúde da variações nas substâncias] é quase nulo. A indústria
usou os limites permitidos de cada substância como engodo, como o 'cigarro
light'."
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Fonte: Folha, 11/8/12 -JOHANNA NUBLAT - DE BRASÍLIA
Aliança de Controle do Tabagismo
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