Cerca de 90 de jovens, atletas de pouca idade, fortes e competitivos, em sua melhor condição física, morrem todos os anos, normalmente durante o período de competições, vítimas de parada cardíaca. Mas um novo estudo sugere que existe uma maneira eficiente de diminuir drasticamente essa taxa de mortalidade: submeter os atletas a eletrocardiogramas (ECGs).
Entretanto, a aplicação deste programa de exames tem gerado polêmica nos Estados Unidos.
Uma pesquisa de observação anterior, publicada em 2006, na revista da Associação Médica Americana (JAMA), confirmou a importância do rastreamento por eletrocardiograma (ECG).
Durante quase 30 anos, o Ministério da Saúde da Itália exigiu o exame em atletas de competições e mapeou os resultados. Através desses dados, a pesquisa concluiu que o eletrocardiograma reduziu em 89% as mortes por problemas cardíacos em atletas de 14 a 35 anos, uma taxa semelhante à de jovens da mesma idade que não eram atletas. O sucesso do método italiano levou a Sociedade Europeia de Cardiologia e o Comitê Olímpico Internacional a recomendar o ECG a todos os atletas nas competições. Porém, a Associação Americana de Cardiologia (AHA) recomenda apenas um histórico médico e um exame físico.
Muito embora a utilidade do exame preventivo para algumas doenças tenha sido amplamente discutida, o principal argumento contra os eletrocardiogramas em jovens atletas não é sua eficácia, e sim o alto custo em relação ao número de mortes que podem ser evitadas.
Esse argumento foi questionado esta semana em uma análise publicada na revista científica The Annals of Internal Medicine.
Com estimativas colhidas dos dados italianos, os autores deste novo estudo criaram uma simulação por computador de como os atletas americanos entre 14 e 22 anos seriam afetados pelo exame.
Eles descobriram que, em comparação com a ausência de qualquer exame geral, o rastreamento feito com um histórico médico e um exame físico salva somente 0,56 vidas por ano em cada mil atletas e custa cerca de 111 dólares por pessoa. Porém, o acréscimo de um ECG salvaria 2,06 mais vidas em cada mil atletas, a um custo adicional de 89 dólares por atleta, incluindo todos os exames secundários e o tratamento.
Isso faz com que o custo do ECG seja de 42,900 dólares por vida salva por ano, em média.
Outros especialistas ficaram impressionados com a pesquisa. "É um dos melhores argumentos que já vi a respeito do custo-benefício dos exames de ECG", afirmou o Dr. Robert J. Myerburg, cardiologista e professor de medicina da Universidade de Miami.
Mas alguns especialistas ainda estão em dúvida sobre a implantação do exame em larga escala nos Estados Unidos. "A maior parte dos estudos feitos com atletas relata que 90% das fatalidades cardíacas ocorrem em homens", afirma o médico Bernard R. Chaitman, professor de medicina da Universidade de St. Louis. "Portanto, o rastreamento de uma população inteira de atletas americanos não traria um bom custo-benefício; uma abordagem mais seletiva faria mais sentido."
O médico Euan A. Ashley, autor sênior do estudo, explica que, em qualquer que seja o caso, o fim da história não se resume ao custo-benefício. Ele afirma que, "mesmo que algo possua um bom custo-benefício, não significa que há dinheiro disponível para financiá-lo."
Um editorial publicado junto com o estudo observou que, entre outros problemas, a realização do exame somente com atletas poderia ser considerada discriminação. Assim, qualquer programa de exames enfrentaria o desafio de oferecer eletrocardiogramas para os 75 milhões de jovens com menos de 18 anos.
Se o esforço e o dinheiro gastos com o exame são válidos é uma questão puramente pessoal, como foi para as famílias de dois atletas adolescentes de Nova Jersey, mortos no ano passado por cardiomiopatia hipertrófica, uma condição que muito provavelmente seria descoberta se eles tivessem se submetido a um eletrocardiograma. Suas mortes motivaram pedidos de aprovação do exame cardiovascular.
A Associação Americana de Cardiologia (AHA), embora não se oponha ao rastreamento, não concorda com sua obrigatoriedade.
Para Ashley, professor assistente de medicina em Stanford, essa é uma posição sensata: "O que fizemos foi enquadrar os dados dos Estados Unidos utilizando as melhores estimativas dos efeitos na Itália", explica ele. "Essa é a resposta para a pergunta sobre o custo-benefício. Porém, grupos individuais e locais, escolas e faculdades que tenham em mãos essa informação podem tomar uma decisão racional sobre o uso dos eletrocardiogramas. (Fonte: por Nicholas Bakalar, The New York Times/Veja.com)
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