Uma amostra de 101 motoboys selecionados por conveniência participou de uma avaliação transversal incluindo um inventário dos acidentes de trânsito e infrações. Os diagnósticos psiquiátricos foram baseados em entrevistas clínicas semi-estruturadas. Foi encontrado que 75% dos indivíduos tem histórico de transtorno mental na vida sendo o transtorno por uso de substancias o mais freqüente (43,6% para álcool, 39,6% para maconha).
A presença de TDAH foi associada com um maior número de acidentes de trânsito (p = 0,002) e Transtorno de personalidade anti-social teve uma associação positiva com um maior número de infrações de trânsito (p = 0,007). Esses dados demonstram uma maior prevalência de distúrbios psíquicos nesta amostra, que no geral população. TDAH e Transtorno de Personalidade Antisocial, mas não Transtorno por uso de substancias, foram associados com resultados negativos no tráfego. Estes achados podem auxiliar no planejamento políticas de saúde mental visando a melhora no comportamento de condução e aumento a segurança do transito.
A seguir comentários de Raul Caetano, psiquiatra brasileiro radicado nos Estados Unidos, onde é diretor regional e professor de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas.
"Este artigo está enfocando um tema relevante para a saúde pública, tratando da relação entre doença psiquiátrica e acidentes de tráfego entre "motoboys". A alta prevalência de "motoboys" nas ruas de algumas grandes cidades do Brasil e a arriscada maneira como eles manejam suas motocicletas no trânsito diário faz com que seja importante saber mais a respeito das características desta população tão peculiar.
É especialmente relevante saber sobre características que possam explicar a alta percentagem de acidentes de trânsito a eles relacionada. O artigo em questão mostra claramente uma taxa de doenças psiquiátricas bastante elevada e uma associação clara entre acidentes, transtornos de atenção, e multas de trânsito e personalidade antisocial.
Estas duas associações não são surpreendentes. O que surpreende é a ausência de associação entre acidentes ou violações de regras de trânsito e abuso ou dependência de álcool ou outras drogas.
Isto porque sabemos que o uso de álcool, por sua alta prevalência e pela capacidade do álcool de inibir reflexos psicomotores está altamente associado a acidentes de trânsito. Quais então as possíveis explicações para este achado negativo? Para mim, duas explicações são importantes. Primeiro, e reconhecido pelos autores, a amostra é de "conveniência".
Ou seja, a amostra não é representativa da população total de motoboys. Isto pode ter introduzido um viés importante nos resultados do estudo. É possível que aqueles motoboys com história de abuso e dependência ao álcool ou outras drogas e com história de violações no trânsito ou acidentes não se tenham voluntariado para fazer parte da pesquisa.
Segundo, seria importante comparar motoboys com história positiva de abuso ou dependência ao álcool e outras drogas com uma amostra de controles normais, ou seja, controles sem nenhuma história de doença psiquiátrica. Estes controles devem ser escolhidos cuidadosamente, de modo a serem semelhantes aos "motoboys" no maior número possível de características, exceção feita à causa sendo pesquisada: abuso ou dependência ao álcool e outras drogas.
Independente destas limitações, o artigo em questão é muito importante, tratando de um assunto de saúde pública que merece atenção e que estará presente mais e mais nas grandes cidades do Brasil. (Fontge: ABEAD)
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