Pesquisar este blog

sábado, 17 de julho de 2010

VIGOREXIA

VIGORÉXICO, TAMBÉM?
Você malha pesado todos os dias, segue rigorosamente uma dieta de crescimento muscular, toma um monte de suplementos e ainda assim fica deprimido quando se olha no espelho, achando que não está tão sarado quanto poderia? Então, cuidado. O problema pode não estar no corpo, mas na sua cabeça. Dependendo da sua ânsia de construir um físico sarado, você corre o risco de ser uma vítima da vigorexia, distúrbio que afeta os malhadores compulsivos.
Conhecida também como síndrome de Adônis ou anorexia reversa, a doença é descrita por psiquiatras como um transtorno disfórmico muscular que atinge mais os homens. Por trás do nome pomposo existe uma patologia com características semelhantes às de outros transtornos obsessivos- compulsivos (como anorexia e bulimia) e que pode ter graves conseqüências físicas, de doenças cardiovasculares à esterilidade.
Seu principal sintoma é a preocupação exagerada com a aparência, mesmo quando já se tem um corpo sarado. Embora pratiquem exercícios compulsivamente e desenvolvam os músculos de forma exagerada - exibem braços gigantes, peitoral que parece explodir dentro da camiseta -, os homens afetados pelo problema vivem insatisfeitos com seu tamanho e querem ganhar mais massa.
O termo vigorexia foi cunhado pelo psiquiatra americano Harrison Pope, da Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), o primeiro a estudar o transtorno, nos anos 1990. Pope fez uma ampla pesquisa sobre a imagem que os homens têm deles próprios, a que achariam ideal para si e a preferida das mulheres. Os resultados mostraram que, ao projetar eu corpo ideal, os homens vítimas da síndrome queriam aproximadamente 13 quilos a mais de massa muscular do que tinham.
Entretanto, é preciso cautela para não confundir os vigoréxicos com os narcisistas marombados. "Em sua maioria, os vigoréxicos apresentam baixa estatura, são tímidos, perfeccionistas e têm problemas de auto-estima", afirma a psiquiatra paulista Jocelyne Rosenberg, especializada no assunto e autora do livro Lindos de Morrer: Dismorfia Corporal e Outros Transtornos Obsessivos (Editora Celebris, 112 págs). Buscam na academia uma saída para suas frustrações. Os músculos não param de crescer, mas, para eles, nunca é o suficiente. "Quando um vigoréxico se olha no espelho, vê a imagem de um corpo a ser aperfeiçoado. Daí a eterna insatisfação", diz Jocelyne. Segundo a psiquiatra, na adolescência muitos deles sofreram atos agressivos praticados entre estudantes. Assim, quando crianças, foram intimidados ou humilhados por serem magros ou baixinhos.
Um levantamento de Harvard, nos Estados Unidos, mostra que a vigorexia atinge 11% dos americanos que freqüentam regularmente academias de ginástica. No Brasil, não há estatísticas sobre o problema, mas os especialistas estimam que o grau de incidência é semelhante por aqui.
A falta de informação é a principal causa para o desenvolvimento do transtorno, principalmente entre os jovens - calcula-se que 60% dos vigoréxicos têm entre 14 e 26 anos, embora não exista uma idade-limite para que o problema se manifeste. Esses jovens percorrem um ciclo repleto de armadilhas. A primeira é o próprio ambiente das academias, propício a comparações. Decidida a atingir bíceps maiores que o do cara no aparelho ao lado, a vítima não respeita o nível máximo do corpo. Como sempre se acha inferior aos colegas de malhação, exagera na carga de exercícios. A compulsão e a pressa em queimar etapas do treinamento, ignorando os intervalos necessários para a recuperação do organismo, prevalecem sobre o cansaço e o bom senso. É comum que, nesse estágio, o candidato a Hércules comece a manifestar sintomas de estresse, como irritação ou angústia. A preocupação com o corpo o leva a se afastar dos amigos, da namorada, das baladas e de todos os compromissos que possam atrapalhar seus treinos, que vêm sempre em primeiro lugar.
É raro o vigoréxico admitir que precisa de ajuda. O apoio da família, do instrutor da academia e dos amigos é fundamental para o tratamento.
A resistência em assumir o problema é a maior dificuldade para que uma vítima da síndrome se trate. O motivo não tem a ver com auto-suficiência ou orgulho ferido. A doença não se manifesta da noite para o dia - é reflexo de um hábito tido socialmente como saudável, o de fazer exercícios, que se torna uma obsessão sem que a própria pessoa perceba. "O vigoréxico geralmente é disciplinado e perfeccionista, o que dificulta pessoas próximas de notar que há algo de errado, pelo menos no estágio inicial em que o distúrbio se manifesta", afirma a psiquiatra paulista Jocelyne Rosenberg.
A timidez, outra característica do perfil do vigoréxico, agrava o problema. O isolamento a que ele próprio se impõe ao desenvolver o transtorno contribui para que se mantenha alienado da situação. E mesmo quando os amigos ou a família detectam os sintomas de comportamento obsessivo, a reação natural do vigoréxico é não admiti-lo.
Recentemente, o Hospital das Clínicas de São Paulo ofereceu um programa de tratamento gratuito para a vigorexia. Mesmo com ampla divulgação da mídia, apenas seis pessoas foram inscritas - quatro delas pelos pais. Os filhos nunca compareceram. "A maioria só procura ajuda depois de levar um susto, como a manifestação de um problema físico grave causado pelo excesso de exercícios ou uso de anabolizantes", assegura o personal trainer Rafael Sales.
A ação das pessoas próximas que acompanham a rotina do vigoréxico é essencial para ajudá-lo. "Primeiro, é preciso consultar um médico para fazer uma avaliação clínica rigorosa", afirma o urologista José Milfont. "O passo seguinte é procurar ajuda de um psiquiatra ou psicólogo." Quem não possui recursos para bancar um tratamento tem pouca opção na rede pública - a justificativa é que a vigorexia é um transtorno recente e pouco conhecido no país. Em São Paulo, um hospital da universidade pública oferece atendimento gratuito a vigoréxicos: Centro de Estudos em Psicologia da Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo, tel. (11) 3064-3186. (Fonte: João Marcos Mendonça - revista Men's Health)

2 comentários: