FUMICULTORAS QUE TRABALHAM UNIDAS, ADOECEM UNIDAS! |
Há atualmente 80 mil crianças trabalhando nas lavouras de fumo da Região Sul do país. Além delas, os familiares, aproximadamente 1 milhão de trabalhadores, vivem em condições semelhantes à de escravos. A constatação é do Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Segundo uma investigação de cerca de dez anos a que o jornal Correio Braziliense teve acesso, esses agricultores produzem quase que unicamente para quitar dívidas com as empresas que os contratam, obtendo apenas o mínimo para a subsistência.
A relação entre as empresas e os agricultores vira escravidão, segundo o Ministério Público, por meio de financiamentos. A indústria pega o empréstimo em nome do produtor, vende os insumos para ele e com o dinheiro que o agricultor deveria receber pela safra, quita a dívida com o banco. Enquanto o débito não é pago, o homem do campo tem de continuar a produzir.
"Normalmente, a empresa fornece esses insumos e é avalista de crédito. Em contrapartida, assume o compromisso de comprar toda a safra. Quando a indústria recebe a produção, libera parte do pagamento ao produtor e retém a parcela do banco. Eu desconheço que isso possa se comparar a uma relação escrava. É apenas um contrato comercial", garante Heitor Petri, vice-presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), também citada pelo Ministério Público.
O pesquisador do Deser discorda da avaliação de Petri. "Em nenhum momento do financiamento o agricultor vê o dinheiro", afirma Amadeu Bonato. "Em uma pesquisa recente constatamos que 73% dos agricultores não continuariam produzindo se tivessem outra opção. Falta mão de obra e não há dinheiro suficiente. Acontece o conflito dos quereres: ele quer sair, mas não pode. Está preso à produção de fumo. Tem de continuar produzindo para pagar a dívida senão vai ser processado e pode perder seu único bem, a propriedade em que planta fumo e vive com a família", argumenta.
No caso dos financiamentos para investir nas propriedades, a relação é de longo prazo. "A empresa faz um financiamento e constrói uma estufa, por exemplo. Ela mesmo paga o pedreiro e os equipamentos. O produtor paga a fumageira de forma parcelada, por um financiamento, o que significa que ele fica amarrado com a empresa por 10 ou 20 anos", explica Amadeu Bonato. (Fonte:porummundosemtabaco)
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