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sábado, 15 de janeiro de 2011

ATENDIMENTO PRIMÁRIO À SAÚDE MENTAL

A detecção e tratamento precoce, na atenção primária, dos transtornos mentais da população ainda é o desafio do atendimento público à saúde mental no país. O aumento da incidência na população – cerca de 25% dos atendimentos nos serviços de saúde – exige que a atenção primária disponha de médicos clínicos capacitados para essa demanda. Além disso, são necessários maior proximidade do atendimento psiquiátrico com a comunidade, qualificação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e conexão com o Programa Saúde da Família, desenvolvimento de tecnologias adequadas ao contexto brasileiro, trabalho em equipe (matriciamento), implementação de mudanças organizacionais nos serviços, com metas de atendimento, e o treinamento dos psiquiatras para lidar com a atenção primária.
O papel dos médicos e das equipes multidisciplinares nos Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASF), Programa Saúde da Família (PSF) e Unidades Básicas de Saúde (UBS) foram debatidos durante o Simpósio Psiquiatria Social e Comunitária, realizado no dia 27 de novembro, na delegacia regional da Vila Mariana do Cremesp.
O evento foi organizado pela Câmara Técnica de Saúde Mental do Cremesp, sob a coordenação do primeiro secretário Mauro Aranha, e por Rodrigo Fonseca Martins Leite, supervisor técnico de Saúde Mental da Associação Congregação de Santa Catarina.
De acordo com Mauro Aranha, o Simpósio se propôs a levar a medicina psiquiátrica, em grande parte instruída por técnicos e pela hiperespecialização, às comunidades menos favorecidas socioeconomicamente e propiciar que os médicos dialoguem melhor, com uma linguagem e um saber mais próximos à realidade do paciente. “Se eles atuarem justamente em áreas de maior vulnerabilidade social, saberão o que essa população está precisando e não apenas o que resulta de pesquisa. A questão passa também por gestão pública, política de incentivos para médicos e pela formação universitária do profissional, que precisa estar mais presente nas UBS e NASF”, diz. O evento contou com a presença de psiquiatras, clínicos gerais, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, estudantes e pacientes.
Integração das equipes
O psiquiatra Leon de Souza Lobo Garcia enfatizou as razões históricas e tendências atuais da saúde mental na atenção primária, afirmando que a integração de equipes começou a acontecer a partir da instituição dos NASF.
Leite deu um panorama da cobertura dos serviços públicos de saúde e lembrou que a exposição à violência e a eventos estressores, consumo de substância psicoativas e o envelhecimento da população, entre outros fatores, têm contribuído para aumentar os transtornos mentais na população. Por outro lado, o médico da atenção primária tem sobrecarga de trabalho e atua por vezes sem especialização adequada para o atendimento psiquiátrico.
A inexistência de indicadores de qualidade e avaliação sistemática, a polarização ideológica X evidências científicas e a falta de referência de outras unidades nacionais e internacionais são algumas das dificuldades na administração dos serviços de saúde mental, apontadas por Leite, que atua nas áreas de Pedreira e Cidade Ademar.
Na mesa redonda sobre gestão, Renato José Vieira, coordenador do pronto-socorro e supervisor de psiquiatria do Hospital M’Boi Mirim, dividiu com os presentes os dilemas ocasionados pelas três vertentes de difícil administração: facilidade de acesso, qualidade de atendimento e custo reduzido.
Já Renério Fráguas Filho, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, indicou algumas pistas para o treinamento das equipes a partir dos instrumentos para detecção de depressão pelo médico generalista, enquanto Paulo Rossi Menezes, professor de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, abordou as evidências científicas em psiquiatria social e comunitária fornecidas pela epidemiologia no debate moderado por Luizemir Wolney Carvalho Lago, coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde de São Paulo.
No debate sobre Reabilitação Psicossocial, Renato Luiz Marchetti, coordenador do Projeto Epilepsia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) apresentou a questão do estigma e da psicoeducação e a experiência de seu trabalho no hospital.
Também foram expostos os atendimentos no CAPS e no modelo Hospital Dia, respectivamente por Mário Dinis Martins Lameirão Mateus, psiquiatra do setor de avaliação de serviços e políticas de saúde mental do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp, e Renato Del Sant, diretor do Hospital Dia de Adultos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas FMU/USP.
(Fonte: sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=9049)

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